Dores Meira volta a brilhar: Setúbal muda de cor e CDU cai após 23 anos

Independente com apoio de PSD e CDS vence e quebra hegemonia comunista na capital do distrito 


A candidata independente Maria das Dores Meira, apoiada pelo PSD e CDS-PP, reconquistou a Câmara Municipal de Setúbal com 29,91% dos votos, pondo fim a mais de duas décadas de governação comunista. A vitória, considerada “expressiva” pela própria, marca um regresso político surpreendente e uma noite longa e intensa na cidade sadina.
Maria das Dores Meira celebra a vitória na noite eleitoral

A noite eleitoral foi longa em Setúbal. O PS andou sempre perto, mantendo-se colado à candidata independente nas contagens que se prolongaram até de madrugada. Mas, no fim, foi mesmo Maria das Dores Meira quem voltou a sentar-se na cadeira do poder da Câmara Municipal de Setúbal.
As primeiras projeções deixaram os apoiantes de Meira em sobressalto, mas a candidata cedo garantiu confiança na vitória. Quando chegaram à sede de campanha, já perto da primeira hora desta segunda-feira, o ambiente era de festa. “Ganhámos contra tudo e contra todos, foi fantástico”, afirmou, emocionada, destacando uma diferença de cerca de 1 200 votos face ao PS. No final, os números oficiais confirmaram a margem: 1 338 votos de vantagem.
O Partido Socialista, liderado em Setúbal por Fernando José, alcançou 27,48% dos votos, elegendo o mesmo número de vereadores que a lista de Dores Meira. O Chega ficou em terceiro lugar, com 18,07% e dois vereadores eleitos, seguido da CDU, que, com apenas 11,43%, conseguiu eleger um único representante.
“É um regresso com muita força e entusiasmo, com este povo todo à espera deste momento”, declarou Meira, que governou o município entre 2006 e 2021, então pela CDU.

CDU reconhece derrota e elogia percurso
O presidente cessante da Câmara, André Martins, reconheceu a derrota ainda antes do fecho oficial da contagem. Num comunicado, agradeceu aos setubalenses e lembrou que a CDU “mudou radicalmente o concelho” ao longo de 23 anos de liderança.
A derrota da CDU é histórica: Setúbal era uma das duas capitais de distrito ainda governadas pela coligação comunista, e a vitória de Dores Meira representa também a primeira conquista de sempre do PSD e do CDS na cidade. Curiosamente, a candidata evitou usar símbolos partidários, apresentando-se sempre como independente, mesmo com o apoio formal das duas forças políticas.
Questionada se esse apoio poderia ter prejudicado a sua candidatura, respondeu com firmeza: “Já tínhamos pessoas do PSD e CDS nas nossas listas antes de esses partidos nos darem o seu apoio”. 

Assembleia e freguesias: novo equilíbrio político

Na Assembleia Municipal, o movimento “Setúbal de Volta”, liderado por Meira, obteve 10 mandatos, o mesmo número que o PS. O Chega conquistou 7 mandatos, a CDU ficou com 4, e tanto a Iniciativa Liberal como o Livre conseguiram 1 mandato cada.
Comparando com 2021, a CDU perdeu 8 mandatos, evidenciando uma viragem clara no mapa político setubalense.
Já nas Juntas de Freguesia, o PS venceu em três: União das Freguesias de Azeitão (São Lourenço e São Simão), União das Freguesias de Setúbal (São Julião, Nossa Senhora da Anunciada e Santa Maria da Graça) e São Sebastião. A CDU manteve apenas Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra e Sado.

Uma vitória pessoal e simbólica
A noite foi de emoções fortes para Maria das Dores Meira, que regressa à autarquia que liderou durante 15 anos. “Foi uma campanha muito dura, muito negra, mas vencemos com o apoio das pessoas e com a verdade”, afirmou.
A vitória traduz-se não apenas no seu regresso à liderança municipal, mas num novo capítulo político para Setúbal, agora sob a bandeira de um movimento independente que promete “governar para todos, sem cores partidárias”.

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