Acolhimento protege crianças em risco em Setúbal

“As famílias estão muito desacompanhadas”

A importância do trabalho desenvolvido pelas instituições no acolhimento de crianças e jovens em risco, em face da falta de respostas do Estado, foi destacada num seminário realizado na terça-feira, em Setúbal. “Este é um trabalho que todos preferíamos que não fosse necessário, mas que, infelizmente, continuará a ocupar muitas das nossas preocupações”, referiu, no encerramento do encontro, o vereador com o pelouro da Inclusão Social na Câmara de Setúbal, Pedro Pina, ao referir-se ao período atual, “em que se enfraquece o estado social, em que se reduzem e anulam prestações sociais que são conquistas civilizacionais, tudo em nome de rácios financeiros, de juros da dívida, do equilíbrio do défice”, disse o autarca setubalense. Ao longo de um quarto de século, passaram pelo Centro de Acolhimento Temporário Nossa Senhora do Amparo 355 crianças, a grande maioria reintegrada depois nas famílias biológicas.
Seminário abordou trabalho em prol das crianças e jovens em risco

No fecho do seminário “Laços que quebram ou nós que se desatam?”, organizado pela Cáritas Diocesana de Setúbal, no auditório da Escola Superior de Educação, o responsável pelo pelouro da Inclusão Social, em Setúbal, referiu, com base nos dados oficiais, que, além dos 19,5 por cento de portugueses em risco de pobreza, os números refletem que, nesta conjuntura, são as crianças as mais afetadas, com a taxa a situar-se em 25,6 por cento nos menores de 18 anos.
“Nas câmaras municipais sentimos com especial intensidade estes problemas. As pessoas procuram-nos, contam-nos as suas histórias pessoais”, sublinhou. “Histórias de gente demasiado velha para ter novo emprego, que não existe, e demasiado nova para deixar de trabalhar, histórias de gente que perdeu a sua casa e pergunta se a Câmara Municipal tem uma casa para, nem que seja temporariamente, as abrigar”, realçou o autarca.
No encerramento do seminário, no qual marcou também presença a diretora do Centro Distrital da Segurança Social, Ana Clara Birrento, em representação do ministro da Solidariedade, do Trabalho e da Segurança Social, o bispo de Setúbal, D. Gilberto Reis, mostrou-se igualmente preocupado com os cortes dos apoios sociais e com o efeito que isso tem nas pessoas. “As famílias estão muito desacompanhadas”.
A este propósito, o vereador Pedro Pina revelou-se indignado perante “a narrativa que coloca em dúvida a necessidade de prestações sociais, em particular quando se conhece o trabalho das instituições”.

Cáritas já ajudou 355 crianças 
O seminário, realizado ao longo de todo o dia, com a participação de responsáveis e especialistas de organismos estatais e de instituições, abordou temas relativos ao apoio às crianças vítimas de abandono ou de maus tratos e integradas em famílias sem condições.
Ao longo do encontro foram discutidas questões relacionadas com a legislação e o acolhimento de crianças e jovens em risco e, ainda, com os melhores procedimentos no apoio às famílias.
No ano em que se comemora o 25.º aniversário do Centro de Acolhimento Temporário Nossa Senhora do Amparo, foi inaugurada, à margem do seminário, uma exposição no átrio do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, com o título “Um olhar para dentro: 25 anos depois”.
Quatro painéis mostram notícias da abertura deste equipamento da Cáritas, bem como fotografias, gráficos estatísticos e o relato de Sérgio Canas, uma das primeiras crianças a viver no equipamento de apoio social.
Ao longo de um quarto de século, passaram pelo Centro de Acolhimento Temporário Nossa Senhora do Amparo 355 crianças, a grande maioria reintegrada depois nas famílias biológicas.

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