TVI mostra como foi sequestro em Pinhal Novo

O "último refugio", uma história de um sequestro único em Portugal que marcou Pinhal Novo  

Em Novembro do ano passado, um imigrante moldavo fez uma família inteira refém, no Restaurante "O Refúgio", em Pinhal Novo. Na tentativa de salvar as vítimas, um militar da GNR acabou morto pelo sequestrador. Outras pessoas ficaram feridas com o rebentamento de granadas. Um crime que ainda hoje, em Pinhal Novo, difícil de explicar e complicado de aceitar. A TVI fez a reconstituição daquela noite, cruzou dados e depoimentos, ouviu testemunhas em Pinhal Novo, Santiago do Cacém e na longínqua Etulia, na Moldávia, de onde chegou o imigrante à procura de uma vida melhor. Uma reportagem única que procurou respostas para um crime que muitos teimam em não compreender. Um trabalho de Lisete Reis com imagem de Bernardo Magalhães, edição de imagem de João Ferreira e grafismo de Ricardo Fernandes. Veja a reportagem da TVI AQUI


GNR, após várias tentativas de diálogo, acabou entrar no restaurante
Quatro mil quilómetros, oito países e 28 anos separam Bruno Chainho e Mihail Codja. Mas no caminho que os leva a ganhar a vida, fazem do Pinhal Novo o mesmo apeadeiro. O último refúgio onde ambos acabam por perder a vida.
Bruno nasceu em 1982, num Alentejo que ainda não era Europa. Numa época em que a Rússia ainda não era Rússia e a Moldávia ainda era Soviética, Mihail tinha nesta altura 28 anos. Já tinha ido à guerra, já tinha feito escola.
Mihail fez a primeira vida em Etulia, uma pequena localidade no sul da Moldávia: a região mais pobre do país mais pobre da europa. Tinha quatro irmãos e uma mão cheia de nada. Depois de oito anos de escola, todos desaguavam na unidade agrícola de Etulia. Mihail fazia a ordenha das vacas, a aldeia fazia o comunismo de Karl Marx.
Casou, trabalhou na capital do país, como motorista de autocarro e fez serviço militar no exército soviético.
Já Bruno, alentejano, sonhador, filho único, quis ser militar muito antes de querer ser gente. Do monte para a escola, na aldeia de Santo André, e da escola da aldeia para uma verdadeira escola de vida.
Bruno Chainho tinha 19 anos quando em 2002 entra nos fuzileiros. E aqui, pela primeira vez, jura dar a vida pela pátria.
Já as portas da Moldávia estavam abertas ao mundo quando em 1999 Mihail Codja aponta destino a Portugal. O agora imigrante moldavo começa a trabalhar como pintor para um empreiteiro do Pinhal Novo.
Havia dinheiro, havia trabalho, poucos sorrisos e ainda menos amigos.
Em 2007, Bruno sai do batalhão de fuzileiros número um, onde deixa amigos e um sonho a meio caminho. Sem canudo, sem estudos mas com coragem e determinação, Bruno não desiste de ser militar. Em 2011 entra na Guarda Nacional Republicana.
Vestido para a sua última missão, a 23 de Novembro de 2013 Mihail de Etulia, Miguel do Pinhal Novo, dirigiu-se ao restaurante que há anos tinha ajudado a construir e entrou onde não voltou a sair.

Os últimos momentos
Militares da GNR cercaram toda a área durante toda a madrugada 
Eram 22 horas: “O refúgio” estava quase vazio. Os proprietários preparavam-se para fechar e mal sabiam que o restaurante não voltaria a abrir. Apesar dos testemunhos, das evidências e das declarações que constam no relatório tático-policial da GNR, a origem das armas tem várias versões.
As granadas, tal como a pistola, são de fabrico soviético. E podem ter sido trazidas para Portugal na única viagem de carro à Moldávia feita por Mihail em 2010. De acordo com a família, Mihail nunca esteve no Afeganistão, mas sim na guerra do Cazaquistão e terá sido de lá que trouxe pelo menos uma arma.
Bruno Chainho avança, porque era o mais velho da patrulha. Porque Bruno não tinha medo. E assim foi. Bruno tem morte imediata, mas naquela noite ainda ninguém sabia disso.
Ao todo, 135 militares da Guarda estiveram envolvidos na resolução. Dino Ferreira foi a última pessoa a falar com Mihail. Era o seu melhor amigo. E nem ele tem as explicações que a razão desconhece.
O contrato de empreitada de maio de 2006, entre o dono do restaurante, Gaspar Veloso, e o patrão de Miguel, Alfredo Moreira, indica um valor de 46 mil euros que ambas as partes garantem ter sido pago.
Depois de cerca de 10 anos a trabalhar como pintor da construção civil, o imigrante tinha sido dispensado da empresa de Alfredo Moreira: Mihail passa a receber cerca de 400 euros do subsídio de desemprego, mas poderia ter recebido mais do ex-patrão.
Nos últimos tempos a falta de dinheiro de Mihail estava aos olhos de todos, mesmo que ninguém tenha visto. Passou a viver numa garagem e dormia dentro do carro.
No total Mihail fez 10 disparos da makarov e 4 da glock que tirou ao militar da GNR. Matou um cão da guarda e feriu outro. Foi atingido por 3 disparos. Morreu como um soldado, sem dar tréguas, com as duas armas nas mãos.
O corpo de Bruno Chainho só foi resgatado de madrugada. O militar estava morto há várias horas. Tinha 31 anos. Em tão curta vida jurou duas vezes dar a vida pelo país. Morreu para salvar quatro portugueses.
O corpo de Mihail foi cremado e regressou de onde partiu, Etulia, Moldávia. Bruno Chainho foi sepultado em Santo André, concelho de Santiago do Cacém, onde cresceu, viveu e sonhou salvar pessoas. A família ainda espera por uma indeminização do estado português. O Restaurante “O Refúgio” fechou para nunca mais abrir. O Pinhal Novo, terra de sossego, jamais esquecerá aquela noite de desassossego de uma madrugada fria de Novembro.    
Assista AQUI à reportagem da TVI que conta como tudo aconteceu em Pinhal Novo. 

Notícias relacionadas: 
Sequestrador e militar da GNR mortos no Pinhal Novo“O Refúgio” na madrugada de terror em Pinhal Novo

Agência de Notícias
Leia outras notícias do dia em www.adn-agenciadenoticias.com

Comentários