Desejos & Pensamentos por Cátia Neves

Amar é crónico 

O despertador toca, mais uma manha que se avizinha igual a todas as outras. Duche rápido, pequeno almoço a correr, comprar o jornal no quiosque habitual e pés à estrada para não perder a hora de entrada no trabalho. Esse tal que amo de paixão. Sempre foi o meu sonho trabalhar num grande jornal de retirada diária, a azáfama com que as noticias são criadas, um mistério que não nos deixa adivinhar qual será a grande novidade do dia seguinte.  


Espreito pela janela e avizinha-se uma chuvada louca, o cenário perfeito para um dia de namoro à lareira, com um bom vinho e umas mantas quentes. Já não sei o que é isso desde que o Pedro decidiu que a secretária do escritório tinha mais tempo livre que eu e fez as malas de vez, saindo cá de casa sem deixar nem um bilhete. Mas uma pequena trovoada distrai-me deste pensamento, calço as minhas galochas Hunter e ponho-me a caminho.
O vento está forte, tenho a pasta já toda molhada, tenho de perder este louco vicio de não gostar de trazer chapéu de chuva, poupava-me a maquilhagem borrada, o cabelo colado à cabeça e principalmente ter de rescrever todos estes papeis. Corro pelo passeio em direcção à banca de jornal, as poças de água acumulam-se no chão e o inevitável acontece.
- Meu grande Cabrão!
- Peço imensa desculpa!
Um tipo todo pintas, montado num belo carro lembrou-se que tinha um acelerador e agora não à parte de mim que não tenha visto água. E ali estou eu, debaixo de chuva, numa manhã de Janeiro, acabadinha de ser atingida por uma poça de água e por um tipo que meu Deus, pode ser um grande bronco, armado em finório mas enche as medidas a qualquer mulher.
- Deixe-me ajuda-la.
- Oiça lá, não sabe ter mais cuidado. Já viu bem o meu estado?!
- Deixe-me dar-lhe boleia até casa para que se troque.
- Trocar?! Acha que disponho desse tempo? Leve-me já para o trabalho.
Sem pensar duas vezes, enfiei-me no carro do desconhecido pintas e fui-lhe indicando o caminho até à baixa da cidade enquanto para meu espanto tivemos uma conversa bastante agradável.
Há chegada o Henrique pediu-me que trocássemos contactos e lá lhe dei o meu e-mail para não tornar a coisa demasiado pessoal.
Nesse mesmo dia recebi um e-mail seu e assim fomos continuando até chegar à troca de números de telefone e aos jantares no miradouro de Santa luzia. Este desconhecido entrou na minha vida por um contratempo e agora sentia-me feliz com isso.
Estou apaixonada, nada mais há a fazer. O amor está em mim, por mais que fuja, por mais que tente, não resisto a viver um grande amor e também porque devia fazê-lo? Amar é das coisas mais belas da vida, vamos entregar-nos de corpo e alma aos sentimentos e vive-los. E se não acertarmos à primeira, vamos tentar de novo porque o que não nos mata, certamente deixa-nos mais fortes e mais atentos.


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