Utentes e autarcas do Seixal pedem “alternativa fluvial” durante as obras

Obra no terminal demora 45 dias e utentes têm de viajar quase hora e meia até Cacilhas 

Os utentes do Seixal defendem que a Transtejo devia implementar uma “alternativa fluvial” para fazer face ao encerramento do terminal do concelho, até porque a solução rodoviária criada não é “viável”. Na semana passada a Transtejo anunciou que a ligação fluvial entre o Seixal e Lisboa passaria a estar suspensa a partir de segunda-feira, por 45 dias, devido a uma obra de melhoramento marítimo, criando um serviço especial de transporte rodoviário até ao terminal de Cacilhas, em Almada. Uma medida que os utentes "reprovam" porque demora em média hora e meia de viagem mais o tempo da travessia do Tejo.  O presidente da Câmara do Seixal, Joaquim Santos, já exigiu a suspensão das obras “até que sejam encontradas alternativas que não prejudiquem a população”. O autarca diz ainda que "desconhecia" a obra mas já foi desmentido pelo ministro do Ambiente, João Matos Fernandes que garante que o autarca "nunca atendeu o telefone". 
Obras afastam barcos do Seixal durante mês e meio 

“Não dizemos que as obras não são necessárias, mas não há uma alternativa, não há uma solução credível ou viável para uma empresa que tem responsabilidades sociais como a Transtejo, que tem técnicas para avaliar e minimizar este impacto com uma alternativa fluvial”, disse à Lusa António Freitas, membro da Comissão de Utentes de Transportes do Seixal.
Apesar da empresa ter criado um serviço especial de transporte rodoviário até ao terminal de Cacilhas, em Almada, a medida não agrada nem os milhares de utentes que usam aquele terminal para a capital nem à Câmara do Seixal. Joaquim Santos, presidente do município, já exigiu a suspensão das obras “até que sejam encontradas alternativas que não prejudiquem a população”.
No entanto, para os utentes, a empresa devia ter pensado em “soluções técnicas possíveis de ser implementadas faseadamente”, como a criação de um pontão provisório.
“Temos uma Ponte 25 de Abril que foi intervencionada, alargada e colocado um tabuleiro, mas os períodos de paragem nunca existiram, nunca ninguém cortou a ponte, tirando nos períodos de mau tempo, foi sempre possível construir uma solução técnica, portanto, não acredito que não exista outra solução”, disse o dirigente da comissão. 
Segundo o responsável, os utentes da ligação fluvial do Seixal estão descontentes com a alternativa rodoviária apresentada, até porque “corresponde a uma hora e meia de viagem até Cacilhas”, mais o tempo da travessia do barco, quando anteriormente demoravam apenas entre 15 a 20 minutos para chegar a Lisboa.
“Se isto é uma alternativa, não me parece que seja utilizada pela maioria das pessoas. Pelo menos é a informação que tenho. Ninguém quer uma hora de viagem para um transporte que não lhe serve”, relatou.
De acordo com António Freitas, desde segunda-feira os utentes do Seixal têm optado por “pôr em risco a sua saúde e ir para dentro de um comboio que já está cheio e lotado”, referindo-se à ligação ferroviária sobre a ponte 25 de Abril, operada pela Fertagus.
“Esta foi a alternativa posta à disposição pela Transtejo no âmbito da saúde púbica. Certamente irá aumentar o risco de contágio, porque se está a colocar 2400 pessoas dentro de um transporte ferroviário que todos nós já sabemos que tem grandes dificuldades em manter os afastamentos sociais e sanitários para a contenção e propagação do vírus”, referiu.
Para a comissão, não faz sentido que a obra e a solução rodoviária apresentada “ocorra em cima deste período em que houve um desconfinamento de pessoas” devido à pandemia da covid-19, pelo que já apresentou uma reclamação à administração da empresa.
“Não percebemos como é que alguém é responsável por todo este processo que está em curso. Demonstra uma total falta de organização, falta de planeamento, desrespeito pela população e, num período de pandemia, desrespeito para com a saúde dos cidadãos. Isto demonstra que os técnicos e as pessoas responsáveis por esta área são de uma incompetência atroz. Lamento dizer isto, mas é a única coisa que eu vejo”, realçou o membro da Comissão de Utentes de Transportes do Seixal. 

Transtejo oferece autocarros para Cacilhas 
Na segunda-feira, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, justificou que as obras de substituição do pontão do cais fluvial do Seixal tinham de ser realizadas agora porque “o certificado de navegação expira em Novembro”.
Já a Transtejo tinha explicado na quinta-feira, em comunicado, que obra abrange uma área total de 450 metros quadrados que “não é compatível com a operação fluvial, pelo que a empresa é forçada a suspender a atracação”, por um período estimado de 45 dias.
No entanto, frisou que a oferta de transporte de e para Lisboa continuará a ser garantida através de um “serviço especial de transporte em autocarro” entre o terminal do Seixal e o de Cacilhas, em Almada. 
Segundo a empresa, durante os dias úteis, este transporte rodoviário vai estar disponível das seis às 23h30, com uma frequência de 20 a 20 minutos, enquanto aos sábados será operado entre as sete e as 22 horas e aos domingos e feriados entre as oito e as 22 horas, ambos com uma frequência de 60 minutos.

Autarquia não sabia obra. Ministro diz que é mentira
O presidente da Câmara do Seixal tentou ontem ser ouvido pelo Ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, mas só foi ser recebido pelo chefe de gabinete do ministro, a quem deixou um ofício onde manifesta o seu descontentamento e preocupação pela paragem deste serviço.
Nesse documento, Joaquim Santos considera que a Transtejo devia ter pensado uma “solução alternativa”, que não a paragem do serviço durante a substituição do pontão do cais fluvial do concelho. Paragem que, diz, “não ser necessária”, se fosse considerado um “cais provisório para que o serviço não fosse interrompido”.
O descontentamento do presidente da Câmara é ainda maior por a Transtejo “não ter consultado a autarquia antes de decidir o timing da obra” no cais fluvial. Certo é que a empresa responsável pela travessia no Tejo anunciou esta intervenção na quinta-feira e, no mesmo dia, Joaquim Santos veio protestar pela “ausência de comunicação prévia” do encerramento do terminal, bem como a falta de “articulação com a autarquia” para minimizar o impacto nos utentes.
O ministro do Ambiento nega que a Câmara do Seixal desconhecia a intervenção de requalificação do cais do Seixal.
“Com todo o respeito, o presidente da Câmara do Seixal não tem razão e a sugestão que faz não tem sentido”. Diz ainda Matos Fernandes que “durante as duas últimas semanas, a Transtejo, durante três ou quatro vezes ao dia, tentou falar” com o autarca, “mas ele nunca atendeu o telefone”. E, de alguma forma ironiza: “provavelmente, estaria reunido com especialistas”.
Ao lado de Joaquim Santos, está o presidente da Junta de Freguesia do Seixal, António Santos, que esteve também ontem no Ministério do Ambiente, e reitera o que diz Joaquim Santos. “Só soubemos em cima do acontecimento”. E apesar de também reconhecer, tal como o presidente da Câmara, que esta obra “é necessária”, considera que a decisão da Transtejo foi de “navegação à vista”, ao não ter previsto alternativas para a atracação dos barcos e “não prejudicar os cerca de três mil utentes” que, diariamente, usam este serviço. “As pessoas não vão usar o transporte rodoviário até Cacilhas e demorar uma hora para fazer um percurso de barco que demora 15 minutos”, afirma.

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