Mais de 600 mariscadores abordados no estuário do Sado

"Mariscar sem Lixo" voltou ao estuário para limpar e sensibilizar mariscadores

Mais de 600 mariscadores foram abordados no âmbito de uma campanha de sensibilização contra a poluição no estuário do Sado, durante a qual foram recolhidas das margens do rio 3.681 embalagens de sal, usado para apanhar lingueirão. Ao todo, 74 voluntários ajudaram na campanha de sensibilização, que decorreu simultaneamente em dez locais das margens norte e sul do estuário do Sado, no distrito de Setúbal, tendo sido abordados 644 mariscadores, dos 1.057 que foram contabilizados pelos promotores da iniciativa. Promovida pela cooperativa Ocean Alive, a ação, de decorreu a 30 de Março, ultrapassou as expectativas dos promotores, tendo em conta "as previsões meteorológicas", segundo Raquel Gaspar, responsável pela campanha "Mariscar Sem Lixo", já que apenas se registaram "30 desistências".
Voluntários retiram mais de três mil garrafas de sal no Sado 

"Em dia de chuva, em que uma das atividades começava entre as 7h15 e as oito horas, eu acho que é fantástico termos conseguido 74 voluntários, embora tenhamos tido desistências, relacionadas com o tempo", disse Raquel Gaspar à agência Lusa, notando que se trata de um período de férias.
Durante a ação de sensibilização, a Ocean Alive contabilizou "duas embalagens de sal deixadas na maré", ou seja, dos 1.057 mariscadores em atividade hoje nos dez locais da campanha, "apenas duas embalagens foram deixadas no local", algo que Raquel Gaspar, co-fundadora da Ocean Alive considerou um dado positivo.
"Sensibilizamos as pessoas e, quando abandonam o local, observamos quantas embalagens foram deixadas e os mariscadores levaram as embalagens que usaram", explicou, ressalvando, no entanto, que isso não significa que não deixem lixo noutros dias.
Com a campanha "Mariscar Sem Lixo", que começou há dois anos, Raquel Gaspar disse acreditar que está a ser possível "chegar às pessoas", que "já conhecem" a campanha e "têm mais predisposição para ouvir".
Além da ação de sensibilização dos mariscadores, a iniciativa da passada sexta-feira foi aproveitada também para fazer recolha de lixo, tendo sido retirados 1.191 quilos de resíduos das margens do estuário, 338 dos quais recicláveis, sendo a grande maioria "plásticos".
"Não é uma ação dirigida à limpeza, mas sim à sensibilização, mas hoje este estuário já tem menos uma tonelada de lixo e menos aquele número de embalagens de sal", destacou a mesma responsável, que é também bióloga marinha.
Além das mais de três mil embalagens de sal, foram retiradas do estuário do Sado "garrafas de água e de refrigerantes, de iogurtes líquidos e de óleo, esferovite, caixas de marisco, boias, isqueiros, cotonetes, pincéis, plásticos partidos, sapatos, redes e cabos", exemplificou.
A campanha decorreu em quatro concelhos das margens norte e sul do estuário, nos baixios de Carraca e Campanário, apenas descobertos durante a maré baixa, nas zonas designadas pelos promotores como Gazlimpo, Eurominas, Mitrena e Gâmbia (Setúbal), em Arrábidas (Palmela), no Matinho e Carrasqueira (Alcácer do Sal) e na Caldeira de Tróia (Grândola).
O dia 30 de Março foi escolhido tendo em conta que se celebra nesta data a "Sexta-feira Santa", em que "é tradição as famílias da comunidade piscatória costeira" se reunirem "para mariscar", explicaram os promotores.
A iniciativa faz parte da campanha "Mariscar Sem Lixo", que pretende alertar para "o problema global do plástico no oceano", tendo como objetivo "sensibilizar os mariscadores de lingueirão para não deixarem no mar as embalagens vazias de sal fino que utilizam para capturar este bivalve".
Desde 2017, a Ocean Alive é apoiada pela Fundação Oceano Azul e pelo Oceanário de Lisboa para a realização de grandes acções de sensibilização e para a criação de uma rede de agentes de sensibilização, formada por mulheres da comunidade piscatória local, que promovem boas práticas para proteger as pradarias marinhas do plástico da mariscagem e do lixo da pesca.

Agência de Notícias com Lusa
Foto: Ocean Alive 

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