Pai de sobrevivente do Meco critica famílias

Tribunal de Setúbal decide esta sexta feira se haverá julgamento ou não 

João Gouveia não esteve na segunda-feira no Tribunal de Setúbal depois de ter invocado o direito de renúncia a estar presente. O pai de João Gouveia falou pela primeira vez aos jornalistas para dizer que as famílias dos jovens que morreram na praia do Meco, em Sesimbra, ultrapassaram limites nas acusações ao jovem que sobreviveu. João Gouveia diz que é chegada a altura de todos fazerem o luto. Familiares dos seis jovens que morreram na praia do Meco reafirmaram que pretendem apenas conhecer toda a verdade do que se passou na madrugada de 15 de Dezembro de 2013 e estranham que João Gouveia, o “Dux”, nunca os tivesse enfrentado para contar o que se passou na noite em que perderam os filhos. A primeira sessão do debate instrutório decorreu no tribunal de Setúbal à porta fechada. O debate instrutório deste processo decorre na próxima sexta-feira no mesmo tribunal.
Pais dos jovens que morreram no Meco continuam sem respostas

O único sobrevivente da tragédia do Meco, em Sesimbra, o arguido João Gouveia, faltou na segunda-feira à inquirição feita sobre o caso no Tribunal de Setúbal. O dux invocou a pressão mediática e também a pressão das famílias das vítimas, e a forma como o têm tratado, “atingindo o seu bom nome”, para não ter estado presente em tribunal, explicou a advogada Paula Brum. 
Apesar da ausência de João Gouveia – que invocou o artigo 300.º do Código do Processo Penal, que lhe permite aos arguidos renunciarem a estarem presentes nesta fase de inqurições –, a diligência judicial realizou-se, com a presença das famílias das seis vítimas mortais e de duas testemunhas.
O pai e uma irmã do dux também compareceram em tribunal juntamente com a respectiva advogada, que recordou que o seu cliente sempre falou na fase de inquérito, tendo para essas declarações quaisquer esclarecimentos sobre o que se passou no Meco. Foi também essas declarações que invocou o pai de João Gouveia: "Durante meses a fio o João disponibilizou-se a prestar todo o tipo de colaboração possível – porque ele mais do que ninguém, como jovem que perdeu os seus amigos num momento daqueles, é o primeiro a querer que a verdade venha ao de cima". O progenitor do dux disse que João Gouveia vive "um drama moral, psicológico" por ter visto morrer os amigos, "podendo ele ter ele partido também", e que não lhe é agradável "agora, ao final deste tempo todo, ter de assistir a esta situação novamente", por via da reabertura do processo.
"Espero que os pais dos jovens que faleceram possam fazer o seu luto, conseguir conviver com a sua dor, porque não é natural perder um filho, o que é natural é que nós, pais, irmos primeiro", acrescentou, criticando aqueles que tentam "transformar um drama real num drama de faca e alguidar".

Pais acusam sobrevivente de cobardia 
Para os pais das vítimas, porém, a ausência do único sobrevivente tem outro significado: "cobardia".
“Que ninguém subestime o amor de uma mãe que viu partir um filho. A minha filha não deixou de existir. Se o João Gouveia aqui estivesse hoje, eu olhava para ele como se eu fosse a Catarina”, declarou a mãe de uma das vítimas. Admitindo que não contava com a ausência do dux em tribunal, o advogado das famílias, Vítor Parente Ribeiro, vê neste facto um indício claro de que o único sobrevivente da tragédia "temeu contradizer-se relativamente ao que disse antes, por ter consciência de que não contou a verdade".
Na sessão desta segunda-feira, foram inquiridas duas testemunhas: uma responsável da Universidade Lusófona, Teresa Damásio, e uma amiga de uma das vítimas, igualmente aluna naquela universidade.
Por falta de notificação por parte do tribunal não foi ouvido um perito do Instituto de Medicina Legal, tendo a sua audição sido adiada para a próxima sexta-feira, dia em que também terá lugar o debate instrutório que acabou por não se realizar esta segunda-feira, uma vez que não tinham sido ouvidas todas as testemunhas.
O inquérito à morte dos alunos da Universidade Lusófona tinha sido arquivado por um procurador do Ministério Público do Tribunal de Almada, mas o advogado das famílias, Vítor Parente Ribeiro, recorreu da decisão, pedindo a abertura da instrução.
Recorde-se que sete jovens universitários foram engolidos por uma onda no Meco na madrugada de 15 de Dezembro de 2013. Apenas um sobreviveu. Há suspeitas de que o caso esteja relacionado com praxes académicas.

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