Homenagem a Alfredo da Silva gera controvérsia no Barreiro

PCP diz que homenagem foi "um insulto aos trabalhadores". PSD diz que foi "uma oportunidade" para o futuro

A homenagem a Alfredo da Silva, fundador da CUF, promovida durante a semana passada causou "mal-estar" entre comunistas e social-democratas do concelho. O PCP Barreiro considera que a homenagem foi “um insulto aos trabalhadores e ao povo do Barreiro”. Para os comunistas a iniciativa promovida pela Baía do Tejo, “escamoteou o carácter de violenta e feroz repressão sobre os trabalhadores em luta, de recusa ao diálogo com os sindicatos e autoritarismo implacável que o caracterizou”. Ao invés, os social-democratas do Barreiro, "louvam" a iniciativa, a dinâmica e as oportunidades que a mesma trouxeram ao concelho, criticando a postura "profundamente arrogante e autoritária" dos comunistas. 

PCP discorda da homenagem a Alfredo da Silva 

A iniciativa trouxe ao Barreiro vários ministros entre outras entidades ligadas à economia para lembrar a vida e obra do fundador da CUF, Alfredo da Silva. No entanto, de acordo com o PCP do Barreiro, a promoção desta homenagem no ano em que se assinalam os 40 anos da Revolução de Abril tem um “carácter verdadeiramente provocatório e merece o repúdio de quem viveu aqueles tempos de exploração e de quem, na atualidade, está sofrendo os resultados de décadas de política de direita”.
Dizem os comunistas que "Alfredo da Silva foi desde a primeira hora um dos sustentáculos do regime fascista, que condenou o povo português à fome, à exploração, à miséria, à guerra, ao obscurantismo e à privação das liberdades”, refere um comunicado do partido.
"Os trabalhadores e o povo do Barreiro bem conhecem a verdadeira face desse que é hoje apresentado como industrial visionário: a face da brutal exploração dos operários, da repressão sobre todas as formas, de suporte e de dirigente omnipresente do regime fascista implantado em Portugal, que requisitou e instalou a PIDE e a GNR nas fábricas da CUF, no Barreiro, para reprimir quem ousasse levantar a voz contra o sistema", afirmou o Executivo da Comissão Concelhia do Barreiro do Partido Comunista Português.
“O facto de o Governo do PSD-CDS, usar esta iniciativa como pretexto para reapresentar a sua proposta sobre uma suposta 'reindustrialização' do país, revela até onde pode ir a sua hipocrisia e revela os modelos que estão dispostos a seguir”, diz o comunicado. 
Os comunistas dizem que estes [PSD e CDS-PP] são "os mesmos que desbarataram a oportunidade do aproveitamento das nacionalizações e da criação da Quimigal, impedindo que esta fosse colocada ao serviço da economia nacional e das populações e lançaram no desemprego milhares de trabalhadores do Barreiro, que insistem numa política de desastre nacional e de desmantelamento do aparelho produtivo e são os mesmos que, utilizando dinheiros públicos, promovem agora esta inusitada homenagem".
O facto de o Governo do PSD-CDS, usar esta iniciativa como pretexto para reapresentar a sua proposta sobre uma suposta “reindustrialização” do país, revela até onde pode ir a sua hipocrisia e revela os modelos que estão dispostos a seguir, conclui o comunicado do PCP Barreiro.

Atitude "profundamente arrogante e autoritária" do PCP 
Em sentido inverso, a concelhia social-democrata "felicita" a iniciativa pela sua "vital importância". Para Bruno Vitorino, líder do PSD Barreiro [e vereador da autarquia], a iniciativa da Baía Tejo trouxe "momentos de grande relevância económica e empresarial, sendo de destacar os anúncios feitos por membros do Governo, justamente no Museu Industrial da Baía do Tejo, quer da conquista da oportunidade – até aqui, inexistente – das empresas do concelho do Barreiro e dos demais concelhos da Península de Setúbal de poderem receber ajudas de Estado e de terem acesso aos fundos comunitários regionais, quer das perspectivas favoráveis quanto ao alargamento da actividade portuária no Barreiro". 
Bruno Vitorino destacou ainda os momentos culturais e a "capacidade de quebrar barreiras e de preparar o Barreiro para uma necessária e tranquila reconciliação com o seu passado, mas sempre de olhos postos no futuro e na rentabilização económica daqueles territórios, com vista à atração de investimento e criação de emprego". 
O PSD do Barreiro lamenta "o alheamento e a quase total ausência, falta de cortesia institucional e hostilidade da maioria CDU na Câmara do Barreiro. Mostrando que às boas intenções sistematicamente propagandeadas não corresponde, de modo algum, uma actuação consistente e empenhada em benefício de todos, independentemente da sua cor partidária". 
Diz ainda Bruno Vitorino que "afinal, o desenvolvimento, o crescimento económico e, logo, o emprego, não interessam verdadeiramente à maioria CDU na Câmara do Barreiro". 
E mais lamentável, diz ainda o líder social-democrata do concelho, "é o teor do radical – e, em si, profundamente arrogante e autoritário – comunicado da Comissão Concelhia do Barreiro do PCP condenando, alegadamente 'em nome do povo e dos trabalhadores do Barreiro', a realização da iniciativa em apreço". 
Esta atitude comunista, diz Bruno Vitorino, "faz-nos acreditar que após um período de relativo equilíbrio, personificado pela liderança do actual presidente da Câmara do Barreiro, Carlos Humberto, o PCP se prepara já – da pior e mais sectária forma possível – para a sua sucessão". 
Se acontecer, garante o PSD, o Barreiro corre "o enorme risco de, na falta de um recuo ou de uma mudança séria e consistente, não ser possível aproveitar as oportunidades que se avizinham e que o Governo da República, muito justamente, tem dinamizado". conclui o comunicado da concelhia social-democrata. 

Quem foi Alfredo da Silva? 
Alfredo da Silva foi um industrial português, um dos maiores empreendedores numa época em que contrastava com o ritmo de Portugal. Foi o fundador de um império abrangendo empresas emblemáticas, como a Companhia União Fabril (CUF), a Tabaqueira, o Estaleiro da Rocha do Conde de Óbidos (depois Lisnave), a Carris, o Banco Totta e Companhia de Seguros Império.
Em 1907 a Companhia União Fabril estava em plena expansão e era necessário encontrar um local para instalar novas unidades fabris. Alfredo da Silva escolheu o Barreiro. A pequena vila à beira do Tejo nunca mais viria a ser a mesma. De resto a empresa veio a espalhar várias fábricas pelos país, empregando 16 mil trabalhadores ao todo. O lema da CUF era "O que o País não tem, a CUF cria". Ao prestígio de Alfredo da Silva e da sua empresa não era alheio o facto de esta oferecer excelentes condições de trabalho aos seus funcionários e às respectivas famílias (bairros residenciais, ensino gratuito), escrevem alguns historiadores. "A CUF tornava-se de forma cada vez mais visível o 'baluarte da indústria nacional', transformando a pacata povoação do Barreiro num activo pólo industrial".
Alfredo da Silva foi vitima de dois atentados fracassados o que o conduziu a exilar-se para Espanha e França gerindo a CUF à distância. O industrial morreu em 1942, em Sintra. A empresa viria perder força e poder a partir do 25 de Abril.

Agência de Notícias

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