BE de Setúbal com campanha contra a violência no namoro

No namoro só bate o coração... 

Cerca de 22 por cento dos jovens consideram "normal" a violência no namoro, seja física, sexual ou psicológica. "Temos 14,5 por cento das raparigas a não reconhecerem que forçar para beijar ou para ter relações sexuais constitui uma forma de violência [sexual], contraponto com mais do dobro dos rapazes (32,5 por cento) que também não o reconhece como tal", revela a criminóloga Cátia Pontedeira, da União de Mulheres Alternativa e Resposta que realizou um estudo que envolveu 2500 jovens sobre a prevalência e legitimação da violência no namoro. Perante estes números, a Comissão Coordenadora Distrital de Setúbal do Bloco de Esquerda arranca esta terça-feira, na Escola dos Casquilhos, no Barreiro, com uma campanha contra a violência no namoro.

Muitos jovens acham "normal" violência no namoro 

No namoro só bate o coração é o mote da campanha contra a violência no namoro lançada pela Comissão Coordenadora Distrital de Setúbal do Bloco de Esquerda. Este é o alerta que o BE quer fazer aos jovens do distrito, depois de conhecidos os números do estudo da UMAR [ União de Mulheres Alternativa e Resposta] que indicam que 22 por cento dos jovens consideram normal a violência no namoro.
Entre esta terça-feira, 8 de Março, e o final do período escolar serão feitas distribuições de um panfleto dirigido aos alunos e alunas das escolas secundárias do distrito, com a presença das deputadas Joana Mortágua e Sandra Cunha sempre que possível, "alertando os e as jovens para alguns sinais de violência que ocorrem no namoro e indicando-lhes números de apoio a que poderão recorrer", refere o BE de Setúbal em comunicado enviado ao ADN.
A primeira iniciativa será feita no Dia Internacional da Mulher na Escola Secundária dos Casquilhos no Barreiro e contará com a presença de Catarina Martins, terminando esta campanha no dia 20 de Março com a pintura de um mural na cidade de Setúbal, alusivo ao tema da violência no namoro.

UMAR revela números preocupantes 

O que não dever ser  normal no namoro
No estudo da UMAR, no que diz respeito à legitimação da violência, ou seja à não-aceitação de determinado comportamento como violência no namoro, os dados revelam que quase um quarto dos jovens considera "normal" a violência no namoro.
"É ainda uma percentagem mesmo muito alta haver 22 por cento a considerar normal algumas das formas de violência", considerou a criminóloga Cátia Pontedeira, referindo que nesta violência geral está incluída a "violência física, sexual e ou psicológica".
A criminóloga adiantou que o estudo, realizado no âmbito do projeto Artways - Políticas Educativas e de Formação contra a Violência e Delinquência Juvenil e que contou com adolescentes entre 12 e 18 anos, indica que "7 por cento dos jovens já tinham sofrido algum tipo de violência nas suas relações de namoro" e que a maior parte da violência descrita é psicológica.
A violência física no namoro foi assumida por cinco por cento do total de jovens inquiridos e a violência sexual foi reportada por 4,5 por cento dos jovens.
"Estes dados de prevalência de violência são preocupantes", considerou a criminóloga da UMAR, lembrando que se está a falar de um grupo de jovens cuja idade média é de 14 anos.
A UMAR, que faz estudos sobre violência de namoro desde 2009, indica que com estes dados recentes se verifica que a "vitimização tem subido ligeiramente", o que não significa necessariamente que haja mais vítimas no namoro.
"Pode significar, por exemplo, que há um maior reconhecimento deste fenómeno e, portanto, uma maior denúncia, uma maior procura de ajuda e também maiores dados estatísticos em termos da sua prevalência.
Para a UMAR, este aumento de violência no namoro é importante, no sentido de que os jovens estão cada vez mais a ficar informados do que é a violência no namoro, que é crime, e que, portanto, é importante os jovens saberem que podem procurar ajuda especializada.
"Os dados deste estudo levam-nos a afirmar e defender que há ainda uma grande necessidade de trabalhar estes temas com os jovens", alertou Cátia Pontedeira, lembrando que a UMAR está a desenvolver um trabalho de "prevenção primária na violência de género e que está a decorrer nas escolas há mais de 12 anos.
Por violência física entenda-se violência que deixa marcas visíveis físicas e atos que não deixem vestígios, como por "empurrar ou puxar".
Na violência sexual está implícito a violação, mas também pressões verbais como dizer "se não fazes sexo, não gostas de mim ou estás a perder o interesse em mim". Já na violência psicológica a maior incidência são as proibições de estar ou falar com amigos.

Comentários