Stress pós traumático afecta GNR em Pinhal Novo

Comandante e militares feridos no sequestro de Pinhal Novo requereram  incapacidade psicológica

Militares feridos numa intervenção para acabar com um sequestro num restaurante do Pinhal Novo, ocorrido em Novembro de 2013, são vítimas de stress pós traumático. Já curado dos estilhaços do rebentamento de uma granada, lançada por um sequestrador moldavo a partir do interior de um restaurante no Pinhal Novo, o comandante do posto local da GNR espera que lhe seja declarada em breve a incapacidade psicológica para o cargo, por motivo de stress pós-traumático, revela uma investigação do Diário de Notícias. No mesmo estado estão outros três militares do posto, que ficaram gravemente feridos na operação de há um ano e três meses. Foram atingidos pelos estilhaços de uma granada de fragmentação e ainda não recuperaram dos danos psicológicos e de alguns físicos. Para todos, o maior golpe emocional foi a morte, no interior do restaurante, do jovem militar Bruno Chaínho, nessa longa noite de horror na vila de Pinhal Novo, onde também o sequestrador perdeu a vida. 
Sequestro  fez dois mortos e feriu cinco pessoas


O comandante do posto do Pinhal Novo, que está em funções mas continua em acompanhamento psicológico, deverá ser visitado em breve por uma junta médica para que lhe seja declarado um grau de incapacidade por stress pós-traumático, confirmou uma investigação do DN junto de fontes próximas do sargento Cláudio Almeida.
Outro dos militares feridos vai também requerer incapacidade. Um terceiro militar, o qual ficou com 54 estilhaços de um engenho explosivo na pele, está de baixa há mais de um ano.
As mesmas fontes garantem que o comandante do posto de Pinhal Novo já não se sente apto para funções de comando. Prefere ficar em funções administrativas. Não é pela idade pois tem apenas 37 anos. É pelo trauma. Desde a situação do sequestro que a sua vida mudou completamente. Cresceu a revolta. Não compreende o cerco de seis horas no local, entende que a GNR devia ter neutralizado o suspeito antes.
As mesmas fontes adiantam ao jornal que o sargento sente que não foi dignamente tratado pela instituição, que diz já se ter esquecido dele e dos outros. 
O comandante do posto também não gostou que os seus homens que ficaram feridos no incidente não tivessem sido incluídos nos primeiros louvores emanados do comando de Setúbal a 30 de Dezembro de 2013. Esses primeiros louvores foram para os 70 militares da Unidade de Intervenção que cercaram o local. Os efetivos da GNR do Pinhal Novo, que foram os primeiros a chegar ao restaurante, só receberam louvores em Fevereiro de 2014, emanados do comando geral da GNR, o que causou indignação no grupo dos feridos e nas associações sindicais da GNR. 
Por último, o comandante do posto também já não sente ter a força para combater a falta de meios na zona. Como explicou fonte militar, o Pinhal Novo conta com 30 guardas para uma área territorial de 55 km2 e mais de 25 mil habitantes.

GNR que morreu  salvou reféns 
Restaurante O Refúgio nunca mais abriu portas 
A 23 de Novembro de 2013 duas mulheres e dois homens (entre eles, o proprietário do restaurante O Refúgio, a esposa e a filha), foram sequestrados por um cidadão moldavo, Mihail Codja, de 59 anos, que se encontrava em em Portugal desde 1999. No relatório da GNR sobre o incidente tático policial estão os momentos de terror ao minuto. Cerca das 21h30, o suspeito entrou carregando uma mala. Pediu dois whiskies e um pudim, que pagou e consumiu. Meia hora depois, quando o restaurante estava a fechar e não havia mais clientes, Mihail empunhou uma arma de fogo e exibiu três a quatro granadas presas à cintura e um engenho explosivo, ameaçando o proprietário, a sua mulher e os filhos. 
Em seguida, algemou o dono do restaurante e o seu filho com braçadeiras plásticas, deixando a mulher e a filha libertas. No mesmo ato, explicou que sofria de uma doença de sangue e só teria um ano de vida se não fizesse tratamentos médicos no valor de 50 mil euros. A família sequestrada teria de lhe pagar os tratamentos, a troco da libertação. Para intimidar ainda mais, referiu ter estado na guerra do Afeganistão e descreveu que matava as pessoas cortando-as desde a boca até às orelhas, degolando-as de seguida. Mostrou várias facas num saco e retirou munições de kalashnikov do bolso. 
Entretanto, a mulher do dono do restaurante sentiu-se mal, e enquanto o moldavo a foi acudir, a filha do proprietário ligou para o 112 e alertou as autoridades. Cinco minutos depois da chamada, chegou uma patrulha da GNR do Pinhal Novo. O guarda Bruno Chaínho bateu à porta. O suspeito obrigou as reféns a abrir a porta para dizer que nada se passava.O militar mandou as mulheres saírem, tirou a arma de serviço do coldre, entrou cautelosamente no interior mas ficou de frente para a posição do suspeito. Este disparou com arma a três ou quatro metros na direção do militar, que teve morte imediata.

Pais de Bruno Chainho receberam 121 mil euros 
A morte do militar baleado num sequestro no Pinhal Novo, foi compensada com pouco mais de 121 mil euros que o Estado decidiu entregar aos seus pais. A decisão, tomada num despacho conjunto do Ministério da Administração Interna e o Ministério das Finanças no verão passado, respeita o desejo de Bruno Chainho, promovido a título póstumo a cabo. Chainho, que tinha 27 anos e estava na GNR há dois, tinha indicado os pais como beneficiários de uma indemnização se morresse em serviço.
“Não sabia que nos iam dar dinheiro. Preferia não o receber. Preferia pagar ao Estado para que o Bruno estivesse vivo. Não há dinheiro suficiente. O meu filho, que sempre sonhou ir para a GNR, morreu. O maior prazer do meu filho era ver a lei a ser cumprida e mesmo quando morreu fez cumprir a lei”, disse o pai do militar, Sérgio Chainho.
O indeminização, despachada nove meses depois da morte, servirá para ajudar os pais que viviam com ajuda do guarda. Todos os meses, Bruno Chainho, explicou Sérgio, enviava 200 euros aos pais que estão desempregados há vários anos sem “direito a rendimento mínimo”. Bruno, que auferia cerca de 800 euros mensais, era o sustento. Ele pedreiro de 54 anos, ela empregada de limpeza de 52, vivem com as dificuldades que os obrigaram até a pedir dinheiro emprestado para pagar a campa do filho. “Pedi sete mil euros para funeral e a campa. Está uma coisa bonita. O Bruno iria gostar”, emociona-se Sérgio Chainho.
A verba foi atribuída num tempo recorde. Fontes da GNR garantiram que estes processos de indemnização duram em média mais de um ano. O montante, decidido num despacho publicado segunda-feira em Diário de República, foi calculado após um inquérito na GNR que classificou a morte como acidente em serviço. É o máximo que a lei prevê para indemnizar os familiares de polícias mortos em serviço. Corresponde a 250 salários mínimos nacionais.
Os pais vão agora requerer uma compensação no âmbito do Fundo de Indemnização às Vítimas de Crimes Violentos. O fundo é gerido por uma comissão estatal e os requerimentos são enviados, em regra, no âmbito de processos judiciais.

Agência de Notícias

Comentários