Fecho das escolas abala produção da fábrica de Palmela

Mais de 200 trabalhadores estão em casa a tratar dos filhos. Empresa chama trabalhadores temporários 

A fábrica de Palmela continua a sentir os efeitos da pandemia. Depois de, no ano passado, ter registado uma quebra de 65 mil no número de automóveis produzidos, a maior exportadora nacional está agora a braços com mais um travão na produção. Com o novo confinamento geral, que ditou o encerramento das escolas, viu-se forçada a reduzir os turnos. Os pais em casa com os filhos - são mais de 200 - tem um preço: vão custar, cerca de 1.200 veículos por semana à fábrica portuguesa da Volkswagen. "Com o encerramento das escolas e a situação que o país vive atualmente tudo mudou", diz o diretor geral da Autoeuropa. Casos de covid-19 também reduzem mão de obra, travando a produção de carros em Palmela. O número de trabalhadores doentes ou em isolamento também preocupa a administração. A fábrica está a contratar trabalhadores temporários para preencher a ausência dos pais com filhos em casa ou dos trabalhadores ausentes. A fábrica pretende voltar ao ritmo normal já na próxima segunda-feira. 
Pandemia obrigou a diminuir produção em Palmela 

Pelo menos 200 funcionários da Autoeuropa estão a ter de ficar em casa para cuidar dos filhos, devido ao fecho das escolas, estima a comissão de trabalhadores da maior fábrica de automóveis do país, em declarações ao Jornal de Notícias. 
A fábrica da Volkswagen em Palmela teve de se ajustar subitamente ao fecho das escolas e está em redução de horários, mas quer retomar a produção total a partir de dia 8 de Fevereiro e, para conseguir esse objetivo, estão a ser chamadas empresas de trabalho temporário.
“As equipas estão a fazer o levantamento de quantos têm de ficar em casa e foram acionadas empresas de trabalho temporário”, disse ao mesmo jornal, Fausto Dionísio, coordenador da comissão de trabalhadores. O mesmo responsável diz que, ainda assim, o número de trabalhadores poderia ser maior porque, apesar de terem filhos pequenos estarão a encontrar soluções alternativas – “só não são mais porque os pais perdem um terço do rendimento por tomarem conta dos filhos”.
Quando a 21 de Janeiro o Governo anunciou o fecho das escolas foi suspensa a produção nos dias 22, 23 e 24 de Janeiro e diminuiu-se o número de turnos de 19 por semana para 15.  A laboração ao fim de semana foi suspensa. 
“A Volkswagen Autoeuropa opera com quatro equipas em 19 turnos por semana, e o nível de ausências planeado com o encerramento das escolas levou à reorganização para três equipas que trabalham 15 turnos por semana, com a consequente perda semanal de 1.200 veículos em relação ao programa de produção“, explica a direção da fábrica. 
Até ao encerramento das escolas a Autoeuropa estava a produzir dentro da normalidade utilizando a sua capacidade máxima. Com o encerramento das escolas e a situação que o país vive atualmente tudo mudou.
Ou seja, a fábrica de Palmela deixará de produzir, nestas duas semanas, um total de 2.400 veículos. A maioria destes são T-Roc, o SUV da marca alemã que é construído na fábrica de Palmela.
Esta situação deverá continuar a provocar mossa na produção da Autoeuropa, tendo em conta que o Governo já fez saber que as aulas presenciais vão continuar suspensas - medida será revista de 15 em 15 dias –, havendo recurso ao ensino à distância. A escola remota obrigará a que muitos pais se mantenham em casa, reduzindo a capacidade da unidade.

Temporários para preencher a ausência dos trabalhadores em casa 
Empresa contrata temporários para garantir produção 
O regresso às aulas à distância está previsto para 8 de Fevereiro. E é também nessa data que a Autoeuropa espera poder retomar a 100 por cento, procurando limitar as perdas de produção provocadas por este novo confinamento. É um objetivo, mas não está ainda assegurado que tal seja possível. Dependerá da capacidade de suprir a falta de mão-de-obra.
A fábrica está a contratar trabalhadores temporários para preencher a ausência dos pais, como disse o coordenador da comissão de trabalhadores da Autoeuropa, Fausto Dionísio, ao Dinheiro Vivo. 
Contudo, não são apenas estes trabalhadores que têm de ser substituídos. Há também que contar com o número crescente de profissionais que vão de baixa por contágio com o novo coronavírus, além dos muitos outros que têm de se ausentar por isolamento profilático.
A empresa não revela o número de casos atualmente registados, sublinhando apenas que há um aumento em linha com o que acontece na generalidade do país.
A Autoeuropa, ao contrário do que tem estado a acontecer em muitas fábricas de automóveis na Europa, não está a sentir a escassez de componentes eletrónicos. “Até ao momento não, muito pelo contrário. Estavam a ser canalizados para a  Autoeuropa componentes cuja escassez a nível mundial estava a provocar dias de paragem noutras fábricas do Grupo Volkswagen“, diz o diretor geral ao digital Eco.
“Produzindo atualmente abaixo do programa de produção, adicionando a incerteza da situação a nível nacional e os desafios colocados na circulação entre países, é natural que surjam as primeiras dificuldades”, alerta o responsável pela unidade que, em 2020, construiu um total de 192 mil carros. E “havendo limitações, distribuem-se os componentes a quem tem condições para produzir”.
Sendo a fábrica de Palmela, “atualmente, a única unidade do Grupo Volkswagen em incumprimento com a produção planeada devido à pandemia”, Miguel Sanches antecipa que esses componentes comecem a ser enviados para outras unidades de produção da Volkswagen, no exterior. "Perde-se produção, reduzem-se as exportações, perde o país", alerta o diretor da fábrica portuguesa. 

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