Falta de meios na CPCJ de Palmela: “Cada processo é uma vida em risco”

“Trabalhamos no limite”: comissão alerta para falhas do Estado na proteção das crianças

O presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Palmela, Vítor Silva, lançou um forte alerta sobre a falta de meios humanos e técnicos que põem em causa a resposta a situações de risco infantil. “Cada processo representa uma criança, uma vida em risco. Uma urgência que não pode ficar em lista de espera”, frisou. O alerta mereceu o apoio do presidente da Câmara Municipal, Álvaro Amaro, que considerou este discurso “um grito de desespero”. 
Comissão local recebe 700 processos por ano sem meios suficientes

Durante uma sessão recente, Vítor Silva descreveu a situação da CPCJ de Palmela como insustentável, revelando que os constrangimentos locais refletem um problema que atravessa todo o país. O dirigente recordou que “a proteção de crianças e jovens é uma responsabilidade central do Estado e da sociedade, consagrada na Convenção dos Direitos da Criança e na Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo”, mas lamentou que, na prática, “muito pouco se tem feito” para concretizar esse compromisso.
A CPCJ de Palmela recebe em média 700 processos por ano, o que equivale a cerca de 250 processos ativos todos os meses. “É a primeira linha de defesa contra situações de perigo, mas enfrenta sérias limitações que se arrastam desde a sua criação”, sublinhou o presidente.
Entre os problemas mais graves apontados estão a falta de técnicos permanentes, a ausência de representantes de ministérios-chave, a escassez de estruturas de acolhimento e a carência de respostas de apoio às famílias.

Uma equipa reduzida ao mínimo
Apesar de a lei prever equipas multidisciplinares robustas, a CPCJ de Palmela conta hoje apenas com três técnicos em permanência - um do município, um da Segurança Social e um do Ministério da Educação. “A equipa deveria ter oito profissionais a tempo inteiro, mas a realidade é bem diferente”, destacou Vítor Silva.
O dirigente criticou ainda a postura do Estado, que “tem dado soluções conjunturais e nunca estruturais”. Nos últimos anos, as CPCJ receberam mais competências e mais processos, mas sem que o modelo de funcionamento fosse repensado.
Um exemplo disso foi a alteração à lei da violência doméstica em 2021, que reconheceu as crianças como vítimas diretas quando expostas a este tipo de crime. Apesar de ter considerado a medida “uma conquista civilizacional”, Vítor Silva alertou que ela trouxe “um aumento significativo de processos” sem o reforço necessário de meios técnicos e humanos.
Em 2024, foi anunciado um grupo de trabalho para propor reformas, mas a queda do Governo e a convocação de eleições suspenderam o processo.

“Trabalhar até à exaustão”
“O que falha não são os profissionais, que todos os dias dão mais do que têm. O que falha são as tutelas e as instituições que se ausentam das suas responsabilidades”, afirmou o presidente da CPCJ de Palmela.
O alerta mereceu o apoio do presidente da Câmara Municipal, Álvaro Amaro, que considerou este discurso “um grito de desespero” partilhado pela maioria das comissões em todo o país. “A generalidade das CPCJ está a trabalhar até à exaustão. Isto é urgente”, concluiu o autarca. 

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