Mulher morta pelo marido na Charneca de Caparica

Asfixiou a mulher até à morte e entregou-se à GNR

Anabela Pereira perdeu a perna esquerda em 2012, na sequência de um erro médico durante uma cirurgia às varizes e a vida tornou-se num inferno. Na quinta-feira foi morta alegadamente pelo ex-marido, na Charneca de Caparica, no concelho de Almada. A vítima tinha-se divorciado de Augusto Borges mas, de acordo com algumas testemunhas, teve de lhe pagar para este sair da casa onde viviam com os dois filhos. Voltou a casa para, alegadamente, ver os filhos mas acabou por estrangular a sua ex-companheira de uma vida com um lençol. O homem ligou para a GNR e relatou o crime que  tinha acabado de cometer. Quando os bombeiros chegaram ao local já nada havia a fazer. Augusto foi logo detido pela GNR e ficou em prisão preventiva. Anabela já tinha apresentado queixa contra o ex-marido por agressão. Com esta morte, sobe para 19 [a quarta vítima no distrito de Setúbal] o número de mulheres mortas desde o início do ano em contexto de violência doméstica.
Anabela foi a quarta vítima mortal no distrito de Setúbal este ano 

Pouco passava das 11 horas, de quinta-feira, quando Augusto Borges  entrou no n.º 1 da Praceta do Cruzeiro, uma moradia na Charneca de Caparica, e asfixiou a mulher, Anabela, com cerca de 40 anos, com um lençol da cama. O casal estava a separar-se e Augusto não aceitava esse desfecho na relação.
Logo após cometer o crime, que terá ocorrido durante uma discussão quando ele foi buscar alguns pertences, o próprio agressor contactou a GNR. "Recebemos no posto da GNR uma chamada de um indivíduo a dizer que tinha matado a mulher. De imediato, deslocámos meios para o local, mas a mulher foi encontrada já sem vida", disse a Guarda Nacional Republicana, escreve a edição do Jornal de Notícias.
Durante o crime, os dois filhos do casal, com 15 e 21 anos, estavam no andar de cima da casa, acompanhados por um amigo. Nenhum deles se apercebeu de nada. Augusto foi detido pela GNR e entregue à Polícia Judiciária.
O INEM chegou antes da Guarda, às 11h15 horas, e ainda encontrou Anabela Borges com vida, mas nada conseguiu fazer para evitar a morte. "A vítima encontrava-se em paragem cardiorrespiratória, quando os técnicos de emergência chegaram ao local", frisa fonte do INEM. Para além de uma viatura médica de emergência e reanimação, foram destacados para o local uma ambulância e psicólogos.
Vizinhos das vítimas contaram que o casal se afastou progressivamente desde que Anabela viu a sua perna esquerda amputada, em 2012, fruto de um erro médico decorrente de uma operação às varizes, no Hospital Garcia de  Orta, em Almada. Há cerca de quatro meses que o casal estava separado.
A moradia tinha sido comprada há pouco mais de três anos por Anabela Borges e pelo seu marido. Antes, tinham morado no primeiro andar de um prédio, mas devido à amputação que a mulher sofreu, tiveram de arranjar uma nova habitação.
Na zona, ninguém se apercebeu de nada, do que viam da vida dos vizinhos, que pudesse apontar para este desfecho trágico, embora este não fosse o primeiro caso de violência doméstica. "Ainda há dois anos, a PJ esteve aqui a recolher testemunhos sobre uma outra situação de maus-tratos conjugais", diz um vizinho.

Anabela já tinha apresentado queixa às autoridades 
E de facto Anabela já tinha apresentado queixa. O jornal Público escreve  que tinham passado oito meses sobre a denúncia de violência doméstica que a mulher apresentara à GNR, e que dera origem a um processo-crime. O marido iria responder em tribunal por maus-tratos.
De acordo com o inquérito de avaliação de risco a que a vítima foi submetida quando apresentou queixa, o agressor revelava um elevado grau de perigosidade, diz fonte desta corporação ao jornal Público. Ainda assim não lhe foi, porém, aplicada pulseira electrónica que evitasse a sua aproximação da antiga companheira.
Há cerca de um mês a mulher pediu a suspensão provisória do processo - o que significaria que, caso não acontecesse mais nenhum episódio de violência, o tribunal acabaria por arquivar o caso sem o julgar. Trata-se de um mecanismo a que recorrem com alguma frequência as vítimas de violência doméstica desde que deixou de ser possível desistirem da queixa, por este crime se ter tornado público, explica Elisabete Brasil, do Observatório de Mulheres Assassinadas da União das Mulheres, Alternativa e Resposta. “A suspensão provisória do processo é pedida por medo de novas represálias. Não faz sentido nestes casos”, equivalendo, na prática, a uma desistência da queixa, observa a mesma activista. A diferença é que o Ministério Público pode vetar a suspensão provisória do processo, que a lei só permite quando o agressor não tem cadastro neste crime.
Com esta morte, sobe para 19 [a quarta vítima no distrito de Setúbal] o número de mulheres mortas desde o início do ano em contexto de violência doméstica. Um número mesmo assim inferior ao período homólogo de 2014. Segundo os dados mais recentes sobre violência doméstica divulgados pela Direcção-Geral da Administração Interna, em 2013 apenas 17 por cento dos inquéritos abertos na sequência de um crime deste tipo deram origem a acusação, tendo 76 por cento sido arquivados e 6,5 suspensos provisoriamente.
Reformada por invalidez, a mulher assassinada na Charneca de Caparica terá sido encontrada morta pelo filho, que se encontrava no andar de cima da vivenda com um amigo quando tudo aconteceu. O marido estava desempregado, Terá deixado o emprego quando a mulher recebeu uma indemnização do hospital. A recusa da mulher em dar mais dinheiro ao ex-marido pode ter estado na origem de mais este crime passional.


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