Arrábida ganha estatuto mundial: UNESCO distingue serra como Reserva da Biosfera

A "serra mãe" da região conquista estatuto internacional e junta-se à rede global da UNESCO

A Serra da Arrábida foi reconhecida pela UNESCO como Reserva da Biosfera, juntando-se a uma rede mundial que inclui locais icónicos como Yellowstone ou as ilhas Galápagos. O anúncio foi feito este sábado, durante o encontro internacional em Hangzhou, na China, e representa um marco histórico para a região de Setúbal. A candidatura, apresentada pela Associação dos Municípios da Região de Setúbal em parceria com Palmela, Sesimbra, Setúbal e o ICNF, veio coroar quase uma década de trabalho.
Serra da Arrábida, agora Reserva da Biosfera da UNESCO

Com cerca de 200 quilómetros quadrados, distribuídos entre Palmela, Sesimbra e Setúbal, a Arrábida foi descrita pela UNESCO como uma paisagem única, onde a serra dialoga com o oceano e abriga um património natural e cultural de valor excecional. Portugal passa assim a contar com 13 Reservas da Biosfera reconhecidas internacionalmente.
Na avaliação do Comité Internacional, a serra distingue-se pela diversidade: mais de 1 400 espécies de plantas – cerca de 40 por cento da flora nacional – incluindo 70 espécies raras e endémicas; 200 espécies de vertebrados; e mais de duas mil espécies marinhas. O plano de ação apresentado pelos municípios e pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas mereceu elogios por alinhar conservação, desenvolvimento sustentável e resiliência climática.

Um caminho iniciado há quase uma década
A candidatura foi coordenada pela Associação dos Municípios da Região de Setúbal e assinada em conjunto com as autarquias de Palmela, Sesimbra e Setúbal, além do ICNF. O processo começou em 2016 e só agora recebeu aprovação definitiva, entre 25 propostas apresentadas por 20 países.
Para André Martins, presidente da Associação dos Municípios da Região de Setúbal e autarca de Setúbal, trata-se de uma “certificação valiosa e com responsabilidade acrescida”, que permitirá à serra afirmar-se como destino de visita e de boas práticas ambientais.
A Rede de Reservas da Biosfera de Portugal, organizada sob a égide da Comissão Nacional da UNESCO de Portugal, integra 12 locais, designadamente Paúl do Boquilobo, Berlengas, Castro Verde, Gerês/Xurés, Meseta Ibérica, Tejo/Tajo), Corvo, Graciosa, Flores, Fajãs de São Jorge, Santana e Porto Santo. A Arrábida é a 13º local da lista. 

Desafios persistem: a sombra da cimenteira
Apesar da distinção, a Arrábida continua a enfrentar desafios estruturais. A presença da cimenteira da Secil, em Outão, já tinha travado a ambição de transformar a serra em Património Mundial em 2014. Para associações ambientalistas como a Zero e a Liga para a Proteção da Natureza, a designação como Reserva da Biosfera dá mais responsabilidade ao Governo na forma como gere o território.
Jorge Palmeirim, biólogo e dirigente da LPN, lamenta: “A fábrica está a comer a serra, alimenta-se dela. E isto tem um impacto irreversível”. Já a Secil defende que a sua presença centenária na região “não prejudica o ecossistema”, afirmando que a atividade sempre coexistiu com a natureza.

Rede mundial e futuro sustentável
Delegação portuguesa chefiada por Álvaro Amaro na China 
A Arrábida junta-se agora a uma rede de 785 Reservas da Biosfera espalhadas por 136 países. Entre elas estão parques e áreas de referência mundial, como o Serengueti, em África, ou o Parque Nacional de Doñana, em Espanha.
Os municípios envolvidos acreditam que este novo estatuto vai impulsionar a valorização do território, estimular práticas de conservação e reforçar o turismo sustentável. “A missão é clara: proteger, promover e viver a Arrábida em equilíbrio”, resume André Martins.

Novas Reservas da Biosfera aprovadas pela UNESCO este sábado 

  • Albânia – Vale Vjosa
  • Angola – Quiçama
  • Arábia Saudita – Imam Turki Bin Abdullah
  • China – Daqingshan e Zhouzhi
  • Djibuti – Arquipélago dos Sete Irmãos
  • Etiópia – Floresta Anywaa
  • França – Lago do Bourget (entre o Rhône e os Alpes) e Pântanos e Marés (entre o Loire e o Vilain)
  • Grécia – Monte Parnon – Cabo Maleás
  • Guiné Equatorial – Ilha de Bioko
  • Islândia – Snæfellsnes
  • Índia – Cold Desert
  • Indonésia – Raja Ampat
  • Jordânia – Ajloun e Yarmouk
  • Madagáscar – Mantadia e Tsimembo
  • Malásia – Kinabatangan
  • Mongólia – Khomyn Tal
  • Omã – Al Jabal Al Akhdar e Sirrin
  • Portugal – Serra da Arrábida
  • São Tomé e Príncipe – Ilha de São Tomé
  • Suécia – Storkriket
  • Tajiquistão – Romit  
A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, destacou que a rede global de Reservas da Biosfera “cresceu para mais de 750 territórios em 136 países”, constituindo uma plataforma de cooperação internacional em defesa da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável.

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