Mãe de menina assassinada no Seixal lembra Valentina

"Quem será a próxima?", questiona a mulher que perdeu a filha e a mãe mortas por ex-companheiro 

Sandra Cristina, a mãe da menina assassinada pelo pai, no Seixal, em Fevereiro de 2019, reagiu à violenta morte da pequena Valentina nas redes sociais. Num longo texto partilhado na sua página de Facebook, a mulher, que também perdeu a mãe e a filha às mãos do ex-companheiro, questiona a atuação das autoridades e a justiça e revela que, antes do duplo homicídio (mãe e filha) ocorrer, pediu testes psicológicos ao pai da filha, mas foi “ignorada”. Tal como Valentina, Lara foi morta pelo progenitor, em 2019. "Quem será a próxima?", questiona Sandra Cristina.
No concelho de Peniche menina terá sido morta pelo pai 

“Valentina, mais uma menina indefesa a quem o próprio progenitor lhe tirou o direito à vida. Pergunto porquê?! Se não existe amor, é preferível a indiferença; se não nutre compaixão, que siga a vida noutra direção. Mas o problema nunca é a criança. Ela é apenas o meio utilizado para atingir a mãe, seja por questões subjacentes a orgulho ferido, questões monetárias, problemas de ego ou falta de caráter oprimido”, começa por escrever Sandra, para logo a seguir passar ao “cerne do problema”.
“Este reside na incompetência das nossas autoridades e justiça que é conivente e permissiva. Antigamente a lei ditava que a mãe tinha mais direitos que o pai e, atualmente, a lei só se preocupa em salvaguardar os direitos do pai. Quantas mais crianças serão necessárias morrer para perceberem que não é o pai nem a mãe que interessam, mas sim a criança, o seu bem-estar e segurança?!”, questiona a mãe enlutada, garantindo que, se não existir uma mudança de paradigma, mais mortes de crianças vão acontecer.
“Enquanto as autoridades continuarem a negar ajuda, descartarem o seu poder de intervenção e não orientarem; enquanto os juízes tomarem decisões baseadas nos direitos do pai, desvalorizando o bem-estar da criança, mais óbitos vão suceder”, sublinha.
Antes de concluir, Sandra Cristina revela que se debateu para analisarem o ex-companheiro, mas que foi “ignorada”.
“O nosso sistema é baseado na tortura. Excesso de zelo para quem quer adotar e indiferença para quem somente batalha em proteger os seus filhos. Façam testes psicológicos aos progenitores, visitem as suas habitações e locais de trabalho, analisem a interação das crianças com os pais e só depois tomem uma decisão. Foi nisso que me debati e fui ignorada. Agora foi a Valentina. Quem será a próxima?!”, pergunta a mulher que chegou a apresentar queixa contra o marido por violência doméstica.

Crime bárbaro de Pedro Henriques 
O caso passou-se a 5 de Fevereiro do ano passado, no concelho do Seixal. Pedro Henriques, de 39 anos, suicidou-se após ter matado a sogra com duas facadas no peito e pescoço e ter estrangulado até à morte a filha, de dois anos. Os homicídios que chocaram o Seixal e o país ocorreram os dois no espaço de horas.
Tudo começou quando o homem foi a casa da ex-companheira deixar alegadamente a menina, em Cruz de Pau. Pedro e a sogra, Helena Cabrita, terão começado a discutir mal o homem chegou à habitação. Nisto, o assassino mata a mãe da ex-namorada, Sandra, à facada. Lara, a única filha do ex-casal, não terá visto a avó a morrer, pois ao que tudo aponta estava a dormir no veículo estacionado à porta do prédio. Às seis horas desse dia, Pedro tinha ido tomar café à pastelaria Orly, também no Seixal, onde já tinha ameaçado o sogro.
Após ter matado a mulher de 60 anos, o suspeito pôs-se em fuga com a filha. Neste momento, as autoridades já procuravam Pedro. Por volta das 8h30, o progenitor ligou para o INEM a informar que a filha estava morta dentro de veículo que se encontrava perto do McDonalds de Corroios e avisou que se ia suicidar. A menina morreu estrangulada e que o seu corpo foi atirado para a bagageira do carro. 
Estava marcada, para esse dia, no Tribunal de Família e Menores do Seixal, uma sessão para alterar as responsabilidades parenteais sobre a criança. O homem estava separado da mulher há já algum tempo e já tinha sido referenciado por episódios de violência doméstica, avançam fontes policiais. Ao que tudo aponta, Pedro queria castigar a família da própria filha.

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