Francisco Jesus resiste e mantém Sesimbra numa eleição de nervos

CDU resiste com uma vitória renhida num concelho dividido a três 

Foi uma noite de voltas, recontagens e suspense até ao último voto. No final, a CDU manteve o comando em Sesimbra por menos de 150 votos de diferença. Francisco Jesus, o rosto comunista que lidera o município, volta a garantir a presidência, mas a margem foi mínima e o equilíbrio político nunca esteve tão instável.
Foi por pouco mas a CDU manteve a Câmara de Sesimbra

Sérgio Faias, pelo Partido Socialista, e Nuno Gabriel, do Chega, estiveram sempre muito perto de conquistar a autarquia, tornando a contagem uma verdadeira montanha-russa. Já Lénia dos Anjos, candidata da coligação AD (PSD e CDS-PP), ficou longe das grandes decisões, mas assegurou alguma representação local.
Em Sesimbra, o eleitorado dividiu-se quase ao milímetro. Num concelho com forte tradição de esquerda, Francisco Jesus (CDU) garantiu 26,32% dos votos - cerca de 6 400 votos - conquistando uma vitória por escassos 150 votos sobre o Chega, que obteve 25,71% (cerca de 6 300 votos).
Logo atrás, o PS arrecadou 25,17% (aproximadamente 6 100 votos), ficando a apenas 279 votos da CDU.
Nunca o cenário político local foi tão equilibrado: uma autêntica fotografia da nova realidade política portuguesa, onde esquerda, direita e centro disputam ombro a ombro cada eleitor.
A coligação AD somou 12,31% (cerca de 3 000 votos), garantindo um vereador e reforçando a sua presença, embora longe da luta principal. Já os restantes partidos mantiveram expressão residual: Iniciativa Liberal (2,9%), Livre (2,7%), Bloco de Esquerda (1,1%) e ADN (0,8%).
O futuro executivo camarário será, por isso, plural: CDU, PS e Chega elegem dois vereadores cada, enquanto a AD assegura um. Um cenário que exigirá diálogo, pontes e soluções partilhadas para garantir a governabilidade.

Um concelho em transição
Os resultados confirmam que Sesimbra está a atravessar uma transformação política profunda. A CDU continua a beneficiar da herança de décadas de trabalho autárquico e proximidade com a população, mas enfrenta agora o desafio de novas forças políticas que captam o voto de protesto e o descontentamento.
O crescimento do Chega - que conquistou a Junta da Quinta do Conde, a freguesia mais populosa do concelho - mostra a força de uma vaga populista que chegou também à Península de Setúbal. O partido, apesar de não conquistar a Câmara, assegurou a vitória na Assembleia Municipal, onde fica com seis mandatos, o mesmo número que PS e CDU. A AD conquistou 3 mandatos.
Nas restantes freguesias, a CDU manteve Castelo e Santiago, reafirmando a sua base tradicional.

Francisco Jesus, o resistente
Francisco Jesus sai destas eleições como um autarca resistente. Herdeiro de uma tradição comunista enraizada, vê-se agora obrigado a adaptar-se a um novo tempo político e social. A sua vitória curta simboliza tanto a fidelidade de uma parte do eleitorado como o aviso claro de que nada está garantido.
"Esta vitória é o reflexo do trabalho contínuo e da confiança que os sesimbrenses depositam em nós", afirmou Francisco Jesus na noite eleitoral.
Sesimbra, símbolo histórico da esquerda, entra assim num novo ciclo: mais plural, mais imprevisível e, acima de tudo, mais participativo.

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