Desejos & Pensamentos por Cátia Neves

Páginas de mim

Em pequena a minha mãe sentava-me perto da janela e deixava-me comer bolo de brigadeiro, contava-me histórias de encantar e entre príncipes e princesas nada me deixava mais feliz do que aquela sensação de ser livre para sonhar... O tempo passa, hoje sou eu que sozinha me sento tantas vezes perto da janela e recordo o tempo em que acreditava nos príncipes e princesas que pintavam sensações e arrancavam sorrisos de mim...


Mas o sabor do brigadeiro nunca mais foi o mesmo desde que perdi a inocência dos meus sonhos e das minhas histórias. Bem... Pensava eu que nunca mais o sentiria.
Alto, moreno com olhos cor de mar, um velho conhecido que coincidência ou não fez parte da minha infância tantas vezes quantas o destino permitiu. Por mais voltas que déssemos acabávamos por nos encontrar, mesmo se nos conhecermos, mesmo sem uma palavra trocar. Parece uma história estranha e complicada mas ninguém disse que um bom e verdadeiro bolo de brigadeiro era fácil de fazer.
Trocamos as primeiras palavras já adultos, vividos, marcados por histórias que fazem parte das nossas recordações e formaram o nosso carácter e mesmo essas palavras não foram para nos juntar, unir, marcar. Bateram-se os ovos e o açúcar, talvez as claras em castelo mas não passou disso.
O destino, aquele que sempre me pareceu demasiado cinematográfico para a vida real, começa a mexer nas minhas crenças e a fazer-me questionar realmente a sua existência e começa a mostrar-me quem tem muitas surpresas reservadas para mim.
Estávamos em Novembro, uma noite fria e aparentemente igual a tantas outras, quase sem perceber porque, guiada talvez por uma força que desconheço juntamos farinha e fermento e começamos a unir um bolo que prometia desde aquele momento ser dos melhores e mais doces de todas as nossas vidas. Começou a ser diária a nossa troca de palavras, conversas até ao amanhecer, troca das mais pessoais e intimas coisas. Sorrisos apenas com uma palavra. Um olhar…uma certeza…
Sentimento que me fariam andar de norte até sul por apenas um beijo ou abraço. Estar apaixonado é um sorriso sem saber porque, uma falta de ar tão boa como seria certamente a sensação de poder voar que inconscientemente tantas vezes sentimos possuir. Estar apaixonado é outra coisa, talvez sem explicação, sem porquês, sim ou “sopas”. Estar apaixonada por ti é a melhor coisa que me aconteceu. E agora só falta por o chocolate e os últimos retoques. Depois de pronto espantei-me como era igual de sabor como o da minha infância. Há bolos que sabem a sonhos e realidades que são melhores que bolos com sonhos.
Adoro-te além fronteiras



Cátia Neves 
Lisboa 

Outros textos da autora: 
Pilhas de Amor

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