Poeira negra que cobre Paio Pires não é nociva

Estudo revela que pó nas varandas e automóveis não é perigoso 

As partículas negras que cobrem a Aldeia de Paio Pires, no Seixal, foram estudadas pelo Instituto Superior Técnico, que concluiu que têm uma composição semelhantes “às encontradas numa zona industrial”. Mas são precisos mais estudos para determinar com certeza a fonte de emissão. Segundo o estudo, "o pó depositado nas varandas e nos automóveis em Paio Pires, perto da siderurgia, não constitui perigo para a saúde, mas não foram analisadas as partículas mais pequenas e potencialmente perigosas.". As conclusões da pesquisa pedida pela Câmara do Seixal foram apresentadas nas instalações do Clube do Pessoal da Siderurgia Nacional.
Poluição  no limite legal dizem especialistas 

"Uma coisa muito importante e que é preciso ficar bem clara, é que as partículas que analisámos têm uma grande granulometria, uma dimensão muito elevada. Não são partículas que penetrem muito profundamente no aparelho respiratório, elas não penetram e, portanto, não têm perigosidade, não representam um problema [para a saúde das pessoas]", disse Marta Almeida, autora do estudo encomendado pela Câmara do Seixal ao Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares do Instituto Superior Técnico.
Marta Almeida falava perante algumas dezenas de pessoas no Clube de Pessoal da Siderurgia Nacional para dar a conhecer os resultados das análises efetuadas por um laboratório especializado na Hungria às amostras recolhidas no final do ano passado na aldeia de Paio Pires.
"O que verificamos é que é um pó com uma granulometria muito elevada, ou seja, um diâmetro muito elevado, o que significa que a sua origem está aqui muito próxima, porque as partículas com um diâmetro muito grande não conseguem permanecer muito tempo na atmosfera e não percorrem grandes distâncias".
"Quando comparamos a composição dessas partículas com partículas recolhidas em zonas rurais e zonas urbanas com siderurgia, as características das nossas partículas assemelham-se mais às características de uma zona industrial com siderurgia. Parece-nos que a fonte destas partículas se localiza no parque industrial, mas interessa-nos saber exatamente qual é a fonte concreta destas partículas", acrescentou.
Marta Almeida referiu ainda que este estudo é apenas o primeiro de um trabalho com outras etapas a desenvolver nos próximos meses, com o objetivo identificar a origem deste foco de poluição, mas também avaliar outro tipo de partículas mais pequenas, que, essas sim, podem ter consequências para a saúde pública.
"A nossa ideia é contactar as empresas do parque industrial, conseguir fazer uma amostragem de materiais que estão no parque industrial e comparar as características desses materiais com o pó que nós recolhemos, para tentar identificar, sem dúvida, qual é a fonte desse pó", disse.

Câmara quer mais estudos
Segunda Marta Almeida, está igualmente prevista "uma amostragem de partículas PM 2.5 (mais pequenas), aquelas que realmente fazem mal à saúde, fazer a sua caracterização química - que nos diz muito acerca da fonte de poluição - e utilizar modelos para conseguir perceber qual é a contribuição das fontes".
"A terceira [aproximação] é perceber qual é a distribuição geográfica dos poluentes, utilizando técnicas de biomonitorização. E aqui queremos saber qual é o alcance destas partículas que estão a afetar a zona. Utilizamos líquenes e folha de morangueiro (que têm grande capacidade de absorção dos poluentes). É uma aproximação muito interessante porque vai envolver a população", acrescentou.
O vereador e vice-presidente da Câmara do Seixal, Joaquim Tavares, justificou a decisão do município de fazer este estudo com a ausência de respostas por parte de diversas entidades da administração central.
"Face a essa inércia do poder central, a Câmara Municipal decidiu substituir-se ao poder central", disse Joaquim Tavares, salientando que além do estudo que hoje foi apresentado, e que será aprofundado nos próximos meses, está também a decorrer um estudo epidemiológico, que está a ser feito pela Escola Nacional de Saúde Pública em parceria com o Instituto Ricardo Jorge, que deverá estar concluído no próximo mês de Junho.
Descontentes com a falta de soluções para o problema do pó, alegadamente proveniente da siderurgia do grupo espanhol Megasa, no parque industrial de Paio Pires, o grupo cívico Os Contaminados decidiu, no passado mês de Março, colocar uma ação em tribunal contra o Estado para "fazer respeitar as normas ambientais".

Agência de Notícias com Lusa 

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