Comerciantes e moradores da Amora contra a festa

PCP vai divulgar plano de contingência do Avante mas comerciantes fecham estabelecimentos e moradores vão protestar

No Seixal, há mais uma providência cautelar em cima da mesa, uma carta aberta que ameaça com uma queixa-crime e vereadores furiosos. A isso juntam-se mais de 40 comerciantes da zona envolvente à Quinta da Atalaia, na freguesia de Amora, Seixal, que vão encerrar os seus estabelecimentos durante a Festa do Avante!, por “precaução” e para “mitigar o risco” de contágio pelo novo coronavírus. Maria Carvalho, responsável pela cozinha do Restaurante Rota dos Petiscos Terra e Mar, estabelecimento que deu início ao “movimento”, afirmou neste domingo ter apelado ao “bom senso dos comerciantes para que encerrassem portas”, entre 4 e 6 de Setembro, dias em que decorre a 44.ª edição da Festa do Avante!. Moradores do Seixal, vão ainda fazer manifestações de protesto contra o evento já esta quinta-feira. Após Marcelo Rebelo de Sousa criticar, este domingo, o atraso na divulgação das regras para a realização da festa comunista a Direção-Geral de Saúde garantiu ao início da noite de domingo que já entregou as suas recomendações ao PCP e ainda atira para os comunistas a responsabilidade de as divulgar. O PCP já disse que irá divulgar o plano de contingência “ainda hoje”. Em comunicado, o partido queixa-se da “gigantesca operação reacionária” contra a realização deste evento, criticando também a Direção-Geral de Saúde pelas exigências que fez no parecer. 
Comunistas pedem adesão total de militantes  

“Prefiro fechar três dias, ainda que com sacrifício, do que fechar três semanas”, sustentou Maria Carvalho, acrescentando que a “movimentação de pessoas durante “o Avante!” envolve toda a freguesia de Amora, e não apenas a Quinta da Atalaia”, onde decorre o evento anual organizado pelo PCP.
Por precaução e para “mitigar o risco” de contágio pelo novo coronavírus, Maria Carvalho avançou que são já mais de 40, os comerciantes que vão encerrar os seus estabelecimentos, entre os quais agências imobiliárias, oficinas de automóveis, cabeleireiros, ginásios, restaurantes e pastelarias.
“Esta decisão não tem nenhuma conotação político-partidária. Não tenho nada contra a Festa do Avante!”, assegurou a cozinheira, que, juntamente com os filhos, marido e noras, gere o Restaurante Rota dos Petiscos Terra e Mar, e que optou por “salvaguardar a família”.
À Lusa, Maria Carvalho afirmou ainda que são também “vários os moradores” de Amora, no concelho de Seixal,  que ponderam não sair de casa durante os dias da Festa do Avante! por não quererem “correr riscos de saúde pública”.
Um grupo de moradores da freguesia de Amora, concelho do Seixal, vai realizar pelas 18 horas de quinta-feira uma marcha lenta contra a realização da Festa do Avante, marcada para o próximo fim de semana.
Aos jornalistas, os promotores da iniciativa dizem que se trata-se de "um grupo de cidadãos que se afirma ‘supra-partidário’, e que se manifesta contra a realização da festa comunista por questões de saúde pública".
A marcha lenta tem início marcado junto ao quartel dos bombeiros de Amora, com as viaturas a seguirem depois em marcha lenta em direção à Quinta da Atalaia, onde se realiza a Festa do Avante. Recorde-se que este protesto irá acontecer quando já está prometido para sexta, sábado e domingo um outro evento de protesto contra a celebração organizada pelo PCP. 
A par disto há mais uma providência cautelar a ser ponderada, cartas abertas, discussões entre vereadores e acusações de “promiscuidade”, “abusos” e “perseguições”. 
Enquanto o país político (e não só) discute a realização da Festa do “Avante!” marcada para os dias 4, 5 e 6 de Setembro, o Seixal prepara-se para receber os milhares de pessoas - até 33 mil ao mesmo tempo em cada dia - que se prevê que visitem a festa. No município que alberga a Quinta da Atalaia, o clima vai ficando visivelmente mais tenso à medida que a festa se aproxima.
São várias as forças políticas que acusam a Câmara comunista, liderada pelo autarca Joaquim Santos, de prestar informações insuficientes sobre o megaevento ou de, por preferência partidária, favorecer a rentrée do PCP:
 “Há um grande secretismo à volta da festa, e como o município sempre foi governado pelo PCP não temos informação detalhada”, reclama um vereador da Câmara seixalense . Mas as queixas não ficam por aqui. Depois de esta semana um empresário com ligações antigas ao PSD, Carlos Valente, ter interposto uma providência cautelar para travar o evento, o antigo candidato autárquico e ex-vereador do PSD Paulo Edson confirmou ao Expresso estar a ponderar tomar a mesma medida caso esta providência seja indeferida: “É escandaloso fazerem a festa. Este ano, isto representa um perigo para qualquer cidadão do Seixal, com tanta gente a vir de fora”, aponta.
Da  parte da Câmara do Seixal, que anulou os principais eventos do concelho, não é conhecida ainda nenhuma posição oficial. 

