Mordida e esfaqueada 49 vezes: o terror doméstico que terminou em morte
Pedro, segurança no Aeroporto de Lisboa, foi acusado de matar brutalmente a companheira com quem vivia há 17 anos. O crime ocorreu no Barreiro e envolveu uma dentada no pescoço, 49 facadas e um histórico prolongado de violência doméstica. A enteada também foi vítima de agressões e abusos.
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| 17 anos de violência acabaram em tragédia |
O Ministério Público acusou formalmente um homem de 45 anos, pelo homicídio qualificado da sua companheira, Alcinda Cruz, ocorrido a 8 de Janeiro no Barreiro. O crime, descrito como especialmente cruel, marcou o primeiro homicídio em contexto de violência doméstica registado em 2025 em
Portugal.
Pedro, que trabalhava como segurança no Aeroporto de Lisboa, terá mordido a companheira no pescoço, causando-lhe ferimentos graves, antes de a asfixiar e esfaquear 49 vezes. O ataque ocorreu após uma discussão sobre o apoio escolar do filho mais velho. A violência foi presenciada pelo próprio menor, que tentou sem sucesso travar o pai.17 anos de terror dentro de casa
De acordo com o despacho de acusação do Ministério Público do Seixal, e com base na investigação da Polícia Judiciária de Setúbal, Pedro mantinha há mais de 17 anos um padrão de comportamento controlador, ciumento e agressivo.
O casal, natural de Cabo Verde, mudou-se para o Barreiro pouco depois do casamento. Desde então, Alcinda viveu sob um ambiente de opressão: era impedida de manter contacto com a família e amigos, controlada no uso do telemóvel e limitada até na convivência com os filhos, que na altura do crime tinham seis e 14 anos.
A filha de Alcinda, enteada do agressor, foi também vítima de agressões físicas e de importunação sexual, iniciadas ainda na menoridade. Hoje com 22 anos, é também uma peça central na acusação.
Pedro ameaçou suicidar-se antes de matar
Na noite do crime, Pedro abandonou a casa depois de uma discussão com Alcinda, ameaçando suicidar-se. No entanto, regressou pouco depois. Ao ver Alcinda ao telefone com a filha, foi à cozinha, agarrou duas facas e iniciou o ataque. Começou por espancá-la e, numa escalada de violência, mordeu-lhe o pescoço e desferiu-lhe quase meia centena de golpes fatais.
A PSP foi chamada ao local e o agressor entregue à Polícia Judiciária. Desde então, encontra-se em prisão preventiva, medida que ainda se mantém em vigor.
Estatísticas negras que não param de crescer
O caso de Alcinda Cruz junta-se à preocupante estatística da violência doméstica em Portugal. Entre Janeiro e Março de 2025, foram registadas 7056 ocorrências participadas à PSP ou GNR. No mesmo período, 1412 pessoas - entre mulheres, crianças e alguns homens - foram acolhidas na Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica.
5858 vítimas foram protegidas através de teleassistência e 1289 agressores receberam medidas de afastamento. Além disso, 2909 indivíduos foram integrados em programas de reabilitação para agressores.
Sete pessoas (seis mulheres e um homem) perderam a vida no primeiro trimestre de 2025 devido a homicídios em contexto de violência doméstica. Alcinda faz parte dessa lista trágica.
A exigência de mudanças estruturais
Apesar do aumento das denúncias, da aplicação de pulseiras eletrónicas e da criação de programas para agressores, o Conselho da Europa continua a pressionar Portugal por respostas mais eficazes.
A morte de Alcinda, tão brutal quanto evitável, é um alerta ensurdecedor sobre a necessidade urgente de reforçar políticas públicas, proteção às vítimas e prevenção da violência doméstica.
Alcinda Cruz é mais do que uma estatística. É uma mulher cujo sofrimento durou quase duas décadas. É uma voz calada que deveria ter sido ouvida mais cedo.

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