Teatro desafia a partir de Setúbal este fim de semana

"Tentamos uma participação cívica através da cultura"

“Um D. João Português”, peça dirigida por Luís Miguel Cintra, está a ser preparada em Setúbal, num projeto da Companhia Mascarenhas-Martins que se distingue pela originalidade e experimentação, com apresentações nos dias 15 e 16 de Julho. A peça é uma adaptação da tragicomédia clássica “Dom Juan”, de Molière, a qual marcou a sociedade do século XVII pelo tom desafiante com que abordou vários temas da cultura contemporânea. Luís Miguel Cintra confessa que a obra constitui um desafio pessoal, “uma obsessão muito antiga, porque combate e desafia vários estigmas e imposições sociais”.
Um D. João Português está a ser criado em Setúbal 

O “D. João” é para o encenador a personagem perfeita para retratar o que considera ser alguma apatia da sociedade atual em refletir, com espírito crítico, sobre ideias que se tornaram convenções nas mais diferentes áreas.
“Uma peça de teatro não é um manual de vida ou um guia para a felicidade. É uma ferramenta para nos fazer pensar nos assuntos, para refletir”.
Luís Miguel Cintra, neste “Um D. João Português”, recupera a peça original, fundindo-a com a sua própria visão crítica e com a primeira tradução portuguesa, feita no século XVIII e que incluiu vários cortes e adaptações livres, não por questões de censura, mas apenas para melhorar a aceitação junto do público nacional, bastante mais conservador na época.
A peça que está agora a ser preparada demarca-se não apenas pelo conteúdo, mas também pela forma, com os atos a serem concebidos em diferentes pontos do país.
A ser trabalhada desde o início do ano, os ensaios passam por mais três cidades além de Setúbal, onde se encontra agora numa das fases de preparativos, respeitante ao ato “O mar (e de rosas)”, o qual é apresentado ao público em duas sessões, este sábado e domingo, às 21h30, no cais 3 do porto, com entrada gratuita.
Com a companhia a começar o projeto no Montijo, em Abril, vai levar ainda “Um D. João Português” a Viseu e a Guimarães. Em cada uma das quatro cidades, o processo criativo de encenação conta com vários momentos de interação com o público, com todos os profissionais, desde encenador, elencos e equipa técnica, a beber informações de todos os que queiram contribuir com opiniões e espírito crítico sobre a história que vai ser contada.

Peça estreia em Guimarães e passa por Setúbal e Montijo 
“Acho que o teatro tem de ser experimental e tem de funcionar a partir de projetos pessoais, não formatados”, sublinha Luís Miguel Cintra, apontando o dedo a uma fórmula de produção cultural em voga na atualidade, facilitadora de conteúdos de “consumo rápido” e desprovidos de matéria crítica.
É pelo espírito de incentivo à reflexão que se rege a Companhia Mascarenhas-Martins, formada em Janeiro de 2016, no Montijo.
“Tentamos uma participação cívica através da cultura. A nossa ideia é abrirmos uma porta de reflexão aos nossos espetadores”, define Levi Martins os objetivos da companhia que fundou em conjunto com Maria Mascarenhas.
Por isso, a Mascarenhas-Martins não se cinge ao teatro, procurando pôr o público a pensar também através do cinema, da música e de qualquer outra manifestação artística que assim entenda.
“Um D. João Português”, interpretado, no grosso do elenco, por atores provenientes da extinto Teatro da Cornucópia, fundado em 1973 por Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, quebra – ou contorna – regras precisamente para que todos fiquem a pensar.
Em Setúbal, por exemplo, os ensaios, sejam abertos ou fechados ao público, decorrem no cais 3 do porto, com a porta escancarada para quem quiser observar os trabalhos e para quem trabalha não perder de vista o rio Sado, cenário ideal para o bloco da peça em desenvolvimento.
“Gostei muito da recetividade da Câmara de Setúbal em disponibilizar este espaço e em acolher, sem qualquer dificuldade, esta ideia pioneira”, sublinha Luís Miguel Cintra.
“Um D. João Português” tem estreia prevista para Janeiro de 2018, em Guimarães. Seguem-se, depois, apresentações nas restantes cidades onde decorreram ensaios, Viseu, Setúbal e, finalmente, Montijo, de forma a que o público possa assistir em primeira mão ao resultado final da peça para a qual pôde contribuir ao longo do processo de criação.

Agência de Notícias com Câmara de Setúbal 

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