Irá o Vitória de Setúbal jogar no campeonato de Portugal?

Vitória vai recorrer da decisão pouco fundamentada da Liga de excluir o clube do futebol profissional

Era uma vez uma equipa que, com suor, lágrimas e união, selou a permanência na Primeira Liga dentro do campo. Milhares de adeptos deram força à equipa antes do jogo de domingo, com a Belenenses SAD, no Bonfim, em Setúbal, e festejaram efusivamente a permanência depois de uma vitória dura, justa e decisiva. Nesta quarta-feira, esses mesmos adeptos foram surpreendidos com uma decisão da Liga que determina que a equipa foi excluída de participar nas competições profissionais em 2020-21. O porquê? Ninguém sabe ao certo porquê nem o organismo mostrou, até agora, qualquer dado factual. No caso de desclassificação dos sadinos, que até garantiram a permanência na Primeira Liga pela via desportiva, o beneficiado é o Portimonense, que já não desce e até já foi convidado oficialmente pelo organismo que gere as competições profissionais, mesmo sabendo que o Vitória ainda pode [e vai] recorrer de uma decisão pouco explicada e justificada pela direção da liga. Os adeptos prometem uma resposta à altura, o clube centenário - e um dos principais emblemas da região e do país - promete explicar a situação esta quinta-feira. Na origem do problema pode estar o facto da necessidade de os sócios do clube terem de aceitar em Assembleia-Geral a doação de terrenos em Praias do Sado que a Câmara de Setúbal doou ao clube no valor de 800 mil euros, após 15 de Julho após aprovação em reunião pública. Assembleia que não terá sido feita por causa da pandemia. 
Liga não aceitou inscrição do Vitória 


A semana era de festa pela manutenção dentro das quatro linhas. Mas na quarta-feira os milhares de adeptos foram apanhados de surpresa com o comunicado da Liga Portugal que determina que a equipa foi excluída de participar nas competições profissionais em 2020-21, época em que só poderá actuar no Campeonato de Portugal.
Apesar da decisão é passível de recurso para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol, a verdade é que o organismo que rege o futebol profissional no país refere que o clube está impedido de se inscrever nas competições profissionais, depois de a Comissão de Auditoria da Liga Portuguesa de Futebol Profissional ter reprovado os processos de licenciamento.
“Pelo presente comunicado oficial, divulga-se que, aderindo ao parecer do Comissão de Auditoria, datado de 28 de Julho de 2020, decidiu-se não admitir a candidatura do sociedade desportivo Vitória FC, SAD, de participar nos Competições Profissionais no época 2020-21, com os fundamentos aduzidos no parecer do Comissão de Auditoria, por incumprimento dos critérios financeiros, infra identificados: Inexistência de dívidas a Sociedades Desportivas (ponto 8); Inexistência de dívidas a jogadores, treinadores e funcionários (9) e regularidade da situação contributiva perante a Autoridade Tributária (12)”, lê-se no comunicado.
Um comunicado que mostra apenas as razões mas que não os justifica as acusações e muito menos dá a conhecer os factos e provas do que, em reunião fechada de auditores da Liga e da Federação Portuguesa de Futebol, decidem avançar para esta medida drástica.

Uma liga a convite 
A mesma Liga profissional de clubes que parou a segunda liga por causa da pandemia e fez subir "por convite" o Nacional da Madeira e o Sporting de Farense - sem que esses disputassem jogos até final - e mandou abruptamente para o campeonato de Portugal o Cova da Piedade e o Casa Pia [que lutavam pela permanência] é a mesma que agora que já convidou o Portimonense  - que desceu em campo após as jornadas jogadas - para disputar o principal campeonato português, mesmo sabendo que o Vitória ainda pode [e vai] recorrer de uma decisão pouco explicada e justificada pela direção da liga.
Isso mesmo está descrito no documento oficial, que também aponta estes e outros pontos ao Aves para o impedir de participar nas provas profissionais, acrescenta no ponto 3 referente ao Vitória o seguinte: “Consequentemente, excluir o Vitória FC, SAD do participação nas competições profissionais na época desportiva 2020-21, e convidar o Portimonense, a participar na competição do Liga Nos, cujos pressupostos de licenciamento cumpriu”.
Para o lugar do Aves, que assim também cai para o Campeonato de Portugal, foi convidado o Cova da Piedade (penúltimo classificado da II Liga) para ocupar o lugar dos nortenhos, que terminaram na I Liga na última posição. Ainda que estes clubes ainda nem sequer ainda apresentaram as candidaturas ao futebol profissional.

Vitória anuncia recurso e promete explicações para hoje 
O Vitória de Setúbal reagiu em comunicado. “Na sequência do comunicado emitido pela Liga Portugal relativo ao chumbo da inscrição nas competições profissionais para a época 2020/21, o Vitória Futebol Clube vem por este meio comunicar que irá recorrer da decisão para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol”, refere, acrescentando estar “ciente de que a razão está do seu lado, o Vitória não baixará os braços e continuará a trabalhar arduamente na tentativa de ver resolvido este processo”. O clube informa que esta quinta-feira "serão prestados mais esclarecimentos sobre o caso".
De acordo com o jornal o Setubalense, a origem deste problema poderá estar a necessidade de os sócios do clube terem de aceitar em Assembleia-Geral a doação de terrenos em Praias do Sado que a Câmara de Setúbal doou ao clube no valor de 800 mil euros, após 15 de Julho após aprovação em reunião pública.
Para o clube - um dos clubes com mais títulos e finais disputadas após Benfica, Sporting e Porto - o que está em causa não é a falta de documentação. Para se ter a certidão de não dívida definitiva é necessário o registo das garantias financeiras e para ter esse registo é necessário realizar uma Assembleia-Geral, algo que não é possível devido ao contexto de pandemia. A escritura foi feita no registo como provisória, uma vez que tem de haver uma aceitação da doação dos terrenos em Assembleia-Geral pelos sócios, que têm de aceitar receber o terreno que a autarquia doou e ser feita uma autorização de modo a que o mesmo seja apresentado como garantia para a SAD.
Segundo alguns comentadores o clube tem só três dias úteis para recorrer e não pode apresentar novos documentos. A ser verdade, trata-se de um duro golpe para o clube, os seus adeptos e uma verdade desportiva que ficará adulterada em nome de alguns interesses e poderes do futebol.
O país  do futebol já viveu isso com o Boavista e com o Gil Vicente e, mais tarde, por decisão dos tribunais, Liga e Federação foram obrigados a integrar os clubes na Primeira Liga e pagar uma indemnização avultada que saiu dos "bolsos" dos portugueses, já que a Federação Portuguesa de Futebol é uma entidade pública.    

Agência de Notícias

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