Mortalidade infantil cresce na Península de Setúbal e levanta alertas

Barreiro, Almada Seixal e Moita concentram números mais preocupantes na mortalidade infantil

A mortalidade infantil voltou a subir em Portugal, com destaque para a Península de Setúbal. Embora os valores nacionais se mantenham baixos em comparação com outros países europeus, o aumento de 20 por cento em apenas um ano está a lançar sinais de alerta sobre a qualidade e a acessibilidade dos cuidados de saúde materna e infantil nos três hospitais de referência no distrito [Almada, Setúbal e Barreiro], possivelmente relacionado com a crise nos serviços de obstetrícia.
Subida da mortalidade infantil preocupa especialistas

Na Península de Setúbal, a mortalidade infantil aproxima-se dos 4 óbitos por cada mil nados-vivos, valores idênticos aos registados nos Açores. Concelhos como Barreiro (4,8), Almada (4,2), Seixal (3,9) e Moita (3,7) destacam-se pela gravidade dos números. A Amadora surge igualmente em evidência com 4,1/1000, ocupando o terceiro lugar entre os concelhos da Área Metropolitana de Lisboa.
Em Almada, a taxa aumentou 56 por cento face ao quinquénio anterior, passando de 2,7 para 4,2/1000. Situação semelhante observa-se em Cascais (de 2,4 para 3,0) e Palmela (de 1,1 para 1,7).
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que, em 2023, morreram cerca de 3 bebés por cada mil nados-vivos em Portugal - um crescimento de 20 por cento em relação ao ano anterior. Nos primeiros sete meses de 2024, a tendência manteve-se: registaram-se 133 óbitos de crianças com menos de um ano, entre 49 684 nascimentos, o que corresponde a 2,7/1000.
Ao longo dos últimos cinco anos (2020-2024), nasceram quase 420 mil bebés no país e mais de 1,1 mil morreram antes de completarem um ano, perfazendo uma taxa média de 2,6/1000.

Neonatais em foco: os primeiros 28 dias
Entre 2020 e 2024, a taxa de mortalidade neonatal (até aos 28 dias de vida) manteve-se estável nos 1,7/1000, equivalente a cerca de 710 óbitos nesse período. Ainda assim, há desigualdades: os Açores lideram com 2,9/1000, seguidos da Península de Setúbal (2,1) e do Alentejo (2,0). Dentro da Área Metropolitana de Lisboa, Seixal (3,1), Amadora e Moita (2,5 cada) registam os piores indicadores.

Especialistas apontam causas e pedem respostas
A Direção-Geral da Saúde nomeou, em Janeiro, uma comissão para analisar os casos e identificar os fatores associados ao aumento da mortalidade infantil. Entre as possíveis causas estão o envelhecimento materno, o crescimento das gravidezes múltiplas e as desigualdades geográficas no acesso aos serviços de obstetrícia, agravadas pela crise nas urgências hospitalares.
Apesar da subida, Portugal continua entre os países europeus com taxas mais baixas de mortalidade infantil. No entanto, os especialistas defendem que cada caso deve ser cuidadosamente avaliado para evitar retrocessos nos ganhos de saúde alcançados nas últimas décadas.

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