Porto de Setúbal é alternativa ao terminal de contentores

Contentores de Lisboa entre o Barreiro e Setúbal 

O secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações afirmou ontem que "ainda não existem condições para decidir" qual a localização do novo terminal de contentores da região de Lisboa, reforçando que é necessário "tomar uma decisão com brevidade possível". Trafaria, em Almada, foi a primeira opção e criticada por todos. Barreiro é o local "favorito" do Governo que agora coloca na corrida, por força da Ordem dos Engenheiros e das Comunidades Portuárias de Setúbal e Lisboa, o porto de Setúbal. O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, colocou reservas à localização do Barreiro, desde logo por ser necessária uma obra marítima que obriga a um grande volume de dragagens e também o problema dos solos contaminados, o qual classificou de "caro e complexo". A Comunidade Portuária de Lisboa e a Comunidade Portuária de Setúbal também criticam a opção do Barreiro.  "Se já existe alternativa de baixo custo, para quê desperdiçar os nossos impostos em projectos megalómanos?", pergunta o responsável pela Comunidade Portuária de Setúbal. Segundo Sérgio Monteiro, secretário de Estado, "o país vai ficar a ver navios se não tomar uma decisão", pois este atraso "representa uma menor competitividade de Portugal face a outros países" da Europa.

Porto de Setúbal disponível para receber terminal de contentores 

"Portugal precisa rapidamente de apresentar uma candidatura no Mecanismo Interligar a Europa (MIE), precisa de aproveitar a vantagem que tem de os portos serem um sector que tem resistido à crise para continuar a crescer. Chegou o momento em que a discussão vai ter que terminar e teremos de avançar para a tomada de decisões", considerou.
Neste momento, está a ser estudada a possibilidade de o novo terminal de contentores ser no Barreiro, mas "se houver interesse por parte de entidades em desenvolver infraestruturas no Barreiro e em Setúbal, elas são bem-vindas", disse o secretário de Estado.
"Nós precisamos de mais concorrência nos portos, de mais capacidade nos portos, os portos mais competitivos, que sirvam a economia e o sector exportador e, por isso, nós não diremos que não a nenhuma proposta que nos seja feita para se instalarem em Setúbal e para aumentarem a capacidade em Setúbal", defendeu.
Sérgio Monteiro declarou que "até agora, infelizmente, não houve nenhuma entidade privada que tivesse mostrado interesse em ir para Setúbal", disse o secretário de Estado. "Devemos esgotar a discussão sobre todas as alternativas, mas precisamos também de tomar uma decisão com a brevidade possível", reforçou Sérgio Monteiro.

Ordem dos Engenheiros defende Setúbal 
A Ordem dos Engenheiros alertou o Governo para a necessidade de serem analisadas alternativas ao Barreiro enquanto localização do novo terminal de contentores da Grande Lisboa, afirmando não compreender como é que Setúbal está excluído dos estudos.
O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, colocou reservas à localização do Barreiro, desde logo por ser necessária uma obra marítima que obriga a um grande volume de dragagens e também o problema dos solos contaminados, o qual classificou de "caro e complexo".
"Não se pode tomar uma decisão política sem uma avaliação técnica, financeira e ambiental que permita uma justificação do investimento", frisou Carlos Matias Ramos.
"Qualquer localização de um terminal na margem sul do Tejo tem logo um problema que é ter que transportar 71 por cento da mercadoria para o norte [do país]", alertou durante um encontro com jornalistas, que decorreu em Lisboa.
"Mas não havendo terceira travessia do Tejo qual a vantagem [do Barreiro] relativamente a Setúbal?, questionou, referindo que "as infraestruturas no Barreiro são extremamente caras", enquanto Setúbal "já tem infraestrutura e deve ser avaliado como um porto da área metropolitana".
Questões que a Ordem dos Engenheiros gostava de ver discutidas e para as quais elaborou, em 2012, um documento orientador para investimentos públicos, que entregou a este Governo, mas para o qual não obteve resposta.
Como vantagem da localização do Barreiro, o bastonário salientou o contributo para a resolução do problema social do desemprego naquela zona.

