Greve confirmada para esta quarta-feira na Autoeuropa

"Há objetivo de intensificar a exploração", diz sindicato

A greve dos trabalhadores da Autoeuropa marcada para quarta-feira mantém-se depois da realização do plenário desta segunda-feira. Os trabalhadores recusam a proposta da administração de alteração de horário no seguimento da produção no novo T-Roc na fábrica de Palmela da Volkswagen, em Palmela. A proposta de alteração do horário consiste na obrigatoriedade de trabalhar ao sábado, com essa folga a ser compensada durante a semana num sistema de rotatividade – num período de dois anos e meio. Na posição dos trabalhadores assumida por Rogério Silva, o coordenador da Federação Intersindical da Indústria (afeta à CGTP) acrescentou que "há sempre hipótese de desconvocar a greve, mas que isso depende de a administração retirar esta proposta", salientando que "o tempo começa a escassear".
Trabalhadores avançam mesmo para uma greve na quarta-feira 

Não há marcha atrás. Os trabalhadores da Autoeuropa vão mesmo fazer greve entre as 23h30 de terça-feira e a meia-noite de quarta. Quem o confirmou foi Rogério Silva, do Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas, que acusa a administração da empresa de querer "embaratecer custos" e "intensificar a exploração". Os trabalhadores realizaram esta segunda-feira plenários para discutir a proposta da administração. “Vai ser uma grande greve”, diz.
“Foi um plenário de afirmação e solidariedade dos funcionários da Autoeuropa”, afirmou o responsável em declarações à SIC. Neste plenário, os trabalhadores mantiveram “a rejeição dos horários de trabalho que a empresa pretende impor”. Neste sentido, a greve agendada para 30 de Agosto vai mesmo acontecer.
Rogério Silva diz que os horários que a administração pretende aplicar “são horários de segunda a sábado. Prejudicam os trabalhadores e prejudicam a empresa”. 
A administração vai ter de interpretar que os trabalhadores estão contra estes horários. Desregula os trabalhadores que querem ter direito a estar com a família, querem o seu tempo pessoal. Querem manter a produção, mas não a troco de intensificar os horários de trabalho, os ritmos…”, disse o sindicalista.
Os trabalhadores “recusam a intenção da administração de implementar horários de segunda a sábado com obrigação do sábado. Estes horários têm enorme rotatividade. Vão prejudicar a saúde dos trabalhadores”, diz.. 
Quanto às intenções da administração, Rogério Silva fala em embaratecimento da mão-de-obra. "A administração da Autoeuropa quer embaratecer os custos da mão-de-obra. Se o sábado passar a ser um dia obrigatório de trabalho, as pessoas perdem. Até aqui, quando trabalhavam ao sábado, era de forma voluntária, eram retribuídos com trabalho suplementar. Assim deixa de o ser. Há aqui um encaixe de milhões, para além daqueles que resultam dos investimentos que já estão anunciados, na ordem dos 700 milhões de euros, que também o Estado português participa. Há este objetivo no fundo de intensificar a exploração". 

Administração só negocia com Comissão de Trabalhadores 
A vontade do SITE Sul, esbarra, no entanto, nas pretensões da administração da Autoeuropa, que já veio a público afirmar que apenas negoceia com a comissão de trabalhadores, formalmente demissionária a partir desta segunda-feira.
Para responder à procura pelo T-Roc, o novo veículo utilitário desportivo (SUV) da Volkswagen, a Autoeuropa quer que a fábrica passe a funcionar em 18 turnos, seis dias por semana, a partir de Fevereiro e que os trabalhadores passem a laborar entre segunda-feira e sábado, com uma folga fixa ao domingo e uma folga rotativa a meio da semana. Em troca, a administração liderada por Miguel Sanches elaborou um pré-acordo com a Comissão de Trabalhadores e que previa um aumento mínimo do salário de 16 por cento, um bónus de 175 euros, a redução do horário de trabalho para 38,2 horas e a atribuição de mais um dia de férias.
O pior é que a administração apenas aceita negociar propostas salariais com a comissão de trabalhadores, que será eleita apenas no final de Setembro. Se não conseguir convencer os trabalhadores e não se chegar a acordo, o gigante automóvel já admite deslocalizar parte da produção para outras fábricas do grupo na Alemanha. Cenário no qual o sindicato não acredita que venha a ocorrer.
Quer o grupo alemão, quer o Governo português esperam que a administração e os trabalhadores da Autoeuropa, que vale um por cento do PIB português, cheguem rapidamente a um consenso. “Estou certo que será possível chegar a um entendimento e a uma solução satisfatórias para todas as partes”, manifestou o ministro da Economia, em declarações ao Dinheiro Vivo. Manuel Caldeira Cabral esteve reunido com o presidente da marca Volkswagen, Herbert Diess, horas antes da apresentação do novo SUV, na quarta-feira.
A fábrica portuguesa do grupo Volkswagen prevê montar um total de 240 mil carros em 2018, mais do dobro dos números de 2016 (85 125 veículos). O T-Roc irá contribuir para este número. O novo modelo fabricado na Autoeuropa deverá ter um preço base de 25 mil euros no mercado português e contará com versões a gasolina, gasóleo e híbrido plug-in (ligado à corrente). O SUV será vendido em todo o mundo, exceto na China e EUA.

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