Famílias retiradas de bairro clandestino em Setúbal

Construções clandestinas em antiga fábrica de Setúbal foram demolidas

Quarenta e oito famílias foram retiradas de um bairro clandestino em Setúbal. O Tribunal ordenou a demolição do edifício depois de um relatório da Proteção Civil ter admitido que havia risco de ruína. As habitações surgiram ilegalmente, nos últimos dois anos, na antiga fábrica mecânica setubalense. A operação foi acompanhada pela PSP e pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteira. As autoridades garantem casa para todos mas anda ninguém sabe muito bem para onde vai. O Bloco de Esquerda, que tem acompanhado a situação, já disse que "apenas oito famílias foram realojadas, a maioria da população ficou sem alternativas viáveis", criticando a falta de soluções da autarquia de Setúbal, do Governo e da Segurança Social. 


Quase 100 pessoas viviam na antiga fabrica de Mecânica Setubalense 

O Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS) iniciou nesta quinta-feira de manhã a demolição de diversas construções clandestinas nos terrenos da antiga fábrica Mecânica Setubalense, em Setúbal, disse à Lusa Beatriz Imperatori, vogal do conselho directivo.
O IGFSS, proprietário do terreno, "foi intimado pelo tribunal a proceder ao desalojamento e posterior realojamento das famílias que residem ilegalmente na antiga fábrica Mecânica Setubalense por razões de segurança", explicou a responsável, no local.
Beatriz Imperatori informou que se trata de uma decisão do Tribunal de Setúbal, na sequência de um relatório da Protecção Civil municipal que "alertava para a falta de condições de segurança de uma empena da antiga fábrica, actualmente em ruínas".
Segundo a responsável, cerca de "90 por cento dos 48 agregados familiares, com um total de cerca de 100 pessoas, já têm casa atribuída, uma vez que preenchiam todos os requisitos legais para o efeito".
Algumas famílias já estão nas habitações que lhes foram atribuídas, mas outras vão ter de aguardar temporariamente noutros alojamentos até que as novas casas estejam concluídas. Outros moradores, no entanto, disseram à reportagem da RTP que "o alojamento é apenas para hoje amanhã". O mesmo morador disse ainda que lhe foi atribuída uma casa "a dividir com outra pessoa que não conheço". Noutros casos, a residência atribuída fica a mais de 100 km de Setúbal, em Tomar. É o caso de Gualdino Brito que acordou em Setúbal e já sabe que terá casa em Tomar, no distrito de Santarém. "Eu não tenho família em Tomar, nem conheço ninguém naquela cidade e muito menos tenho trabalho lá. A minha família é toda de Setúbal, se precisar de alguma coisa em Tomar que é que me ajuda?", dizia o jovem aos microfones da televisão pública portuguesa. 
As famílias retiradas de um bairro clandestino de Setúbal foram apanhadas de surpresa pela intervenção da PSP e do SEF. A grande dúvida é que nenhuma das famílias sabe para onde deve ir depois de terem sido desalojadas. Outras das queixas dos moradores foi a surpresa com que a operação ocorreu. "Muitas famílias deixaram a roupa e os bens dentro das casas e houve até cães, patos e galinhas que não puderam sair do local por ordem das autoridades", dizia uma moradora.
No local, na zona de Vila Maria, estavam ontem de manhã dezenas de polícias e algumas pessoas estavam a retirar os seus pertences das construções para que as demolições pudessem avançar. Beatriz Imperatori disse que o ambiente na área das construções, onde os jornalistas não têm acesso, "é relativamente tranquilo". 

BE diz que apenas oito famílias serão realojadas 
No bairro clandestino de Setúbal existiam muitas crianças 
Nos últimos meses o Bloco de Esquerda visitou o bairro e questionou a Câmara de Setúbal e o Governo através da deputada Mariana Aiveca, eleita do Bloco de Esquerda pelo círculo de Setúbal, sobre as formas de proporcionar uma habitação digna para estas famílias, com tantas pessoas desempregadas, precárias e crianças. O Governo, diz o BE, "respondeu que em Junho passado tudo ficaria resolvido, todas as famílias seriam realojadas". 
O BE explica ao ADN que "apenas oito famílias foram realojadas, a maioria da população ficou sem alternativas viáveis, restando-lhes apenas as duas noites que a Segurança Social caridosamente lhes dá em pensões de Setúbal e Alcântara (Lisboa)".  Para além disso, diz o BE, "muitos dos seus pertences existentes nas casas não foram possíveis de recuperar e móveis e electrodomésticos ficaram amontoados num armazém".
Perante isso, diz o Bloco de Esquerda, "em vez de integrar as pessoas, tanto o município de Setúbal como a Segurança Social preferiram marginalizar estas famílias, tirando-lhes casas, pertences e laços sociais ali construídos. Quem tinha a sua vida construída em Setúbal terá um de dois cenários: ou fica em Setúbal sem apoio nenhum; ou tendo a possibilidade de receber apoio será certamente realojado fora do seu espaço de sociabilidade, tendo que recomeçar toda a sua vida". 
"É contra isto e em solidariedade com estas famílias que o Bloco de Esquerda se insurge. Alertamos para a incerteza e o sofrimento destas pessoas que, a partir de hoje ou a partir do próximo fim-de-semana se encontrarão desprotegidas e abandonadas", disse a assessora do BE ao ADN.

Agência de Notícias

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