160 quilos apreendidos e 47 infrações: Alcochete no centro do tráfico de bivalves

Operação da GNR expõe circuito clandestino de amêijoa-japonesa e dezenas de infrações

Uma fiscalização da GNR em Alcochete terminou com a apreensão de 160 quilos de amêijoa-japonesa e a deteção de 47 infrações relacionadas com apanha e comércio ilegal de bivalves. A operação envolveu vários destacamentos e pretendeu reforçar a segurança e combater a atividade clandestina ligada à exploração deste recurso.
Nada faz parar a apanha de amêijoa em Alcochete 

Na quarta-feira, 5 de Novembro, o Comando Territorial de Setúbal da GNR realizou uma ação de fiscalização no concelho de Alcochete, com o apoio do Destacamento Territorial do Montijo. O objetivo era “detetar eventuais ilícitos e reforçar o sentimento de segurança” junto da população, afirmou a força policial em comunicado.
Durante a ação foram fiscalizados vários indivíduos envolvidos na apanha, transporte e comercialização de bivalves, sobretudo amêijoa-japonesa. O resultado foi a elaboração de 47 autos de contraordenação: 28 ao Código da Estrada, 16 à legislação complementar, dois por permanência ilegal em território nacional e um por transporte de amêijoa sem o Documento de Registo de Moluscos Bivalves Vivos. Um dos visados recebeu ainda uma notificação para abandono voluntário do país.
A operação acabou por resultar na apreensão de 160 quilos de amêijoa-japonesa e de dois veículos utilizados durante a atividade ilegal.

Produto contaminado e rotulagem falsa: risco na mesa dos consumidores
De acordo com a GNR, a recolha de bivalves fora das zonas controladas representa “sérios riscos para a saúde pública”. Estes organismos filtram a água onde se encontram e acumulam microrganismos, metais pesados e substâncias químicas que denunciam os níveis de contaminação das áreas de origem.
No estuário do Tejo, a amêijoa-japonesa apresenta valores elevados de E.coli, metais e metaloides resultantes de décadas de impacto industrial. Apesar de ser imprópria para consumo, redes criminosas falsificam documentos de origem para que o produto seja apresentado como certificado, muitas vezes com etiquetas que apontam para a Galiza ou outras zonas autorizadas. Sem controlo higiossanitário, o bivalve segue para mercados europeus e, em alguns casos, regressa a Portugal mascarado como produto dentro das normas de salubridade.

Exploração humana sustenta redes ilegais de milhões
O sistema ilegal de apanha e venda de amêijoa-japonesa não é novo e é controlado por poucas redes organizadas. Os lucros podem atingir milhões, mas quem recolhe o bivalve vive em precariedade extrema. A apanha é feita duas vezes por dia por imigrantes provenientes de países como Tailândia, Nepal, Malásia, Paquistão, Índia e Roménia.
Esses trabalhadores ganham o mínimo possível, são obrigados a vender apenas aos mesmos intermediários e vivem em alojamentos sobrelotados, pagando rendas muito acima do valor real. Trata-se de um negócio que explora o ambiente, coloca em risco a saúde pública e se aproveita da vulnerabilidade humana.
A pressão sobre os ecossistemas do Tejo tem aumentado, sobretudo nos concelhos ribeirinhos de Alcochete, Montijo, Barreiro, Seixal e Almada.

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