Produtores de arroz do Vale do Sado estimam quebra de até sete milhões de euros

Barragens de Pego do Altar e Vale do Gaio com “taxas de armazenamento muito baixas”

Presidente da  Aparroz  mostra-se preocupado com “taxas de armazenamento muito baixas” das barragens de Pego do Altar e Vale do Gaio, em Alcácer do Sal. Os produtores de arroz do Vale do Sado, no Alentejo, estimam este ano reduzir a área de cultivo em  2500 hectares e apontam uma quebra de até sete milhões de euros de receitas devido à seca. “Voltamos a ter mais um ano de seca, que vai afetar as áreas cultivadas de arroz, especialmente nos perímetros de rega do Vale do Sado”, lamentou João Reis Mendes, presidente do agrupamento de produtores. O presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral, Vítor Proença, manifestou-se preocupado com os efeitos da seca na agricultura e defendeu a adoção de medidas pelo Governo em relação aos recursos hídricos na região.
Seca preocupa produtores do Litoral Alentejano 

O responsável do Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado (Aparroz) estimou que, “eventualmente, cerca de 2500 hectares não se possam cultivar” por causa da seca que afeta a região, assim como a generalidade do país.
Além disso, estimou quebras “na ordem dos seis a sete milhões de euros” no rendimento dos orizicultores da região do Vale do Sado, zona “onde não há muitas alternativas” de cultivo agrícola, visto serem “zonas de terrenos salgados”.
No Vale do Sado, que compreende os concelhos de Alcácer do Sal, Grândola e Santiago do Cacém (Distrito de Setúbal) e parte dos de Ferreira do Alentejo e Odemira (Beja), o arroz é cultivado em “7500 hectares”, dos quais “cinco a seis mil“ só no município de Alcácer do Sal.
Por se tratar de uma cultura “que utiliza a água para rega e regulação térmica”, o presidente da Aparroz mostrou-se preocupado com “as taxas de armazenamento muito baixas” das barragens de Pego do Altar e Vale do Gaio, em Alcácer do Sal.
“Precisamos de utilizar água, que devolvemos depois ao circuito natural”, a partir de “perímetros de rega feitos nos anos 50 que são destinados exatamente à agricultura, nem sequer são destinados ao abastecimento público”, frisou.
Segundo o dirigente, estas situações foram discutidas “há três anos”, no âmbito de um grupo de trabalho coordenado pela Associação de Regantes do Vale do Sado e pela Agência Portuguesa do Ambiente e associações de produtores.
Em Setembro de 2019, foi entregue “um memorando ao ministro do Ambiente” no sentido “de preparar soluções” para ajudar a minimizar os problemas dos produtores na região. “Infelizmente não tivemos até agora nenhuma proposta de solução”, argumentou.
Entre as medidas propostas, enunciou, constava a “recuperação da água no fim dos canais, a construção de pequenas barragens para ajudar estas maiores que já existem ou a instalação de diques insufláveis para evitar que o sal do rio suba muito e que se possa utilizar a bombagem direta do rio”.
“O abastecimento da barragem do Pego do Altar, a partir da barragem do Alqueva, uma obra com algum custo, ficou ainda por resolver”, alegou, reclamando “uma maior atenção por parte do Governo” aos “produtores de bens alimentares”.
Segundo João Reis Mendes, a área de cultivo de arroz em Portugal está distribuída pelas bacias hidrográficas do Sado, Tejo e Mondego, sendo Alcácer do Sal o concelho “com maior área cultivada”.

Autarcas do Alentejo Litoral reclamam medidas do Governo
Seca pode levar a prejuízos e à quebra de produção 
O presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral (Cimal), Vítor Proença, manifestou-se  preocupado com os efeitos da seca na agricultura e defendeu a adoção de medidas pelo Governo em relação aos recursos hídricos na região.
“O Governo tem de adotar medidas relativamente aos recursos hídricos, porque as alterações climáticas vieram para ficar”, alertou à agência Lusa o presidente da Cimal, Vítor Proença (CDU).
O também presidente da Câmara de Alcácer do Sal reconheceu que a situação “é preocupante” na região do Vale do Sado, “sobretudo para a agricultura”.
Mas, reconheceu, não se compara com a da albufeira de Campilhas, no vizinho concelho de Santiago do Cacém, “que talvez seja das piores situações”, ou mesmo com “o Roxo [Aljustrel] e parte do Mira [Odemira]”, no Distrito de Beja.
No Vale do Sado, “a situação, apesar de tudo, é um pouco mais confortável”, considerou o autarca, garantindo que a água da barragem do Pego do Altar, que está com uma capacidade de 53 por cento de armazenamento, “vai chegar para a cultura do arroz”.
De acordo com o autarca, a albufeira de Vale do Gaio, que já tem uma ligação à barragem do Alqueva, “está a 52 por cento e, se for necessário, vai-se comprar água à Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva, que está a cerca de 31 cêntimos o metro cúbico”.
Isto “é muito caro, tendo em conta o que os agricultores pagam à Associação de Regantes” e Beneficiários do Vale do Sado, indicou.
Questionado sobre o abastecimento de água às populações, o presidente da Cimal, que reúne os concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines, em Setúbal, e Odemira, Beja, disse que, de momento, “não há uma situação muito aguda”.
No que toca à agricultura, são necessárias “medidas urgentes” para “aumentar as reservas de água” na zona do Vale do Sado, reclamou o autarca.
“O Ministério da Agricultura, em conjunto com o Ministério do Ambiente e as associações de regantes, têm de adotar medidas para guardar e aproveitar o máximo de água, porque há muita água que fica nas albufeiras, quando chove, mas há muita água que se perde”, afirmou.
Por isso, o presidente da Cimal, reclamou do Estado apoios para as zonas do Baixo Alentejo e Vale do Sado, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR]. 
“Não se entende como é que no PRR foram abertos avisos de concurso exclusivamente para o Algarve, para a eficiência hídrica”, e “o Estado não olha para zonas muito mais graves, como o Baixo Alentejo e o Vale do Sado”, criticou.

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