Setúbal exige fim de descargas ilegais na Mourisca

Autarcas de Setúbal denunciam "crime ambiental" na zona da Mourisca

O presidente da Câmara de Setúbal exigiu a intervenção das autoridades do ambiente para acabar com as causas das descargas industriais que estão a poluir as linhas de água na zona da Mourisca, nomeadamente a Vala Real. Há quatro meses que os moradores da Freguesia de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra se queixam do mau cheiro que se faz sentir nos terrenos junto ao Centro Empresarial Sado Internacional. Análises químicas já realizadas pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas descartam a possibilidade de contaminação por resíduos domésticos, apontando para a alteração da qualidade do ar e da água pelos resíduos não tratados da intensa atividade industrial existente no local. O presidente da Câmara de Setúbal, André Martins, já visitou o local por duas vezes e classificou de "crime ambiental" o que está ali a acontecer, garantindo que caso a situação não seja resolvida, a autarquia irá acionar "as medidas legais para repor a normalidade a que as pessoas que ali vivem têm direito". 
Descargas preocupam população e autarcas 

O problema começou no final de Maio, quando as águas da Vala de Brejos de Canes começaram a ficar negras e o mau cheiro invadiu as vidas de quem mora na zona. Em causa, estão descargas de resíduos não domésticos oriundos do Centro Empresarial Sado Internacional.
"Isto é um crime ambiental que está identificado. Sabe-se quem faz as descargas, mas as entidades competentes ainda não tomaram as medidas que há muito deveriam ter tomado para acabar com a situação", declarou  André Martins, numa ação de protesto promovida pela Junta de Freguesia de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra junto ao local onde desagua a Vala de Brejos de Canes, na zona da Mourisca.
Na visita de dia 3, o autarca de Setúbal já havia dado conta do "cheiro nauseabundo que, desde há alguns meses, incomoda e prejudica as populações daquela zona", deixando a garantia de que "caso não sejam cumpridas as determinações da entidade competente, que, neste caso, é a APA, a câmara municipal acionará as medidas legais para repor a normalidade a que as pessoas que ali vivem têm direito". Ontem lamentou que a situação se arraste desde maio "sem que as entidades competentes tenham tomado as necessárias e urgentes medidas".
Ao Diário de Notícias, a Agência Portuguesa do Ambiente disse ter tido conhecimento desta situação a 12 de julho, garantindo que "com base nas diligências já efetuadas a contaminação verificada na linha de água tem origem dentro do Centro Empresarial Sado Internacional, com descargas não pontuais mas sim continuadas justificando o grau de contaminação da linha de água ao longo de 1,8 km, não sendo evidente a existência de outras fontes de poluição".
A APA adiantou ainda que já efetuou três diligências, sendo uma delas uma ação de fiscalização conjunta com o GNR/SEPNA, "tendo sido efetuada recolha de amostra dos efluentes líquidos rejeitados numa linha de água sem denominação, afluente da margem direita do Rio Sado, a qual nasce no Vale de Ana Gomes e corre para Sul, percorrendo a Vala do Brejo de Canes e desaguando no Esteiro do Moinho (estuário do Sado)". 
"Os resultados indiciam que a origem das descargas não é de origem doméstica conjugando este facto com o valor baixo de pH e os valores altos da condutividade, pode inferir-se que as descargas são de origem industrial e possuem uma carga orgânica bastante elevada". Foi ainda feita uma ação de fiscalização conjunta, na sequência dos pedidos de colaboração da Câmara de Setúbal e da Águas do Sado, tendo depois sido notificada a gerência do Centro Empresarial Sado Internacional, "para providenciar a imediata cessação das rejeições".
O presidente da Junta de Freguesia de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra lamenta “a grande passividade da APA” neste processo e exigiu que a entidade tome uma posição imediata para que os moradores da zona da Mourisca retomem a normalidade.
“A população está a sofrer. É muito difícil viver aqui. Além disso, o rio Sado tem uma atividade de piscicultura e de produção de ostras que pode ser colocada em causa por negligência e falta de respeito por parte do centro empresarial”, disse Luís Custódio. 

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