Corticeira Amorim compra herdade de Rio Frio

Amorim quer devolver futuro a uma das herdades históricas do país 

A Corticeira Amorim vai pagar 14,5 milhões ao BCP por parte da herdade de Rio Frio, em Pinhal Novo, e tem acordo para adquirir área do antigo BPN. A Herdade de Rio Frio tem uma área de 3.600 hectares, dos quais 2.600 hectares são sobreiros e cerca de 130 são vinha. O interesse da Corticeira está exatamente na parte dos sobreiros, pela produção de cortiça. Na propriedade realiza-se também produção de arroz e de gado. A herdade inclui ainda o Palácio de Rio Frio, num terreno ao lado, que está nas mãos do Novo Banco. A outra metade da herdade [que já foi uma das maiores do país] está na esfera do Estado [via Parvalorem] que a Corticeira também deseja comprar.  
Herdade vai ter novos donos 

Foi das maiores herdades de Portugal e símbolo na segunda metade do século XIX e princípios do século XX, da introdução das mais modernas técnicas de organização e produção agrícola.
A "maior vinha contínua do mundo com quatro mil hectares" e a "maior mancha de montado artificial do mundo", são referências desses tempos. A Herdade perdeu importância e, aos poucos, foram embora deixando para trás as casas, as fabricas e as infraestruturas ao abandono.
As casas e os armazéns caídos; os edifícios que foram noutros tempos a escola, o hospital, a padaria, a barbearia, estão fechados, tornam difícil de imaginar: mas esta já foi uma das maiores herdades do país. Do futuro pouco se sabe...
A herdade acabou por ir parar ao antigo BPN por via de uma execução de garantia por crédito não pago. E ficou nos ativos chamados tóxicos do lado do Estado. Agora vai passar para as mãos da Corticeira Amorim que promete desenvolver e reforçar a atividade agroflorestal da de Rio Frio, uma área que fica perto do Pinhal Novo.
A Corticeira Amorim chegou a acordo com o BCP para adquirir 50 por cento da Cold River’s Homestead que entre os seus ativos tem uma área de 3.300 hectares da Herdade de Rio Frio, num negócio de 14,5 milhões de euros. 
A Corticeira informa ainda que apresentou uma propostas à Parvalorem, a empresa pública que gere a herança do BPN, para comprar os restantes 50 por cento. O gabinete de João Leão assume processo de venda da Herdade de Rio Frio, depois de secretário de Estado das Finanças ter declarado conflito de interesses por ter trabalhado no grupo Amorim.
Resumindo, a Corticeira Amorim ainda pode ficar com os restantes 50 por cento, passando a ser proprietária de toda a herdade, mas o cenário mais plausível é que tenha de apresentar uma proposta mais elevada, que cubra, pelo menos, a oferta da sociedade História Notável que também quer a herdade. 
Rio Frio, que foi hipótese para o aeroporto, terá reforço do sobreiro. Já esteve para ser a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa. A herdade de Rio Frio foi estudada nos anos de 1990 durante o Governo de António Guterres para este projeto. Ganhou outra alternativa, a Ota, por causa de argumentos ambientais e da enorme área de montado (a azinheira e o sobreiro são árvores protegidas) que teria de ser sacrificada.

Melhorar a produtividade agrofloresta
Herdade já foi das maiores e melhores do país 
A Corticeira sublinha ainda que está a desenvolver um projeto de intervenção florestal com a finalidade de “assegurar a manutenção, preservação e valorização das florestas de sobro e desenvolvimento do sobreiro, aumentar as suas produções através de processos e tecnologias inovadores já experimentados noutras zonas e, desta forma, aumentar o sumidouro de carbono do montado e contribuir para a neutralidade carbónica da empresa e do país”.
É no quadro deste projeto que se insere a compra Herdade de Rio Frio onde a empresa quer melhorar a produtividade agrofloresta, recorrendo em concreto a “adensamentos a implementar neste montado único, com processos já experimentados em outras localizações”. 
A Corticeira Amorim diz ainda estar “recetiva a analisar oportunidades de parceria com produtores florestais, instituições de investigação e entidades públicas locais, bem como aquisições de ativos agroflorestais com potencial de desenvolvimento e valorização do montado de sobro”.
A Parvalorem e o BCP ficaram com a Herdade de Rio Frio na sequência da insolvência da Sociedade Agrícola de Rio Frio e da Companhia Agrícola de Rio Frio (foi nessa altura que foi constituída a Cold River’s Homestead), dado que eram os maiores credores. A compra desta herdade pelo BPN terá lesado o Estado em 70 milhões de euros, diz o Dinheiro Vivo.

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