Câmara de Setúbal compra terrenos do estádio do Bonfim

Autarquia compra Bonfim e pede investigação à Liga por descida "estranha" do Vitória

A presidente da Câmara de Setúbal anunciou a aquisição do direito de superfície dos terrenos do estádio do Bonfim por 1,5 milhão de euros e defendeu uma investigação, pela justiça, à despromoção da equipa de futebol do Vitória de Setúbal.  "Apresentámos uma proposta de 1,5 milhão de euros, em carta fechada, porque tínhamos indícios de haver vários interessados na aquisição dos direitos sobre os terrenos do estádio [hipotecados pela Vitória SAD], eventualmente até com interesses especulativos, e não quisemos correr o risco de o Vitória de Setúbal se ver privado da utilização do complexo desportivo do Bonfim", disse a autarca setubalense, Maria das Dores Meira. A cidade e clube ficam assim com a garantia de que o estádio, ainda que, e sempre, na posse plena do município, poderá continuar a ser utilizado para a finalidade para que foi construído pelos setubalenses. 
Direito de superfície na posse da Câmara de Setúbal 


No passado dia 2 de Julho, a Câmara de Setúbal já tinha anunciado que o executivo camarário tinha aprovado, por unanimidade, a aceitação dos créditos hipotecários de uma entidade bancária sobre o direito de superfície do denominado Lote 8, que inclui os terrenos do Estádio do Bonfim, do Bingo e da Casa do Guarda, mas o negócio só esta terça-feira foi concretizado, através da licitação em hasta pública.
De acordo com a autarca comunista, a compra do direito de superfície do Lote 8 pelo município sadino foi efetuada no âmbito da aquisição ao Banco Comercial Português (Millennium BCP) de créditos hipotecários privilegiados, no valor de 2,1 milhões de euros, mediante o pagamento de 300 mil euros.
Este montante de 300 mil euros deverá ser liquidado pelo município através da dedução de taxas urbanísticas (Taxas pela Realização, Manutenção e Reforço de Infraestruturas Urbanísticas) de um projeto ligado ao BCP, que está previsto para o Vale da Rosa, na zona oriental da cidade de Setúbal.
Na prática, segundo a presidente da Câmara de Setúbal, com os 300 mil euros - que serão pagos através da dedução em taxas urbanísticas -, o município sadino adquiriu os direitos de superfície sobre os terrenos do estádio do Bonfim, em que se incluem todos os imóveis construídos naqueles terrenos, por 1,5 milhões de euros, ficando ainda credor do valor remanescente - 600 mil euros - da massa insolvente da Vitória SAD.
A Câmara de Setúbal, que se assume como “parceira leal” do Vitória de Setúbal desde sempre, salienta ainda que cedência dos créditos ao município “é condição primeira para garantir que o estádio do Bonfim continua a ser usufruído pela população e pelo Vitória de Setúbal, assim se impedindo que a aquisição por terceiros viesse a privar os sadinos de tão importante espaço”.

Autarquia pede investigação à Liga Portuguesa de Futebol 
Maria das Dores Meira acredita que a aquisição dos direitos de superfície do Lote 8 pelo município "dá segurança ao Vitória de Setúbal" e lamenta que o clube tivesse sido despromovido das competições profissionais de futebol, no âmbito de um processo que está ainda pendente de recurso no TAD, Tribunal Arbitral do Desporto.
"Estou, naturalmente, muito preocupada com a situação, que é o culminar de muitos anos de uma grande desorientação, de uma gestão não muito correta do Vitória de Setúbal. A cereja no topo do bolo foi a despromoção, na sequência de uma deliberação da Liga de Futebol Profissional, que, na minha opinião, também é muito incorreta e que deveria ser passível de investigação", disse.
"Nós não tínhamos ainda a decisão do Tribunal Arbitral do Desporto, já o senhor presidente [da Liga] anunciava as deliberações. Dá a ideia que não era preciso haver TAD, porque o presidente da Liga [Pedro Proença] já tinha decidido o que ia acontecer", criticou a presidente da Câmara de Setúbal, reiterando a ideia de que se trata de uma decisão que deveria ser investigada pelo Ministério Público. 

A história de um Estádio mítico para o país 
O Estádio do Bonfim foi sucessor do antigo Campo dos Arcos, casa do Vitória de 1913 a 1962. Foi mandado construir pelo então histórico presidente Mário Lêdo, e foi construído entre 1953 a 1961, com a ajuda da cidade e do povo, que muito se esforçou para o Vitória ter um estádio digno do seu nome.
Foi inaugurado no dia 16 de Setembro de 1962, com um desfile de modalidades, casa cheia. Na ocasião, o almirante Américo Tomás, Presidente da República da Altura, recebeu o diploma de honra do clube sadino e declarou: "oxalá o Vitória tenha regressado à primeira divisão para não mais sair".
Na estreia em campo num jogo contra a Académica, o Vitória perdeu por 1-0. Desde lá para cá foi palco de inúmeros acontecimentos desportivos de onde se destaca obviamente os jogos do Campeonato Nacional de Futebol da 1ª Divisão e da Taça de Portugal, bem como alguns jogos internacionais, não só da equipa setubalense, mas também da própria Selecção Nacional de Portugal. 
Foi em tempos uma das mais modernas infra-estruturas desportivas em Portugal tornando-se, com o passar dos anos, um dos mais tradicionais estádios do futebol português. Também albergou a final da Supertaça Cândido de Oliveira em 2001-2002.
A iluminação do estádio inaugurou-se em 1970, numa vitória contra o Sporting Gijón por 2-1 e a partir daí o Vitória pôde passar a jogar os jogos europeus em sua casa. Tem 4 postes de iluminação com 46 metros cada um. Todavia é hoje uma obra desactualizada. A UEFA não credenciou o recinto para provas internacionais, razão pela qual o Vitória de Setúbal teve que disputar a Taça UEFA em Lisboa na sua ultima participação.
O estádio teve a maior enchente num jogo contra o Spartak Moscovo nos 1/8 de final da Taça UEFA em 1971/72 onde estiveram 40 mil  espectadores, e no qual o Vitória venceu por 4-0, com 2 golos de José Torres, 1 golo de Jacinto João e 1 golo de Octávio Machado.

Agência de Notícias com Lusa 
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