Depois do diretor clínico, 87 médicos demitem-se do hospital de Setúbal

Ginecologia, obstetrícia e oncologia podem encerrar brevemente e há défice grave noutros serviços

Após a demissão na semana passada do diretor clínico do Hospital de Setúbal, Nuno Fachada, a Ordem dos Médicos, sindicatos e diretores de serviço do Hospital de Setúbal reuniram-se de emergência por causa da falta de médicos e das várias demissões naquela unidade hospitalar. E qual o resultado da reunião? Um total de 87 diretores de serviço e unidades funcionais do hospital de Setúbal apresentaram a demissão, juntando-se a Nuno Fachada, diretor clínico do centro hospitalar que se demitiu por falta de condições para trabalhar. “O hospital de São Bernardo como está não consegue mais responder à sua população. É o momento de se cumprir o prometido. O Centro Hospitalar tem de deixar de ser financiado como um simples hospital distrital e passar a ser uma unidade multidisciplinar”, disse Nuno Fachada, em conferência de imprensa. O Governo já anunciou a contratação de 10 médicos de diferentes especialidades para compensar a falta de profissionais e de condições, no entanto, "não será suficiente", dizem os médicos. 
Agrava-se a situação do hospital de São  Bernardo

Esta quarta-feira houve uma reunião de emergência com a Ordem dos Médicos, sindicatos e diretores de serviço do Hospital de Setúbal. O bastonário Miguel Guimarães esteve presente: “Não é um grito de alerta. É um grito final”, disse, acrescentando que é “fundamental que quem tutela a Saúde tenha respeito pelos médicos”.
O diretor demissionário do serviço de obstetrícia do Hospital de Setúbal, Pinto de Almeida, também alertou que se vive uma “situação dramática”: “Nada foi efetuado de forma estrutural que resolva este problema e o serviço está numa situação de rutura iminente”.
As queixas estendem-se a vários serviço e unidades. Na anestesiologia, por exemplo, só há “50 por cento das salas a funcionar e não há um número suficiente de anestesistas que permita sequer voltar à normalidade quanto mais compensar um défice que já existia antes”, lamentou o diretor do serviço, José Cortez, na conferência de imprensa.
Os 87 médicos demissionários “merecem respeito e solidariedade, e toda a disponibilidade para que este grito seja devidamente ouvido”, disse ainda o presidente do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha.
Na última quinta-feira, recorde-se, Nuno Fachada apresentou a demissão do cargo de diretor clínico do Centro Hospitalar de Setúbal. Um dos motivos foi a situação de rutura nas urgências do hospital.
Já em agosto o diretor do serviço de obstetrícia, Pinto de Almeida, também se demitiu do cargo, justificando a decisão com a falta de profissionais.
O bastonário da Ordem dos Médicos pediu, nesta quarta-feira, ao Governo que “aja com urgência”. O Executivo já anunciou a contratação de 10 médicos de diferentes especialidades para compensar a falta de profissionais e de condições, no entanto, não será suficiente.
"Após a queda da capa da pandemia para a justificação das lacunas graves, mantêm-se a falta de investimento na fixação de médicos e outros profissionais de saúde, quer em condições de trabalho, quer em incentivos materiais", sublinhou o presidente do conselho sub-regional da Ordem dos Médicos
 lembrando que faltam médicos e que há um "envelhecimento humano do Serviço Nacional de Saúde (SNS)".
Daniel Travancinha lembrou que abrem vagas no SNS para jovens especialistas que acabam por não ser ocupadas por não terem "incentivos mínimos de qualidade de trabalho", levando os profissionais a optar pelas mesmas (ou melhores) condições em instituições privadas ou no estrangeiro.
O clínico lembrou que a situação é grave "no país, mas particularmente grave no Hospital São Bernardo".
A situação é de rutura com a possibilidade muito em breve no encerramento de serviços essenciais como ginecologia e obstetrícia, oncologia e défice gravíssimo de muitos outros serviços", rematou Daniel Travancinha.

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