Comunidades Portuárias de Lisboa e Setúbal criticam Barreiro 
A mesma opinião foi defendida pela Comunidade Portuária de Lisboa e pela Comunidade Portuária de Setúbal. Ambas criticam a opção do Barreiro para a localização do novo terminal de contentores do porto de Lisboa. Em carta enviada ao chefe de gabinete do secretário de Estado das Infra-estruturas e dos Transportes, Sérgio Silva Monteiro, o presidente da Comunidade Portuária de Setúbal (CPS), Frederico Spranger, sublinha que "qualquer estudo comparativo que envolva a região da Grande Lisboa deve ser realizado/acompanhado a um nível superior do IMT [Instituto da Mobilidade e dos Transportes, órgão regualdor do sector] ou Secretaria de Estado, devendo sempre incluir a larga oferta existente no porto de Setúbal, visto que se trata de um porto com capacidade instalada disponível, e desaproveitada, com ligações rodo e ferroviárias excelentes e com boas condições de acessibilidades marítimas".
Frederico Spranger, além de liderar a CPS, é também presidente da Lisnave, e enviou esta carta, datada de 8 de Outubro, para a APL - Administração do Porto de Lisboa - que efectuou o estudo comparativo entre as várias localizações para um novo terminal de contentores na zona da capital - e para a APSS - Administração dos Portos de Setúbal e de Sesimbra. As comunidades portuárias reúnem o conjunto dos diversos operadores e empresas que operam na área gerida pelos respectivos portos, incluindo concessionários de terminais, armadores, exportadores e importadores, despachantes, entre outros agentes.
"A proximidade geográfica Setúbal/Lisboa, que implica a sobreposição de ‘hinterlands' [áreas de influência] e a actuação dos dois portos no mesmo mercado, sabendo-se que a actividade portuária é sensível aos benefícios de escala e existindo já no porto de Setúbal uma infra-estrutura com capacidade disponível para servir o aumento do tráfego de contentores na região no segmento ‘short sea' [tráfego marítimo de curta distância], entendemos ser Setúbal um excelente porto para desenvolver em todos os tráfegos e em particular nos contentores", defende Frederico Spranger.
Na mesma missiva, o presidente da CPS sublinha que "é fundamental considerar a complementaridade entre os dois portos quando estão em causa áreas comuns a ambos os portos, investimentos e interesses públicos". E interroga-se: "se já existe alternativa de baixo custo, para quê desperdiçar os nossos impostos em projectos megalómanos?".
"A existir no Barreiro algum potencial, deverá ser resguardado para e quando houver aumento da procura que justifique uma nova construção em infra-estruturas portuárias feitas de raiz que representam sempre investimentos avultados, adicionados ainda a outros investimentos em acessibilidades terrestres e outros", alerta Frederico Spranger na referida carta.
Recorde-se que já a 1 de Outubro, a Comunidade Portuária de Lisboa se havia insurgido contra a escolha do Barreiro para a construção do novo terminal de contentores do porto de Lisboa.
A tudo isso o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, disse que o executivo deverá decidir em Março a localização do terminal de contentores da região de Lisboa.
"O Barreiro, se for viável, e os agentes económicos continuarem interessados no terminal, avança. Se não for viável ou os agentes económicos não estiverem interessados, não avança", afirmou Sérgio Monteiro no dia 29 de Outubro. O membro do executivo declarou ainda que "outras localizações vão sendo afastadas".
"Não há sinal até agora de que há desconforto sobre a localização Barreiro. Do ponto de vista de atravessamento do canal, os agentes preferiam a Trafaria, mas o Barreiro reúne mais consenso porque a autarquia quer o investimento. Depois, temos menos investimento no caminho-de-ferro. No caso da Trafaria era preciso construir linha, cujo custo estimado seria de 160 milhões de euros", disse o secretário de Estado.

Conferência a 4 de Dezembro em Setúbal 
Opção do Barreiro criticada por muitos 
A Comunidade Portuária de Setúbal quer chamar a atenção do país para o Porto de Setúbal, uma infraestrutura que está pronta para responder ao desafio do Governo de aumentar o movimento de contentores, em portos nacionais, dos 2,2 milhões para os 6,5 milhões, até 2020. Isto sem investimento adicional.
Para dar conta das vantagens e potencialidades do porto sadino, a CPS vai realizar a conferência “Porto de Setúbal – A Resposta Imediata – uma estratégia portuária coerente”, no dia 4 de Dezembro, às nove horas, no Fórum Luísa Todi, em Setúbal. A sessão conta com a participação do Ministro da Economia, António Pires de Lima.
Durante a conferência, o Professor José Augusto Felício, presidente do Centro de Estudos de Gestão do ISEG, vai apresentar as conclusões do estudo “Análise comparativa de serviços de contentores do Porto de Setúbal com o Porto de Lisboa”.
Segue-se um debate que conta com a participação de José Eduardo Martins (ex-secretário de Estado do Ambiente do XV Governo Constitucional), Pedro Reis (presidente da Plataforma de Media Privados e ex-presidente do AICEP) e de Tiago Pitta e Cunha (assessor da Presidência da República para os Assuntos do Mar), moderado por Ricardo Costa, diretor do jornal Expresso.

Agência de Notícias

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