Obstetra de Setúbal reformou-se este mês diz ministra

Marta Temido diz que o caso não descredibiliza o SNS. Menino, diz a mãe, está a "surpreender" e a melhorar  

O obstetra Artur Carvalho, envolvido no caso do bebé que nasceu com malformações graves no rosto e na cabeça, em Setúbal, aposentou-se no dia 1 de Julho, segundo avançou esta quarta-feira a ministra da Saúde. Enquanto funcionário do Serviço Nacional de Saúde, vínculo hierárquico que também detinha, o médico Artur Carvalho “foi aposentado este mês, independentemente dos processos que sobre si suscitam num conjunto de outras entidades”, afirmou Marta Temido na comissão parlamentar de Saúde, onde foi ouvida, a pedido do PAN, sobre este caso. A ministra lembrou que Artur Carvalho não atuou neste processo como médico do Serviço Nacional de Saúde, mas sim de uma entidade convencionada. “Que fique tudo bem” é o maior desejo da mãe do bebé Rodrigo, que nasceu há nove meses em Setúbal com graves malformações e que agora aguarda por mais uma cirurgia à cabeça. 
Médico acompanhou gravidez e nunca detetou  mal formações

“Não posso deixar de refutar algumas observações que foram feitas” por deputados na audição que referiam que “este caso mostra as fragilidades do Serviço Nacional de Saúde e que mina a confiança no Serviço Nacional de Saúde”, realçou.
“Esta infeliz circunstância mostra as fragilidades do modelo regulatório e há um conjunto de entidades que têm por obrigação melhorá-la e, portanto, essa é a principal lição que eu penso que vale a pena daqui retirar”, vincou Marta Temido.
Em resposta à deputada do PAN, Bibiana Cunha, sobre que responsabilidades o Governo assumia neste caso, Marta Temido disse não ter dúvidas que este é um caso que “responsabiliza a todos”.
“É um caso que responsabiliza a todos e do qual nenhum de nós está isento porque feriu-nos naquilo que é de mais profundo, naquilo que são as nossas as nossas convicções, a nossa confiança, naquilo que é o funcionamento normal da qualidade de determinados atos”, sublinhou.
Marta Temido frisou que “o único aspeto” que “ainda assim encoraja” é “o de saber que a família do Rodrigo e o Rodrigo, com o sofrimento que possam estar a passar, continuam a ser acompanhados pelo Hospital de Setúbal através dos seus serviços”.
“É uma situação que continuaremos de facto a apoiar na medida daquilo que são as nossas possibilidades”, rematou.

Médico já foi expulso pela Ordem 
O obstetra Artur Carvalho foi punido com a pena máxima prevista nos Estatutos da Ordem dos Médicos, ou seja, a expulsão, mas o advogado do médico disse que iria recorrer da proposta de expulsão" do Conselho Disciplinar da Ordem dos Médicos.
O bebé Rodrigo nasceu em 7 de Outubro de 2019 no Hospital de São Bernardo, do Centro Hospitalar de Setúbal, com várias malformações graves, como falta de olhos, nariz e parte do crânio, sem que o médico Artur Carvalho, que realizou as ecografias de acompanhamento da gravidez, tivesse detetado ou sinalizado aos pais qualquer problema.
O obstetra que realizou as ecografias numa unidade privada, a Ecosado, tinha 14 queixas em averiguação na Ordem dos Médicos no final do ano passado.
O caso do bebé sem rosto levou logo à abertura de um inquérito por parte do Centro Hospitalar de Setúbal, para apurar se foram efetuados corretamente todos os procedimentos no parto do bebé.

Menino está a surpreender e será operado em breve 
Esta quarta-feira, a mãe do Rodrigo disse, numa entrevista à Rádio Renascença, que o filho “tem estado a surpreender”. De acordo com Marlene Simão, “para os problemas que tem, está com um desenvolvimento bastante bom”. 
Ora, com nove meses o menino já “come a papa, come bem, parla, interage connosco e tenta-se virar, mas como a cabeça é muito pesada tem alguma dificuldade”, explicou a mãe do menino que adientou ainda, na mesma entrevista, que por causa da hidrocefalia, Rodrigo deverá ser operado em breve.
“A cirurgia é para a cabeça deixar de crescer tanto, para drenar o líquido que acumula no cérebro. O Rodrigo tem as más formações faciais e cerebrais, mas o resto do corpo está tudo bem”, explica a mãe.
O bebé nasceu há nove meses, depois de uma gravidez acompanhada pelo obstetra Artur Carvalho, que nunca comunicou aos pais quaisquer malformações no feto.
Com o caso de Rodrigo, ficou-se a saber que Artur Carvalho já tinha outras queixas e processos na Ordem dos Médicos. E a clínica onde foram realizadas as ecografias funcionava irregularmente.
“Não sei como é que isto é possível”, diz a mãe. Marlene e o pai de Rodrigo também apresentaram queixa no Ministério Público, mas não sabem em que fase está o processo. “Com a situação do país acho que parou”, adiantando que o advogado também pouco sabe.
Na entrevista à Renascença, a mãe de Rodrigo só quer que cirurgia que se aproxima corra bem e o desenvolvimento de Rodrigo seja cada vez mais real. “Que ele continue a surpreender todos e que seja operado para ficar mais desenvolvido ainda”, deseja a mãe. “Que seja rápido e que fique tudo bem”, deseja a mãe do bebé.

Agência de Notícias com Lusa

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