Moradores recolhem provas de poluição em Paio Pires

Deputados da comissão parlamentar de Ambiente visitam Siderurgia Nacional na sexta-feira 

O grupo Os Contaminados está a recolher provas da alegada poluição causada pela Siderurgia Nacional, na Aldeia de Paio Pires, no Seixal, apelando aos moradores para guardarem amostras de pó negro e para não lavarem as viaturas, informou o administrador. “O objetivo deste apelo é constituir prova física, para mostrar os níveis de poluição que nos afeta. Essas provas acompanharão a ação popular que vamos apresentar no tribunal e têm também a finalidade de mostrar à delegação de deputados que nos visita na sexta-feira para que veja como é a vida real”, disse João Carlos Pereira, do grupo de moradores. Na sexta-feira, pelas 15 horas, deputados da comissão parlamentar de Ambiente visitam a Siderurgia Nacional no Seixal e reúnem-se com o presidente da Câmara do Seixal, com a Junta de Freguesia de Paio Pires e com o grupo Os Contaminados.
População queixa-se poluição da SN Seixal 

A este propósito, o grupo de moradores lançou um apelo na página do Facebook para que a população não lave as viaturas, recolha amostras de limalhas e pó negro e que as entregue até dia 14 de Fevereiro na Sociedade Musical 5 de Outubro, para que a poluição que afeta a localidade seja visível.
Esta é uma ação importante, segundo João Carlos Pereira, porque a Siderurgia Nacional, detida pelo grupo espanhol Megasa, “já lavou todas as ruas” e no dia da visita “vai estar a trabalhar a 0,5 por cento”.
“Na sexta, os deputados vão visitar a fábrica e vai estar tudo bem. Vai ser muito semelhante ao palácio da gata borralheira no dia em que foi experimentar o sapatinho”, afirmou o morador à Agência Lusa.
É por este motivo que, Os Contaminados vão tentar transmitir em reunião com a comissão parlamentar “como é a vida cá fora” e convidar os seus elementos a dar uma volta pela freguesia para que possam “falar com os poluídos”.
Alguns moradores mostraram vontade de realizar um protesto em frente à Siderurgia Nacional na sexta-feira, porém, Os Contaminados demarcaram-se de qualquer manifestação que possa existir.
“Não convocamos nenhuma manifestação. Nunca iríamos convocar uma ação destas sem termos atrás de nós a vontade expressa da maioria da população, sem falarmos com as pessoas, propormos o movimento e sem sabermos se aceitam ou não. Assim não há expressão”, explicou.
João Carlos Pereira relevou também que o grupo já tem “muitas amostras”, desde recolhas de poeiras, imagens e vídeos.

Associação entrega ação popular  e pede 500 milhões para melhorar ar 
Em breve, Os Contaminados vão apresentar uma ação popular em tribunal contra a Siderurgia Nacional, mas ainda se encontram a reunir provas e vão efetuar primeiro uma reunião com os habitantes, o que só terá uma data prevista após a visita dos deputados.
A Associação da Terra da Morte Lenta, criada pela sociedade de advogados SPASS, já entregou uma ação contra a fábrica do Seixal, exigindo a suspensão imediata da atividade e 500 milhões de euros para a criação de um fundo para melhorar a qualidade do ar.
"Já demos entrada de uma ação popular cível nos tribunais comuns contra a Siderurgia Nacional no Seixal em que pedimos, além da suspensão imediata da atividade até ver resolvida as questões básicas e administrativas em causa, pedimos também o valor de 500 milhões de euros", adiantou à agência Lusa Fabiana Pereira, da SPASS. 
De acordo com a responsável, também moradora na Aldeia de Paio Pires, o valor pedido tem em conta o número de habitantes nesta zona, "cerca de 100 mil pessoas" e destina-se a um fundo que será explorado por entidades, como a Câmara do Seixal, o Instituto Ricardo Jorge, ou Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, com o objetivo de "melhorar a qualidade do ar".
Segundo Fabiana Pereira, a ação entregue cita "mais de 50 entidades que estão ao redor da Siderurgia e que podem ser prejudicadas pela sua atividade", como as câmaras do Seixal, Almada e Barreiro, sindicatos de várias entidades e até o Benfica, visto que o centro de estágios se localiza a poucos metros da unidade industrial.
Além disso, solicita que sejam consideradas todas as provas em investigação, como a recolha feita em Paio Pires pela brigada ambiental da GNR, o estudo epidemiológico, a Carta da Qualidade do Ar e inclusive, opiniões médicas.
"Se as poeiras são tão difíceis de tirar dos carros, das casas e roupas, imaginemos então no pulmão e na saúde humana", afirmou.
De acordo com a Câmara do Seixal, desde o início do ano que os carros e casas de Paio Pires têm estado cobertos por um pó branco difícil de sair, mas desde 2014 que se verifica um pó negro.
A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo  informou que a estação de qualidade do ar de Paio Pires registou, desde o início do ano e até 5 de Fevereiro, 14 excedências ao valor limite diário de partículas inaláveis.
Já a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território revelou que a empresa tem “60 dias” para o cumprimento das condições de licença ambiental.

Agência de Notícias com Lusa 

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