Holandeses unem-se contra aeroporto no Montijo

Aeroporto em zona protegida mete a ave nacional da Holanda em perigo

Uma associação para a defesa das aves da Holanda e a BirdLife Europe, uma Organização Não Governamental, criaram um novo abaixo-assinado contra a construção do Aeroporto do Montijo. A petição intitulada "Maçarico Sim! Aeroporto Não!" defende principalmente a proteção das aves que, em período migratório, passam pelo estuário do rio Tejo, na rota entre África e a Holanda. Em causa está a espécie do maçarico-de-bico-direito que, segundo a associação holandesa, se alimenta na zona onde está prevista a obra. Os holandeses acreditam que “os maçaricos [a ave nacional do país das tulipas] podem não ter força suficiente para a restante viagem até à Holanda e podem até chegar tarde para criar seus filhos”. O texto, que conta já com mais 26 mil assinaturas, faz o apelo ao governo português para abandonar o projeto localizado na área da Rede Natura 2000. Para o secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, Alberto Souto de Miranda, os pássaros do Montijo “não são estúpidos” e podem adaptar-se ao novo aeroporto. 
Maçarico-de-bico-direito ficá em risco com aeroporto

A associação para a defesa das aves da Holanda, em parceria com a Organização Não Governamental BirdLife Europe, está a promover uma petição contra o novo aeroporto no Montijo. O texto altamente crítico para o projeto já reuniu 26 mil assinaturas.
O abaixo-assinado, promovido pelos holandeses, tem por título "Maçarico Sim! Aeroporto Não!" e tem como objetivo proteger as centenas de milhares de aves do estuário do rio Tejo e em particular uma espécie: o maçarico-de-bico-direito, a ave nacional da Holanda, país por onde passam, uma vez por ano, cerca de 85 por cento dos animais desta espécie. 
À TSF, o porta-voz da associação explicou que o "maçarico-de-bico-direito passa o Inverno na África Ocidental, perto da Serra Leoa e Guiné, e vem até à Holanda reproduzir-se, passando por Portugal e por Espanha, parando, para 'se reabastecer', digamos assim, perto de Lisboa, nos campos de arroz", detalha Thijs den Otter.
Thijs den Otter acrescenta que a área perto de Lisboa é crucial e se há um problema a meio caminho entre África e a Holanda é grande o risco de consequências graves para o maçarico.
A viagem "tão cansativa para um pássaro tão pequeno" pode ser prejudicada fazendo com que as aves cheguem à Holanda numa fase em que não encontram comida.
Os defensores das aves na Holanda ficaram "chocados" quando souberam que existia o plano para construir o aeroporto no Montijo, um projeto que afetará, acreditam, não apenas os maçaricos como as centenas de milhares de outras aves que passam pela zona.
Sobre o maçarico-de-bico-direito a associação sublinha que "o aeroporto vai perturbá-los, afugentando-os, podendo significar o fim de uma espécie que já está ameaçada": "O estuário do Tejo é essencial para esta ave migrar da África para a Holanda e estes campos de arroz são vitais para a sua sobrevivência".

Como fazer um aeroporto numa zona protegida
Admitindo-se "estupefacta", a associação que defende as aves não percebe como é que o Governo português planeia uma obra destas numa zona que faz parte da Rede Natura 2000, ou seja, uma rede de áreas designadas para conservar os habitats e as espécies selvagens raras, ameaçadas ou vulneráveis na União Europeia, falando-se mesmo num eventual "desastre ecológico".
Os cientistas estimam que entre Janeiro e Fevereiro o Estuário do Tejo seja usado como abrigo e fonte de alimento por cerca de 50 mil maçaricos-de-bico-direito.
Uma das críticas feitas durante a participação pública sobre o Estudo de Impacto Ambiental do novo aeroporto sublinha que "podem existir conflitos nas aproximações pelo cone norte e descolagens para norte, face à existência de várias concentrações de aves acima dos 10 mil indivíduos na trajetória de voo das aeronaves, apenas a dois mil pés de altitude". "A maioria dessas aves", salienta-se, "são maçaricos-de-bico-direito que voam frequentemente a alturas muito superiores a dois mil pés".

"Os pássaros não são estúpidos" diz secretário de estado
A construção do aeroporto do Montijo tem gerado alguma controvérsia, colocando o Governo e os ambientalistas frente a frente. O secretário de Estado adjunto e das Comunicações, Alberto Souto de Miranda, apontou, num artigo de opinião no jornal ‘Público’, os sete elementos pelos quais o Montijo deve ser considerado como “uma opção de futuro”, sendo que os pássaros da zona “não são estúpidos e é provável que se adaptem”.
O estudo de impacto ambiental realizado para saber se seria seguro fazer o segundo aeroporto na zona sul do Tejo apontou que as aves estariam em risco, embora tenha oferecido medidas alternativas para que estas não fossem tão afetadas pelos motores das aeronaves em circulação.
No sexto ponto da sua opinião, Alberto Souto de Miranda defende que foram confrontados com o risco de desaparecimento dos caranguejos, uma vez que estes circulam de forma lenta. “Um dos riscos do projeto é o da mortandade provável dos ditos que, porque lentos, talvez não consigam fugir a tempo das máquinas…”, lê-se na coluna de opinião do secretário de Estado, acrescentando que aqui “é o princípio da precaução levado ao risível”.
“Mais sério é o bird strike, risco conhecido em vários aeroportos e com medidas mitigadoras em todos. Não há aeroportos sem impactos”, escreve Alberto Souto de Miranda, assumindo que “os caranguejos podem ser lentos, mas não estão em extinção. É um impacto não mitigável”.
Escrevendo ainda sobre as aves afetadas pela construção naquele local, o secretário de Estado escreve que “os pássaros não são estúpidos e é provável que se adaptem”, adiantando que estes devem encontrar outras rotas migratórias como alternativa ao Estuário do Tejo.
No início do texto, o secretário de Estado faz ainda referência ao “grupo de Alverca”, que pretende que o aeroporto seja instalada na zona que dá nome ao grupo, apontando que este mesmo grupo “tem prestado um péssimo serviço ao país” por causar “alarmismo e a ocultação dolosa de verdades técnicas”.
Alberto Souto de Miranda volta a sustentar que “Alverca não é opção. É uma obsessão”. “Confrange-me, sinceramente, até pela admiração que tenho por alguns dos oito subscritores, vê-los a emprestarem o prestígio do seu nome a uma opção flagrantemente falhada pelas mais elementares regras de projeto”, lê-se no texto escrito no ‘Público’.

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