CDU e Associação considera crime patrimonial destruição de moinhos de maré no Barreiro

Câmara diz que intervenção na zona dos moinhos de maré cumpre requisitos legais. Obra estará pronta em 2023 

O vice-presidente da Câmara do Barreiro, Rui Braga, assegurou esta quarta-feira, em reunião do executivo, que a obra na zona dos moinhos de maré de Alburrica cumpre os requisitos da lei e que o objetivo da autarquia é recuperar o património histórico do município. A questão foi levantada pelos vereadores sem pelouro eleitos pela CDU, sobre uma denúncia feita, recentemente, pela Associação Barreiro Património Memória e Futuro, que acusou a gestão camarária de um “crime patrimonial e ambiental” naquela zona ribeirinha, com a destruição dos moinhos de maré e sapal da Caldeira Grande. A CDU acusa a Câmara do Barreiro de hipotético “crime patrimonial e ambiental em Alburrica”, e manifestou a sua "elevada preocupação" acerca do projeto. 
Zona está abandonada há largos anos 

“É preciso que os barreirenses saibam que tudo o que a lei exige para uma obra de tipologia do moinho foi cumprido”, assegurou o vereador do município, liderado pelo socialista Frederico Rosa, assinalando que a intenção é reabilitar o moinho e pôr os engenhos a funcionar, como outrora, de modo a criar um centro interpretativo.
O vereador disse ainda que uma obra desta dimensão e numa zona sensível teve todos os pareceres da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e da Administração do Porto de Lisboa. “Que ninguém tenha dúvidas de que o objetivo é recuperar o nosso património para que recuperemos a memória coletiva de todos”, frisou Rui Braga.
A Associação Barreiro Património Memória e Futuro realizou a 22 de Janeiro uma sessão pública de esclarecimento e denúncia, com uma visita ao local com a presença de dois arqueólogos, alertando para a necessidade de salvaguardar o que ainda for possível relativamente ao Moinho Grande e à sua caldeira.
O moinho era inicialmente formado por uma caldeira que se enchia de água através de uma porta (adufa), quando a maré enchia, fechando-se em seguida, até à descida das águas, e por uma construção onde se situavam diversas moendas (pares de mós) que se destinavam ao fabrico de farinha. 
“O moinho de maré grande já não existe, foi arrasado, como o pequeno também já o tinha sido pela Câmara”, lembra a associação, acrescentando que “a riqueza cultural, identitária e económica deste bem patrimonial de arqueologia industrial morreu”, refere, destacando não ter sobrado nada do edifício: nem arcadas, nem mesmo a estacaria sobre a qual o moinho se encontrava construído.
O vice-presidente da autarquia disse ainda estranhar que uma associação local não tenha pedido esclarecimentos à autarquia sobre a matéria, optando por falar com a comunicação social. “Lembro que foi a associação que intentou uma providência cautelar na Quinta do Braancamp, que ainda está parada e que tem na sua gestão o ex-mandatário da CDU. 
Estamos a falar de combate político além das preocupações genuínas”, salientou. “Ninguém está aqui a tentar fazer crimes ou a não recuperar. Estamos a recuperar algo que é nosso, a associação devia ter pedido uma reunião connosco”, frisou.
A CDU, em comunicado enviado à ADN-Agência de Notícias, entende que a recuperação do património e do Moinho Grande é "importante, mas que deve assentar num projeto que seja apresentado aos munícipes de forma clara e inequívoca". 

Caldeira Grande concluído até final de 2023
Barreiro vai ter praia fluvial no próximo ano 
Para a Caldeira Grande do moinho em causa o município tem projetada uma das maiores praias de rio da Área Metropolitana de Lisboa, plano que deverá estar concluído até ao final de 2023 e igualmente contestado pela associação e também pelos autarcas comunistas. 
Na perspetiva da mesma, as caldeiras dos moinhos de maré são sapais e, portanto, zonas prioritárias de restauro por razões ecológicas e ambientais, pelo que considera que, “do ponto de vista ambiental, outro crime foi cometido”, porque “a caldeira está seca e o seu ecossistema morto”.
Relativamente a esta matéria, Rui Braga explicou que este foi um projeto escolhido pela APA, o que só por si dissipa dúvidas sobre o enquadramento legal de uma obra que vai criar novas dinâmicas e permitir que os barreirenses usem o espaço como nunca usaram.
O projeto de requalificação da Caldeira Grande foi escolhido pela Agência Portuguesa do Ambiente para beneficiar do apoio de fundos comunitários, num investimento que ronda os dois milhões de euros. Segundo a Câmara Municipal, ao abrigo do protocolo de colaboração para a concretização de ações de reabilitação da rede hidrográfica, o projeto visa recuperar uma estrutura abandonada de 77.520 metros quadrados, dando-lhe uma nova vida, transformando-a num espaço de lazer para os barreirenses e vocacionado para o turismo.
A autarquia adianta que o mérito desta intervenção “está também no combate às alterações climáticas, já que a existência de estruturas desta natureza, próximas do centro da cidade, contribui para atenuar as ondas de calor”. E acrescenta: “os reservatórios de água podem ser utilizados como um climatizador natural e até mesmo para o combate a incêndios”, é referido.


Comentários