Centenas seguiram abertura da lagoa de Santo André

Centenas de pessoas viram união entre as águas da lagoa e o Atlântico

A abertura da lagoa de Santo André ao mar ocorreu na presença de centenas de curiosos. Isabel Pinheiro, da Agência Portuguesa do Ambiente, entidade responsável pelo processo, manifestou ainda o desejo de que “o canal se mantenha aberto durante bastante tempo” e sublinhou que a preparação da abertura da lagoa ao mar começou “no início de Janeiro”. A Câmara de Santiago do Cacém justifica o interesse de tantas pessoas pelo facto de se tratar de “um espetáculo que acaba por ser sempre diferente”, porque “a natureza vai mudando". O processo que antes era feito pela força de “braços e bestas” foi substituído já há vários anos por máquinas. No dia da "abertura" do canal, no âmbito do novo ciclo de eventos da Trienal no Alentejo, os artistas André Banha e Orlando Franco instalaram, em pleno areal, o “Observatório da espera, da luz e do tempo”, que vai estar no local até ao dia 7 de Abril. 
Abertura de canal atrai sempre centenas de pessoas a Santo André 


A responsável da Agência Portuguesa do Ambiente,(APA), assegura que a operação “correu bem, conforme programado”, realçando o importante “trabalho de parceria feito com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)”. Isabel Pinheiro explica que “a escolha do dia deveu-se às marés favoráveis”, em que “a maré alta ocorre no período diurno, que é essencial para que a operação corra bem”, e há também “uma diferença considerável entre a maré cheia e a maré vazia, que favorece o esvaziamento”, e depois, por conseguinte, “o reenchimento”, estando “as condições climáticas também favoráveis”.
A vice-presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém destaca “uma tradição que permite a renovação da lagoa, da sua flora e da sua fauna, que as pessoas vêm ver todos os anos”. Margarida Santos justifica o interesse de tantas pessoas pelo facto de se tratar de “um espetáculo que acaba por ser sempre diferente”, porque “a natureza vai mudando”, perspetivando ainda que “nos próximos dias vão continuar a aparecer aqui muitas pessoas para ver como evolui esta abertura de 2015”.
Entre as centenas de pessoas que não quiseram perder a operação esteve António Gonçalves, de 81 anos, que revela que “acompanha a abertura da lagoa ao mar desde os seus oito ou dez anos”. Este pescador residente nas proximidades de Deixa-o-Resto, na freguesia de Santo André, recorda os tempos em que “a abertura era feita com enxadas e pás, demorando muitos dias”, sendo necessário entre “100 a 200 homens para trabalhar”.
Helena Coelho e Joana Gosta viajaram, de propósito, de uma aldeia do concelho de Castro Verde, no Baixo Alentejo, para verem "pela primeira" a abertura do canal da lagoa ao oceano. "É sem dúvida um espetáculo único e raro de se ver", diz Sara Costa, filha de um antigo pescador de Sines que em anos idos "trabalhava com animais e pás para fazer o que hoje as máquinas fazem em horas". 
Já Daniel Ortigão chegou de Setúbal para o "grande" espetáculo. "Já venho aqui há cerca de 20 anos. Gosto de ver, gosto do ambiente de sentir a ligação entre o mar e as águas da lagoa. No verão venho para cá pescar. Sem esse trabalho era impossível haver peixe aqui".   
A abertura da Lagoa de Santo André é feita todos os anos numa altura sempre próxima do equinócio da primavera, um processo que está a cargo da Agência Portuguesa do Ambiente e que outrora foi da responsabilidade da Câmara Municipal de Santiago do Cacém. A abertura desta lagoa ao mar visa a renovação da água da lagoa, a limpeza e lavagem do seu fundo e a entrada de algumas espécies piscícolas, com destaque para os alevins e enguias.
O processo que antes era feito pela força de “braços e bestas” foi substituído já há vários anos por máquinas. Também na tarde em que a água do mar se juntou com a da lagoa, no âmbito do novo ciclo de eventos da Trienal no Alentejo (TnA), os artistas André Banha e Orlando Franco instalaram, em pleno areal, o “Observatório da espera, da luz e do tempo”, que vai estar no local até ao dia 7 de Abril.

Porque se junta a lagoa à agua do Atlântico? 
Ligação ao mar é essencial para o equilíbrio do ecossistema 
De acordo com a Administração da Região Hidrográfica do Alentejo, integrada na APA, a criação de um corredor artificial entre os dois ecossistemas permite a renovação da água e a entrada de peixes juvenis no sistema lagunar, contribuindo também para a continuidade da actividade piscatória no local.
O acontecimento na lagoa, que está classificada como Zona Húmida de Importância Internacional (sítio Ramsar), atrai sempre muitos visitantes à praia da Costa de Santo André. O local está integrado na Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, criada em 2000 e que abrange os concelhos de Santiago de Cacém e de Sines, na costa alentejana.
Habitualmente, também está prevista para esta altura a ligação artificial ao mar da lagoa de Melides, no concelho de Grândola. No entanto, devido às características deste ecossistema, a intervenção pode acabar por ser dispensada.
No Verão, quando as temperaturas atingem valores muito elevados durante vários dias seguidos, é possível que tenha de ser feita uma nova abertura das lagoas ao mar, para evitar a morte generalizada dos peixes por falta de oxigenação.

Agência de Notícias

Comentários