Margem Sul tem nova “maternidade”: ambulâncias da Moita já receberam 15 bebés

Falta de médicos e urgências fechadas transforma ambulâncias em salas de parto sobre roda

Na madrugada desta segunda-feira, uma bebé chamada Nariel veio ao mundo de forma inesperada - dentro de uma ambulância dos Bombeiros da Moita, junto às bombas da Galp da Baixa da Banheira. O parto ocorreu às 03:43, a caminho do Hospital Garcia de Orta, em Almada, elevando para 15 o número de nascimentos em ambulâncias registados pela corporação apenas este ano.

Bombeiros continuam a fazer partos em ambulâncias 


O comandante Pedro Ferreira contou à SIC Notícias que o alerta chegou “pouco depois das 2h30”. “Fomos à casa da futura mãe, na Baixa da Banheira, e seguimos para o Hospital Garcia de Orta, uma vez que a urgência do Barreiro estava encerrada por indicação do CODU”, explicou.
Contudo, “a vida não espera”. A meio do caminho, na A33, o parto tornou-se inevitável. “Tivemos de fazer a assistência junto a um posto de abastecimento”, descreve o comandante. O nascimento foi assegurado pelos próprios bombeiros, sem necessidade de ativar a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER).
Pedro Ferreira sublinha que a distância até Almada é uma dificuldade adicional: “Se a urgência do Barreiro estivesse aberta, o transporte demoraria cinco minutos. Para o Garcia de Orta, são 20 a 25 minutos. É uma diferença que pode ser decisiva”. 

Uma “nova maternidade” com rodas e sirenes
Na Península de Setúbal, há quem diga, meio a brincar e meio a sério, que nasceu uma nova maternidade: as ambulâncias dos Bombeiros da Moita. Só este ano, 15 bebés viram a luz do dia nas viaturas de socorro.
Mas a piada tem pouco de divertido. A falta de especialistas nos hospitais de Setúbal, Almada e Barreiro é alarmante e continua sem um final à vista. Do Estado central, persistem as promessas, mas faltam respostas eficazes. E, enquanto as portas das urgências continuam a fechar, as sirenes assumem o papel de berço improvisado.

“Menos um meio para socorrer 70 mil pessoas”
Pedro Ferreira alerta que este cenário sobrecarrega o socorro local. “Quando levamos uma grávida até Almada ou Lisboa, é menos uma ambulância que fica no concelho. E isso afeta o socorro a cerca de 70 mil pessoas”. 
Há apenas duas ou três semanas, duas ambulâncias da Moita deslocaram-se a Lisboa durante a noite com grávidas em trabalho de parto. “Ficámos desguarnecidos, e isso não deveria acontecer”, lamenta o comandante.

Partos em ambulâncias disparam em 2025
Segundo o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), entre 1 de Janeiro e 14 de Setembro já foram registados 32 partos em ambulâncias - mais do que em todo o ano de 2024.
Em 2022 houve 25 partos deste tipo, em 2023 apenas 18 e, em 2024, 28. Aos números oficiais somam-se ainda dois casos recentes assistidos pelos Bombeiros da Moita.
Considerando todos os contextos pré-hospitalares - ambulâncias, via pública e domicílios - o INEM contabilizou 154 partos até meados de Setembro. Nos anos anteriores, foram 169 em 2022, 173 em 2023 e 189 em 2024.
O instituto recorda que os partos fora do hospital “sempre existiram”, mas admite que a tendência crescente pode refletir dificuldades de acesso e encerramentos temporários das urgências.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2024 nasceram 84 059 bebés em Portugal.

Agência de Notícias 
Fotografia: Bombeiros da Moita 


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