Doce típico da vila tem chegado às mesas da Alemanha, França, Itália, Dubai e Austrália. E adorado pelos pescadores
A farinha torrada é um doce típico de Sesimbra. É mais adequado para gulosos e para quem precisa de calorias. Já percorre o mundo. A cor castanha do chocolate, a textura rija e a durabilidade transformam a farinha torrada numa barra energética (tem a forma de um quadrado) cuja origem deve remontar ao final do século XIX. Dizem que era muito consumida por pescadores e há também relatos de fazer parte da alimentação de trabalhadores rurais. Os ingredientes são simples: farinha, açúcar amarelo, limão, chocolate, ovos e canela. Já faz as delícias de alemães. franceses, italianos e australianos. Em Sesimbra, junto da comunidade local, continua a ser muito procurado. Qual será o segredo desta Farinha Torrada?
 |
| Farinha Torrada, um bolo típico de Sesimbra |
Segundo Ana Maria, a receita original teria menos ingredientes e também era para uso medicinal, essencialmente para pessoas com debilidades físicas. “Na altura seria só farinha, ovos e açúcar amarelo. Depois surgiu o limão, canela e chocolate. Nós seguimos o padrão dessa receita”.
Ana Maria é dona da pastelaria A Camponesa, também conhecida por Joaquim do Moinho, um dos muitos estabelecimentos onde é confecionada a farinha torrada.
No entanto, teve um papel relevante na valorização e projeção do doce. “Agora há muita gente a fazer, mas nós relembrámos e demos a conhecer a farinha torrada ao vendê-la na nossa padaria”.
Foi a mãe de Ana Maria que iniciou este processo quando tomou conta da padaria que está na posse da família desde 1945. A mãe começou a fazer biscoitos, entre eles a farinha torrada. “Na altura foi engraçado porque algumas pessoas vieram à padaria verificar se era verdade. Interrogavam-se sobre a venda, já que toda a gente fazia a farinha torrada em casa”.
A mãe foi persistente e a farinha torrada ganhou novos clientes. “Temos pessoas que vão comprar à nossa padaria para depois levarem para Alemanha, França, Itália, Dubai, Austrália... Tem tido uma aceitação fantástica”, diz a dona d'A Camponesa.
A procura não é apenas de visitantes. A comunidade local continua arreigada à tradição. “Temos muitos pescadores que também vão comprar. A farinha torrada é muito nossa, de Sesimbra. Está muito ligada à nossa tradição”.
Maria Manuel Gomes, atualmente presidente da Junta de Freguesia do Castelo, foi uma das principais impulsionadoras do registo e da promoção da Farinha Torrada de Sesimbra, e recordou os primeiros passos para o seu registo como doce tradicional de Sesimbra. "A Dona Anita, da padaria A Camponesa, foi uma peça fundamental para todo este processo. Foi ela que decidiu retirar a Farinha Torrada do tradicional saco de pano, que se encontrava apenas nas casas dos pescadores, e colocá-la à venda na sua padaria", disse em 2010 na apresentação do livro A Doçaria Portuguesa – Sul.
"Apesar disso, nunca quis registar a marca e quando a autarquia decidiu proceder ao registo foi a primeira a apoiar o projeto porque tinha a mesma visão de que este era um doce de todos os sesimbrenses", contou na altura Maria Manuel Gomes.
A receita e a marca Farinha Torrada foi registada pela Câmara de Sesimbra há pouco mais de uma década.
Comentários
Enviar um comentário