Peritos sugerem nova rede hospitalar para colmatar falta de especialistas em ginecologia e obstetrícia
Perante a escassez de médicos obstetras, peritos da saúde propõem a mobilidade dos profissionais entre hospitais como solução emergente. A recomendação surge numa altura em que a mortalidade infantil regista um aumento preocupante, agravando o cenário na Península de Setúbal. Entre as medidas sugeridas, destaca-se a deslocação dos obstetras do Hospital do Barreiro para Almada e de Vila Franca de Xira para Loures.![]() |
Obstetras podem reforçar outros hospitais para evitar falhas nas urgências |
A proposta, já entregue ao Governo, surge como resposta direta à dificuldade de manter blocos de partos operacionais em várias unidades hospitalares do país, devido à carência de especialistas. Para garantir cuidados seguros às grávidas e manter os serviços de urgência a funcionar, os peritos defendem a concentração dos profissionais em unidades com melhores condições.
A ideia é simples: onde não há recursos humanos suficientes, as grávidas devem ser encaminhadas para unidades com equipas completas e operacionais. No caso de não ser possível constituir equipas de urgência em hospitais como o do Barreiro ou o de Vila Franca de Xira, os médicos poderiam ser integrados em serviços próximos, como os de Almada e Loures, respetivamente.
A implementação desta medida dependerá de vários fatores, entre os quais a adesão dos profissionais e as condições que lhes forem oferecidas, nomeadamente ao nível da compensação pelo trabalho adicional ou deslocação.
Segundo o jornal Expresso, o documento já está nas mãos do diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e deverá, em breve, ser submetido a consulta pública.
Mortalidade infantil aumenta e agrava cenário na Península de Setúbal
Esta reorganização visa garantir condições mínimas para manter blocos de partos operacionais e responder à crescente dificuldade de formar equipas de urgência. Contudo, a proposta ganha ainda mais relevância à luz de novos dados: a taxa de mortalidade infantil em Portugal subiu 20 por cento num só ano, uma realidade que preocupa especialistas e autoridades. Segundo o Correio da Manhã, em 2023 registaram-se 252 óbitos de bebés com menos de um ano, o que equivale a uma taxa de três mortes por cada mil nascimentos. Em 2022, tinham sido contabilizadas 210 mortes (2,5 por mil), de acordo com o Instituto Nacional de Estatística. A situação torna-se ainda mais alarmante quando comparada com os dados de 2019, em que a taxa era de 2,9.
A região de Setúbal é a mais afetada, com uma taxa de mortalidade infantil de 3,7 por mil nascimentos, valor acima da média europeia. É também nesta zona que se têm verificado os maiores constrangimentos nos serviços de obstetrícia, com várias urgências encerradas ao longo do último ano.
Perante este cenário, a Direção-Geral da Saúde criou, em janeiro, uma comissão para investigar as causas desta subida e propor medidas corretivas.
A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, admitiu recentemente na comissão parlamentar de saúde que existe um problema de segurança obstétrica na Península de Setúbal, sublinhando que "há uma linha vermelha na obstetrícia que se chama segurança, e obrigar mulheres a passar a ponte é um risco enorme que não podemos correr".
Apesar das dificuldades, a ministra garantiu que não está previsto o encerramento de nenhuma maternidade, mas reconheceu que ainda não sabe como irá organizar a urgência obstétrica na região. A responsável destacou ainda que um dos fatores que contribui para a elevada taxa de mortalidade é o número crescente de gravidezes não vigiadas - embora ressalve que não é o único motivo.
Apesar das dificuldades, a ministra garantiu que não está previsto o encerramento de nenhuma maternidade, mas reconheceu que ainda não sabe como irá organizar a urgência obstétrica na região. A responsável destacou ainda que um dos fatores que contribui para a elevada taxa de mortalidade é o número crescente de gravidezes não vigiadas - embora ressalve que não é o único motivo.
Agência de Notícias
Fotografia: DR
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