Hospital de Setúbal está em risco de perder especialidades

Covid-19 pressiona São Bernardo que... precisa de obras e investimento sério

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, alertou, esta segunda-feira, para o risco de o Hospital de Setúbal continuar a perder profissionais, ficando com menos valências e especialidades, se não houver investimento. Em comunicado, a Ordem salienta que as "estruturas obsoletas e reduzidas" do Centro Hospital de Setúbal, bem como o facto de não ser reconhecida totalmente a sua diferenciação, estão a comprometer a capacidade de resposta daquela unidade de saúde. O presente e o futuro do hospital sadino esteve hoje em debate numa sessão pública em Setúbal na qual será apresentado um documento da iniciativa dos diretores de serviço do hospital. No mesmo dia soube-se que o São Bernardo é um dos hospitais perto de esgotar a capacidade de internamento devido à pandemia na região de Lisboa e Vale do Tejo. Governo relembra que há hipótese de mobilidade entre as unidades de saúde e que, por isso, "não existe pressão excessiva". Ainda assim o hospital de Setúbal tem uma taxa de ocupação de 83 por cento. 
Hospital de Setúbal precisa de investimento 

O alerta é da Ordem dos Médicos, que organizou um debate em Setúbal, onde foi apresentado um documento de chefes de serviço da unidade hospitalar que põe em causa a "idoneidade formativa", ou seja, a capacidade de formar novos especialistas.
No entendimento do bastonário, a "diferenciação clínica que o hospital atingiu não foi acompanhada pelas instalações, o que se traduz numa organização muito disfuncional, de que é imagem principal o serviço de urgência e todos os problemas que vêm permanentemente a público".
"Em termos de financiamento o hospital está a ser pago abaixo dos serviços que proporciona, o que cria também uma asfixia em termos económicos", acrescenta.
O documento apresentado, segundo a nota da Ordem, aponta vários problemas que precisam de solução urgente, entre os quais a necessidade de ampliar o hospital para acolher a integração da ortopedia, que é suportada pelo Hospital do Outão.
"Mas, se essa integração ocorrer sem reorganização dos espaços já carenciados, os problemas podem vir a ser ainda maiores", refere.
A rutura permanente do serviço de urgência, os problemas nos meios complementares de diagnóstico e a criação de condições atrativas para os atuais e novos profissionais estão também entre os principais alertas.
Segundo a Ordem, o documento dá exemplos concretos de várias especialidades, como a anatomia patológica, que conta com apenas uma especialista, com 60 anos.
"Os cuidados intensivos mantêm estrutura física idêntica e a mesma capacidade de internamento (sete camas) desde a sua inauguração em 1985, estando muito aquém do rácio de camas críticas recomendado", é referido.
No caso da ginecologia/obstetrícia, segundo o documento, o quadro médico deveria ser constituído por 23 médicos especialistas com horário de 40 horas semanais, mas atualmente dispõe apenas de 10 médicos, alguns deles com horário parcial.
De acordo com o documento citado, a médio prazo prevê-se ainda o agravamento da carência de médicos, uma vez que a média etária dos médicos especialistas do serviço é elevada - oito têm entre 56 e 66 anos de idade.
No que diz respeito à oncologia, é referido que em Janeiro de 2019 existiam seis oncologistas e ao longo dos últimos 18 meses saíram cinco.
"E a urgência, à falta de recursos humanos, junta uma área interior de 1.200 metros quadrados, longe dos propostos três mil, num claro subdimensionamento para fazer face a uma procura média diária de 250 utentes", é destacado.
A agência Lusa contactou a administração do hospital, mas ainda não foi possível obter um comentário.
A Ordem lembra que o Hospital de Setúbal dá resposta a uma zona muito mais alargada do que a da região.
Tem uma zona de atração direta de cerca de 250 mil  habitantes (concelhos de Setúbal, de Palmela e de Sesimbra), mas é procurado por muitos doentes do litoral do Alentejo (cerca de mais 100 mil habitantes, oriundos dos concelhos de Alcácer do Sal, de Grândola, de Santiago do Cacém, de Sines e até de Odemira).
De acordo com a nota da ordem, "desde 2016, altura em que passou a ser permitido aos utentes escolherem uma unidade hospitalar fora da sua residência, e fruto da maior facilidade de acesso ao CHS por parte dos utentes do litoral alentejano, este centro passou a servir em média mais cerca de 20 por cento de doentes para além da sua área de atração estritamente definida".

Covid-19 "pressiona" internamento no São Bernardo 
Os hospitais mais "pressionados" em Lisboa e Vale do Tejo são o Fernando Fonseca (Amadora), Beatriz Ângelo (Loures) e de Setúbal, com taxas de ocupação de 93, 100 e 86 por cento, respetivamente, revelou o secretário de Estado da Saúde.
Na conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde sobre a covid-19, António Lacerda Sales adiantou ainda que os "menos pressionados" são os hospitais de Lisboa Ocidental, com uma ocupação de 57 por cento, o do Médio Tejo, com 26 por cento e o de Lisboa Norte, com um valor entre os 75 e os 80 por cento. 
Questionado sobre o número de jovens infetados com o novo coronavírus internados e sobre os internados em cuidados intensivos, o governante não soube especificar, adiantando que "os serviços de saúde em Lisboa e Vale do Tejo não estão sob grande pressão" e que as unidades de cuidados intensivos apresentam "uma taxa de ocupação de 59 por cento", ao passo que a taxa de ocupação nacional é de 63 por cento. "Em 218 camas estão livres 89", adiantou Lacerda Sales.
Quanto "ao conjunto de camas livres afeto à covid" na Área Metropolitana de Lisboa, Lacerda Sales disse que "está pouco abaixo dos 50 por cento".
Relativamente a números nacionais, o secretário de Estado da Saúde revelou ser de 63 por cento a taxa de ocupação em cuidados intensivos.
Das 531 camas "disponíveis" em cuidados intensivos, estão vagas 199, observou. Quanto à "taxa de ocupação" nacional ligada à covid é de 21 por cento.

Agência de Notícias com Lusa 

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