Almada sem dados sobre crescimento de barracas

Aumento de barracas no Segundo Torrão? Autarquia ainda não tem número

Em entrevista à Renascença e ao Público, Isabel Jonet deixou alertas sobre riscos de exclusão social e agravamento das condições de habitação. A presidente do Banco Alimentar chama também a atenção para a "estigmatização" de certos bairros sociais e diz ainda que no concelho de Almada, "com a subida de rendas, os bairros muito difíceis e degradados, como o Segundo Torrão, na freguesia da Trafaria, que teve um acréscimo do número de barracas muito substancial". A dirigente do Banco Alimentar disse ainda que voltou a haver barracas em Lisboa. A denúncia de Isabel Jonet, apanhou de surpresa a presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros, que se mostra surpreendida com as declarações, afirmando não ter dados relativos aos últimos três meses. Ainda assim a autarca de Almada diz que o bairro é "um problema complexo de resolver" e que há "milhares de pessoas" à espera de habitação no concelho. 
Pandemia trouxe novas barracas 

Segundo escreve a rádio Renascença, a presidente da Câmara de Almada mostra-se surpreendida com as declarações de Isabel Jonet sobre o aumento do número de barracas no Segundo Torrão, um bairro clandestino na freguesia da Trafaria, em Almada, devido à crise pandémica do novo coronavírus.
A presidente do Banco Alimentar afirmou, em entrevista à Renascença e ao jornal Público, que a pandemia fez muita gente perder os rendimentos e, por esse motivo, a casa, por não conseguir pagar a renda.
A presidente da autarquia de Almada, Inês Medeiros mostra-se surpreendida com as declarações, afirmando não ter dados relativos aos últimos três meses. “Estamos a fazer esse levantamento, não tenho dados ainda para poder dizer se houve, quantos houve e qual é que é o perfil sociológico das pessoas que estão a recorrer àquela habitação ultra precária”, explica a autarca.
Inês de Medeiros admite, no entanto, ser “evidente que a subida das rendas nos últimos dois, três anos” levou à procura de habitação precária e declara que “o Segundo Torrão é uma das grandes preocupações” do concelho de Almada e até do distrito de Setúbal.
De acordo com a autarca, sempre que se consegue realojar alguém é demolida uma daquelas habitações precárias. “Mas é muito difícil, não conseguimos por ali uma vigilância a 100 por cento e, portanto, normalmente, assim que há uma casa que se liberta, é ocupada por uma nova família”.
A autarca de Almada reitera o seu empenho em “encontrar soluções para resolver o problema e considera fundamental “lançar o máximo possível de empreitadas de reabilitação de casas”, adiantando que já foi criado “um regulamento para habitação social, para poder haver uma distribuição de casas que seja justa e em que os casos mais prioritários possam avançar”.
“Estamos a estabelecer parcerias com o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, parcerias a vários níveis, já adquirimos várias casas para aumentar a nossa oferta, mas todas elas ficam ocupadas quase imediatamente, porque temos uma lista de espera para habitação enorme, que já vem de há vários anos”, acrescentou a autarca almadense na mesma entrevista.
Sem avançar números concretos sobre a lista de espera para uma habitação, Inês Medeiros adianta, no entanto, que são “vários milhares”.

Banco Alimentar defende mais apoios para as famílias
A presidente do Banco Alimentar contra a Fome Isabel Jonet defende o aumento do apoio às famílias devido à crise económica criada pela pandemia.
“É preciso dar dinheiro às pessoas até para gerar riqueza na economia. Tem que se ajudar as pessoas, dando verbas com os controlos que sejam necessários embora no início é preciso aligeirar [o controlo]. É preciso, por exemplo, que todas as pessoas que já requereram a situação de lay-off ou apoios e que estão desesperadas, há três meses, à espera possam ter acesso a isto até para terem balões de oxigénio que gerem alguma esperança”, destaca Isabel Jonet em entrevista à Renascença e ao Público.
“Também é bom não esquecer que, em Portugal, temos 4,5 milhões de pensionistas. Há aqui um conjunto de pessoas que podem ser consumidores que também se pode ajudar a dinamizar a economia”, acrescenta.
“Em Portugal, há um milhão de pessoas que vive com menos de 250 euros por mês e dois milhões que vivem com menos de 450 euros por mês. Agora, houve muitos que ficaram com zero”, lembra Isabel Jonet.
A presidente do Banco Alimentar aponta que a subida das rendas nos últimos anos tem provocado uma crise de habitação. “Na margem sul, com a subida de rendas, os bairros muito difíceis e degradados, como o Segundo Torrão, em Almada, que teve um acréscimo do número de barracas muito substancial. Voltou a haver barracas em Lisboa porque as pessoas tiveram que largar a sua casa e vivem em condições muito precárias”, alerta na entrevista.

Agência de Notícias
Foto: António Cotrim/Lusa 

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