Marcelo critica demora da DGS 
Após Marcelo Rebelo de Sousa criticar, este domingo, o atraso na divulgação das regras para a realização da Festa do Avante, a Direção-Geral de Saúde garantiu ao início da noite de domingo que já entregou as suas recomendações ao PCP e ainda atira para os comunistas a responsabilidade de as divulgar.
"A Organização da Festa do Avante solicitou à Direção-Geral da Saúde  um parecer técnico para a realização da habitual Festa do Avante, cuja versão final foi este domingo entregue à organização, tal como estava previamente previsto", escreveu a autoridade de saúde pública em comunicado, cerca de três horas após Marcelo Rebelo de Sousa pôr debaixo de fogo a autoridade de saúde.
A Direção-Geral de Saúde justifica o atraso no estabelecimento das regras sanitárias para o evento com a "multivariedade da componente social do evento, assim como a participação de cidadãos de várias gerações", segundo a Direção-Geral de Saúde, o que torna a análise mais "demorada" e "complexa".
A Direção-Geral de Saúde relembra que foram elaboradas várias reuniões com a organização do Avante para adequar as condições do evento às circunstâncias da pandemia de covid-19.
Em comunicado, a autoridade de saúde pública adianta que o recinto na Quinta da Atalaia, no Seixal, tem "múltiplos espaços" a que se aplicam regras de restauração, eventos culturais e de "circulação de pessoas". "É necessário que estejam assegurados todos os aspetos que permitam salvaguardar não só a saúde dos participantes, mas também da comunidade", lê-se no documento.
Os detalhes deste parecer técnico só poderão ser conhecidos caso o Avante queira divulgá-los, neste caso o Partido Comunista Português (PCP), já que a Direção-Geral de Saúde afirma que "não divulgará o conteúdo".

PCP diz que há uma “pulsão antidemocrática mal disfarçada”
O PCP vai divulgar o plano de contingência da Festa do Avante “ainda hoje”. Em comunicado, o partido queixa-se da “gigantesca operação reacionária” contra a realização deste evento, criticando também a Direção-Geral de Saúde pelas exigências que fez no parecer. Ainda assim, os comunistas consideram que o parecer reconhece a segurança da Festa.
“No seu conteúdo, o parecer traduz a tomada de conhecimento que na Festa do Avante! estão preenchidas condições de segurança iguais ou superiores àquelas que se dispõem na frequência das praias, nos numerosos espetáculos e festivais que se realizam pelo país ou simplesmente nas idas a centros comerciais”, lê-se no comunicado divulgado esta segunda-feira onde o PCP anuncia que vai divulgar o plano de contingência “ainda hoje”.
Apesar de garantir que vai aceitar as exigências da Direção-Geral de Saúde, o PCP queixa-se de que estas são mais duras para a Festa do Avante do que para outros eventos: “Não podemos deixar de assinalar que o Parecer da Direção-Geral de Saúde contém em vários domínios graus de exigência maiores relativamente à Festa do que tem estabelecido para outras iniciativas, particularmente na capacidade e lotação de recintos e espaços fixados, que contrastam seja com os espetáculos que se estão a realizar no país, seja com as feiras do livro atualmente a decorrer em Lisboa e no Porto, seja com outras iniciativas”.
“Tem-se assistido a uma ação orquestrada e articulada a vários níveis, e que envolve transformar as estruturas administrativas sanitárias, a quem cabe pronunciar-se sobre questões de saúde, em entidades que introduzam discriminações“, critica ainda o partido, assegurando que “na preparação da Festa do Avante!, na sua dimensão política e cultural, procurou respeitar-se na multiplicidade de procedimentos organizativos o conjunto de medidas no quadro das disposições legais em vigor”.
O PCP garante ainda que o Plano de Contingência que vai divulgar esta segunda-feira “preenche e respeita o conjunto de normas em vigor”, apesar de não excluir o cenário em que acolhe mais recomendações após ser feita uma avaliação do documento. No entanto, tal terá de ser feito “num quadro em que a garantia de proteção sanitária deve respeitar simultaneamente os direitos, liberdades e garantias constitucionalmente consagradas”.
Quanto à divulgação do parecer da Direção-Geral de Saúde, esta entidade rejeitou divulgá-lo, referindo que cabe à entidade organizador fazer a divulgação do mesmo, se pretender. “A Direção-Geral de Saúde não divulgará o conteúdo deste parecer, à semelhança de todos os pareceres técnicos entregues até ao momento, cabendo à entidade organizadora fazê-lo, se assim o entender", disse este domingo. Anteriormente, o PCP tinha dito que “cabe à Direção-Geral de Saúde dar a conhecer os relatórios, pareceres ou outras reflexões que tenha produzido, esteja a produzir ou venha a produzir”, sinalizando que não iria divulgar nenhum documento.
O comunicado do PCP sobre a Festa do Avante no próximo fim de semana começa por atacar todos os críticos a realização do evento, que poderá incluir até 33 mil pessoas por dia, durante a pandemia. “A realização da Festa do Avante! tem sido pretexto para uma gigantesca operação reacionária que mais que a Festa, visa atacar o PCP e sobretudo abrir caminho à limitação do exercício de direitos e liberdades dos trabalhadores e do povo, designadamente o direito de resistirem à liquidação dos seus direitos como se viu com a campanha contra o 1º de Maio”, afirma o partido.
“Esta pulsão antidemocrática mal disfarçada fica completamente à vista quando, ao mesmo tempo que tudo fazem para impedir a realização da Festa, mentem insistindo na ideia que os festivais estão proibidos e fingem não ver o que se passa, e bem, no país”, considera o PCP, dando o exemplo dos festivais que se estão a realizar, as praias, os centros comerciais e “a peregrinação de Agosto em Fátima com muitos milhares de participantes”.
Os comunistas consideram ainda que “esta operação não ilude que a Festa do Avante!, importante realização política e cultural, está a ser preparada com a garantia de medidas de prevenção e proteção sanitária que salvaguardam o usufruto em condições de segurança e tranquilidade que preenchem e ultrapassam as que existem em múltiplas atividades”. Perante aquilo que diz ser uma “ofensiva”, o PCP “exige resposta”, pedindo aos membros do partido para marcarem presença na Festa “e em particular no comício de domingo, fazendo dessa presença uma afirmação de liberdade e um ato de resistência e luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo”.

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