Chefes da urgência do hospital de Almada demitem-se

"Risco nas urgências e segurança dos doentes atingir um ponto inaceitável"

Os sete chefes das urgências do hospital Garcia de Orta, em Almada, enviaram uma carta ao conselho de administração onde apresentaram a sua demissão. Em causa estão o "agravamento das condições de trabalho" e também pelo facto do "risco nas urgências e segurança dos doentes atingir um ponto inaceitável". Nas últimas semanas morreram duas pessoas no serviço de urgência do Hospital Garcia de Orta. Os médicos garantem que já tinham alertado a administração, em Dezembro, para as condições do serviço. Segundo noticia o semanário SOL, os médicos justificam ainda a "demissão colectiva" com o facto de não terem sido ouvidos nas recentes medidas de alteração organizativa do Serviço de Urgência do maior hospital do Distrito de Setúbal. Segundo a administração do hospital, já estão a ser tomadas medidas para "fazer face ao aumento nos internamentos" e "outras medidas concretas" serão anunciadas durante esta terça-feira. 
Chefes da urgência do  Garcia de Orta  criticam administração

Os responsáveis pelo serviço de urgência do Hospital Garcia de Orta, em Almada, demitiram-se em bloco. A notícia foi avançada na edição online do semanário Sol, que teve acesso à carta que os sete de elementos da chefia daquela serviço enviaram ao conselho de administração do hospital, e, entretanto, confirmada à Lusa por uma fonte da administração, que garantiu que estão a ser tomadas medidas para ultrapassar a situação.
De acordo com aquele jornal, os médicos alegam o "agravamento das condições de trabalho" e dizem ainda que "o risco do ato clínico no serviço de urgência e a segurança dos doentes atingiu um ponto crítico e inaceitável".
Na missiva, os chefes do serviço de urgência dão ainda conta de que já a 4 de Dezembro tinham alertado a administração do hospital para deterioração do serviço e vincam que a demissão coletiva prende-se igualmente com o facto de não terem sido ouvidos nas alterações à organização do serviço de urgência.
Essas medidas, reforçam, "não só não resolveram os problemas citados como ainda criaram constrangimentos adicionais, quer do ponto de vista clínico, quer no aspeto de relacionamento interpares, quer do ponto de vista da capacidade de organização e gestão da equipa de urgência".
Nomeadamente, a “excessiva lotação de doentes internados em área de internamento do Serviço de Urgência, que frequentemente ultrapassa os 200 por cento, com óbvia repercussão nos cuidados prestados aos mesmos, condicionando a admissão de novos doentes agudos, assim como na observação de doentes na área de ambulatório” e “um elevado número de doentes com situações infecciosas  que impõem necessidades de condições de isolamento físico, o que, na impossibilidade do mesmo, condicionam acréscimo do risco colectivo”.

Administração anuncia medidas esta terça-feira 
Segundo a administração do hospital, já estão a ser tomadas medidas para "fazer face ao aumento nos internamentos" e "outras medidas concretas" serão anunciadas durante esta terça-feira.
Sobre se a demissão dos médicos vai afectar o funcionamento dos serviços de urgência do maior hospital do Distrito de Setúbal, a administração hospitalar compreende as necessidades dos médicos e que “serão tomadas medidas para resolver a situação”.
A fonte da administração admitiu a possibilidade de os médicos poderem vir a recuar no pedido de demissão, tendo em conta as medidas que vão ser tomadas.
“Não haveria (recuo no pedido de demissão) se as condições difíceis não fossem reversíveis, mas as condições são reversíveis”, salientou, lembrando que a situação do aumento do número dos doentes é generalizada em todos os hospitais.
“Estas dificuldades neste hospital não são excepção. Há medidas que vão ser tomadas para resolver a situação”, concluiu a fonte da administração do Garcia de Orta contacta pela Lusa.
Recorde-se que, dos oito mortos registados nas últimas semanas nas urgências hospitalares de todo o país, duas verificaram-se no serviço de urgência do hospital de Almada. A 11 de Janeiro (um homem de 60 anos, após enfarte, que esperou três horas na urgência) e a 17 deste primeiro mês do ano, uma idosa de 89 anos que esperou mais de oito horas numa maca, acabou por morrer. 

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