Trinta pessoas protestam contra aeroporto na Moita

"Cento e trinta decibéis já não é ruído, é dor" 

Cerca de 30 pessoas protestaram, esta terça-feira, contra o novo aeroporto do Montijo, concentrando-se junto ao Colégio Côrte-Real, na Moita, onde o primeiro-ministro participava na inauguração de uma creche. “Isto é um crime e eu gostava muito de pedir pessoalmente ao primeiro-ministro que não faça o aeroporto aqui. Não quero que os meus netos sejam acordados de cinco em cinco minutos pelo ronco de quatro motores de grande capacidade. Cento e trinta decibéis já não é ruído, é dor e provoca a loucura”, disse o morador Lúcio Janeiro, 79 anos. A Associação Peço a Palavra vai pedir um parecer à Agência Europeia para a Segurança da Aviação sobre as condições de segurança do novo aeroporto do Montijo, segundo um comunicado divulgado nesta terça-feira. 
Trinta contra aeroporto no Montijo 

O residente foi mecânico de aviação e viu “gente a ficar louca devido ao ruído”, apelando ao Governo que opte por construir o novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete (em grande parte localizado no concelho vizinho de Benavente, no distrito de Santarém), em oposição à Base Aérea n.º 6, situada entre o Montijo e Alcochete.
Já Cristina, de 58 anos, mostrou uma grande preocupação não só em relação ao barulho dos aviões, mas também à poluição ambiental que a infraestrutura poderá causar na região.
“Nós realmente não queríamos aviões sobre a nossa terra porque é perigosíssimo e por tudo o que se tem dito, pelo perigo das aves, mas principalmente das pessoas, não só pelo barulho, mas também outro tipo de poluição. Toda a vida fomos carregados com décadas de poluição da Companhia União Fabril (CUF) e agora estamos a levar com mais isto”, referiu.
O protesto começou às 9h30 e foi organizado pela Plataforma Cívica BA6-Montijo Não, aproveitando a visita do primeiro-ministro, António Costa, à cerimónia de inauguração de uma creche no Colégio Côrte-Real, na Moita.
Segundo o membro do grupo José Encarnação, a construção no Montijo é a “pior solução que se podia encontrar por todas as razões”, sobretudo pelo ruído e por ser de curto prazo, com uma duração prevista de apenas “15 anos”.
“Tudo isto é um somatório de erros e de pressões inaceitáveis sobre as populações e é isso que viemos dizer ao senhor primeiro-ministro”, afirmou.
A plataforma esperava que fosse possível um encontro com o governante, o que não aconteceu, mas entregou a um assessor de António Costa um dossiê informativo sobre a posição contra a infraestrutura e solicitou uma reunião para discutir “as graves consequências que vão existir no Montijo”.
Outro membro da plataforma, Vítor Silveira, que é piloto de aviação, frisou que “não é admissível nos dias de hoje construírem um aeroporto numa zona protegida ambientalmente, de alto teor sísmico e rodeada de povoações”.
“É um perigo contra a saúde das pessoas, a qualidade de vida vai ser bastante afetada e é um perigo de afetação contra o ambiente, porque faz parte da Zona de Proteção do Estuário do Tejo. É uma área utilizada por milhões de aves todos os anos, o que implica perigos contra a operação aeronáutica. Vai acontecer de certeza o fenómeno do ‘birdstrike’”, sublinhou.
O Campo de Tiro de Alcochete tem aprovada uma Declaração de Impacte Ambiental até Dezembro deste ano, sendo a opção que hoje foi mais defendida, mas há quem aponte outras soluções, como o morador Francisco Vale.
“O senhor primeiro-ministro tem de ter a honra de respeitar o seu voto nas urnas, mas acima de tudo o povo. Tem de rescindir completamente com todos os contratos que fez com a VINCI e a ANA Aeroportos e lembrar-se de que no Alentejo há um aeroporto que está pronto para receber passageiros com todas as infraestruturas”, defendeu.
Em Janeiro, a Agência Portuguesa do Ambiente anunciou que o projeto do novo aeroporto no Montijo, na margem sul do Tejo, recebeu uma decisão favorável condicionada em sede de Declaração de Impacte Ambiental, mantendo cerca de 160 medidas de minimização e compensação a que a ANA - Aeroportos de Portugal "terá de dar cumprimento", as quais ascendem a cerca de 48 milhões de euros.

Associação vai pedir parecer a agência europeia
A Associação Peço a Palavra vai pedir um parecer à Agência Europeia para a Segurança da Aviação sobre as condições de segurança do novo aeroporto do Montijo, segundo um comunicado.
Na nota, em que a associação dá conta das suas várias objeções à escolha do Montijo para a instalação do novo aeroporto, a associação adianta que "irá solicitar uma reunião com urgência ao regulador nacional, a ANAC [Autoridade Nacional da Aviação Civil], para pedir esclarecimentos que depois levará ao conhecimento do regulador internacional, a Agência Europeia para a Segurança da Aviação, para que este se pronuncie sobre as condições de segurança do `apeadeiro` do Montijo e nomeadamente as suas pistas".
Esta decisão foi tomada tendo em conta "os problemas ao nível da segurança de voo que já foram assinalados", sublinhando a associação que "as propostas derivadas dos variados estudos realizados não apresentam soluções credíveis ou sequer exequíveis para afastar os perigos existentes para as populações e passageiros".
A Associação Peço a Palavra recorda que "o novo aeroporto de Lisboa anda a ser estudado há 50 anos (para se ter uma ideia, ao longo dos anos, já foram analisadas 17 localizações). A razão de ser imperativo construir o aeroporto não é só pela necessidade de expansão, mas também por se ter de retirar o aeroporto do centro da cidade", refere, no comunicado.
"A única localização que reuniu até agora todos os estudos necessários para permitir o início do desenvolvimento do projeto e para conseguirmos competir com Madrid e, com isso, fazer crescer a nossa economia para patamares mais elevados, é o Campo de Tiro de Alcochete", uma solução que já esteve em cima da mesa em legislaturas anteriores, afirma a associação.
A estrutura estranha que o Governo "venha defender a construção de um aeroporto secundário no Montijo (a que se tem chamado justamente de `apeadeiro`), que tem um prazo de vida muito curto (cerca de nove anos), e que a grande maioria das companhias aéreas já afirmou que, por variadas razões, não têm intenção de o vir a utilizar".
A Associação Peço a Palavra acredita que "um governo tem o dever patriótico de ouvir os seus cidadãos, particularmente aqueles que têm reconhecidos conhecimentos técnicos sobre a matéria em análise", recordando "a posição da Ordem dos Engenheiros, entidade acima de qualquer suspeita, que arrasou a opção do Governo".
Além das questões de segurança e ambientais, o organismo alerta para "os efeitos que a construção de um `apeadeiro` no Montijo teria nos ecossistemas e na saúde das populações que residem nos concelhos limítrofes, criando a ilusão de que é possível mitigar o que esses residentes teriam de vir a suportar".
A Associação Peço a Palavra, sem fins lucrativos, conta com várias personalidades nos seus órgãos sociais, sendo presidida por António-Pedro Vasconcelos, e pretende a "dinamização de uma cidadania ativa relativamente aos interesses nacionais, ajudando todos os cidadãos a ter uma maior participação democrática", segundo informação no seu `site`.
O aeroporto do Montijo poderá ter os primeiros trabalhos no terreno já este ano, depois da emissão da Declaração de Impacto Ambiental e da reorganização do espaço aéreo militar e após os vários avanços registados em 2019.

Agência de Notícias com Lusa
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