Freguesias de Setúbal contra encerramento da Caixa

Balcões de Almada, Cacilhas, Sobreda, Lavradio e Canha encerram esta tarde 

Várias freguesias de Setúbal juntaram-se frente à sede da Caixa Geral de Depósitos. É um protesto contra o encerramento de balcões no distrito, com os manifestantes a alegar que se tratam de locais de atendimento em zonas rurais com população idosa. Apesar disso, o banco público não alterou a decisão e vai encerrar esta sexta-feira os balcões em Sobreda da Caparica, Fórum Almada e Cacilhas (no concelho de Almada), Lavradio (Barreiro) e Canha (Montijo). Ainda assim, mais de 70 autarcas e populares do distrito de Setúbal manifestaram-se em frente à sede da Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa. Os manifestantes, na maioria idosos, exibiam bandeiras negras e gritavam que “a Caixa é do povo, não pode encerrar”.
População e autarcas do distrito manifestaram-se em Lisboa 

Em declarações à agência Lusa, a presidente da Junta da Charneca de Caparica, Margarida Carvalho, disse que só na sua freguesia (no concelho de Almada) são afetadas 14 mil pessoas, muitas idosas, que ficam sem qualquer dependência bancária.
A mais próxima, segundo a autarca, seria a do Fórum Almada, que também vai encerrar.
Margarida Carvalho afirmou ainda que a freguesia nunca teve oportunidade de negociar a manutenção desta agência, à volta da qual está estruturado todo o comércio local.
Na manifestação esteve o deputado do PCP Miguel Tiago, que manifestou o apoio do partido a esta causa, salientando que os portugueses não estão a pagar uma injeção de dinheiro na Caixa para ela fechar balcões e prestar assim um mau serviço às populações.
Os manifestantes exibiram muitas bandeiras negras. Dizem que é por um serviço público que está de partida. "Isto foi uma conquista de Abril. Garantiram-nos que nas freguesias iriam haver qualidade de vida. No entanto, nas nossas freguesias não há serviços de saúde, não há correios e agora tiram-nos a Caixa Geral de Depósitos", dizia uma manifestante do Lavradio.
O encerramento deste balcão será muito prejudicial, não só para a população do Lavradio, que perde um serviço público, mas também para a população do Barreiro, devido ao aumento da afluência ao balcão do Barreiro. "Com o encerramento no ano passado do balcão da Caixa Geral de Depósitos na Verderena já se sentiu um aumento do tempo de espera no balcão no Barreiro, portanto se encerrar também o balcão do Lavradio, os constrangimentos aumentarão", diz a junta do Lavradio.
Estima-se que o Lavradio tenha cerca de 15 mil habitantes, tendo vindo a crescer a população idosa. O pagamento das reformas e pensões de muitas pessoas é através da agência da Caixa Geral de Depósitos, caso se concretize o seu encerramento, os transtornos em particular para os idosos serão enormes.
"Não se vislumbra uma motivação racional para o encerramento do balcão da Caixa Geral de Depósitos no Lavradio, mas as suas consequências são muito negativas, ao deixarem este território ao abandono e ao concentrar a atividade num balcão que hoje já funciona com dificuldades", refere o grupo parlamentar do PCP, eleito pelo distrito, que já pediu informações ao Governo.
Em Canha, uma freguesia rural do concelho do Montijo, a sensação é a mesma. E promete lutar. "Este é o único banco que existe em Canha e que serve uma população rural e idosa, que está numa zona já desertificada, e que para ir ao banco, sem a CGD, tem que apanhar um dos poucos autocarros existentes e perder quase um dia inteiro para se deslocar ao Montijo ou a Vendas Novas", diz Avelino Antunes, da Associação dos Agricultores do Distrito de Setúbal. 
O responsável referiu que a população está unida na luta contra o encerramento do balcão.
"A população não aceita e está unida na luta contra esta decisão. Existe união nesta luta e muito descontentamento", defendeu.
No entanto, apesar da luta das populações nas ruas, os balcões vão mesmo encerrar esta sexta-feira à tarde. Em Maio já não abrem. O Governo evoca vários critérios, desde a localização até à eficácia e competitividade de cada balcão.  

Dinheiro vai chegar de carrinhas 
A Caixa Geral de Depósitos vai avançar com carrinhas móveis para alguns serviços nas localidades onde não há balcões. Esta é uma das soluções encontradas pela equipa executiva liderada por Paulo Macedo para compensar o fecho de agências e que já tinha sido sugerida pelo presidente do sindicato nacional dos quadros bancários, Paulo Marcos.
"Acharia razoável que a Caixa não fechasse balcões onde é a única agência e, na eventualidade de isso acontecer, que adote soluções como foi feito noutros países, como é o caso de soluções itinerantes que possam providenciar serviços. Por exemplo, na Escócia, o Bank of Scotland fechou muitos balcões onde o negócio era residual e onde não havia muito movimento, mas optou por prestar um serviço itinerante com carrinhas. O importante é não sujeitar as pessoas a uma situação em que o balcão mais próximo seja a 60 quilómetros", revelou em entrevista ao jornal i.
Uma ideia que o presidente do sindicato dos trabalhadores da Caixa, João Lopes é arriscada por motivos de segurança. "Parece-me algo arriscado só por um aspeto: uma carrinha itinerante seria uma presa fácil para os assaltos”, revelou ao i, apontado como melhor solução parcerias com as câmaras municipais e juntas de freguesia para que estas concedessem instalações para criar uma espécie de balcão volante. “Desta forma era possível continuar a servir a população sem estar lá sempre fisicamente e prestava serviços mais básicos, como levantamentos e depósitos todos os dias ou apenas nalguns dias da semana”, salientou.
A verdade é que a ideia de carrinhas itinerantes já foi autorizada pelo Banco de Portugal.
"O que pretendemos relativamente a esta possibilidade é ver que tipo de serviços a carrinha pode ter", admitiu o responsável do banco público, acrescentando que ainda se está a averiguar, por exemplo, como será feita a segurança a esta carrinha.

61 agências fecham portas 
O banco público prevê encerrar 61 agências, sendo 18 na área da Grande Lisboa, 15 a norte, 15 a sul e nas regiões autónomas e 13 na zona centro, segundo a lista revista divulgada em Março.
No distrito de Setúbal estão previstos os encerramentos das agências de Sobreda da Caparica (Almada), Cacilhas (Almada), Fórum Almada (Almada), Lavradio (Barreiro) e Canha (Montijo).
O fecho de agências foi negociado com Bruxelas e é uma das contrapartidas acordadas para que a recapitalização da CGD que está a decorrer, num montante superior a cinco mil milhões de euros, não seja considerada ajuda de Estado.

Agência de Notícias 

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