Autarcas de Almada e Seixal solidários com utentes

Fecho da urgência pediátrica noturna no Garcia de Orta é temporário, garante ministra

As urgências pediátricas do Hospital Garcia de Orta, em Almada, estão fechadas durante a noite por tempo indeterminado. O serviço encerra às oito da noite só reabrindo às oito da manhã, todos os dias da semana. Em casos de urgência, as crianças terão que ir para Lisboa, para os Hospitais de Dona Estefânia ou de Santa Maria. Os autarcas de Almada e Seixal mostraram-se solidários com as populações que protestaram junto ao Hospital Garcia de Orta, reafirmando que são precisas "resoluções" para evitar o encerramento da urgência pediátrica.
Crianças sem urgência em Almada todas as noites 

Cerca de 200 utentes estiveram concentrados à porta do Hospital Garcia de Orta, em Almada, exigindo que a urgência pediátrica volte a estar "aberta de noite e dia".  "As nossas crianças têm direito a urgência. Eu tenho netos e, conforme eu, muitas mães têm filhos e temos direito à urgência, não somos nenhum país do terceiro mundo para ir para Lisboa. A senhora ministra não se importa porque tem dinheiro e particulares para ir, mas nós precisamos do Serviço Nacional de Saúde", disse a utente Antónia Paiva, de 58 anos.
Apesar do frio que se faz sentir, perto das oito da noite, de segunda-feira, a população de Almada e Seixal concentrou-se nesta vigília, com velas e cartazes, com frases como "Nem mais de uma hora de urgência encerrada". 
Na quinta-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, confirmou que este serviço iria passar a encerrar todas as noites a partir de hoje, entre as oito da noite e as oito da manhã, apontando como alternativa dois centros de saúde que alargaram o seu horário.
"O que a ministra arranjou para colmatar não é solução. Devem estar abertos, mas uma coisa não substitui a outra porque o serviço de atendimento permanente não é uma urgência pediátrica. Uma análise viral ou bacteriana não pode ser feita num centro de saúde", defendeu a utente Ana Carvalho, de 38 anos.
O mesmo expressou a dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses Zoraima Cruz Prado, advertindo que "não se compara os cuidados de saúde primários com os recursos disponíveis a nível hospitalar", pedindo para a ministra tomar "uma atitude séria que crie as condições para este serviço ser reaberto".
Américo Costa, de 78 anos, encontrava-se na primeira fila deste protesto e, apesar de ter os netos emigrados, afirmou que não é por isso que fica mais descansado, porque esta "não é uma questão pessoal, mas pública".
A vigília foi convocada pela Comissão de Utentes da Saúde do Concelho do Seixal que considera que o Ministério da Saúde "não tomou as medidas suficientes".
Ainda assim, José Lourenço, membro da comissão, espera que a tutela possa reverter esta decisão e reabrir a urgência pediátrica mais cedo do que o previsto, no prazo de seis meses.
"Contamos que sim, porque senão a senhora ministra vai ter um problema e vai ter-nos atrelados durante muito tempo, porque esta vigília é a primeira que faremos", garantiu.
Aliás, os utentes do Seixal consideram já outra ação de luta à porta do Ministério da Saúde, em Lisboa, e, eventualmente, "chegar a Bruxelas, se for necessário". 

Autarcas de Almada e Seixal solidários com utentes 
Os autarcas de Almada e Seixal mostraram-se solidários com as populações que protestaram junto ao Hospital Garcia de Orta, reafirmando que são precisas "resoluções" para evitar o encerramento da urgência pediátrica.
É a minha obrigação enquanto autarca representar as nossas populações, dar voz e ser um rosto a transmitir a ansiedade que esta situação está a criar junto das nossas populações", afirmou a presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros (PS).
A autarca falava à Lusa em frente ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, onde cerca de 200 utentes realizavam uma vigília contra o encerramento noturno da urgência pediátrica, tendo frisado que "é urgente encontrar uma resolução".
"Nós partilhamos com as pessoas uma certa angústia por saber que temos este hospital que é tão importante para esta zona e temos de nos deslocar. Não é por ser em Lisboa, é por saber que as urgências do Barreiro e Setúbal não têm as mesmas valências", declarou a autarca, que também integrou a vigília.
Segundo Inês de Medeiros, a maior preocupação dos habitantes de Almada é que "aconteça alguma coisa" na Ponte 25 de Abril, mas tranquilizou-os ao lembrar que, em caso de urgência, "todas as forças de segurança, proteção civil e bombeiros têm prioridade absoluta de passagem".
Além disso, a presidente da câmara indicou que o serviço de neonatologia e obstetrícia "continua a funcionar normalmente", assim como a urgência geral.
Já o presidente da Câmara do Seixal, Joaquim Santos (CDU), mostrou-se "muito preocupado com a ausência de resposta" para esta urgência pediátrica que é tão "importante" para os concelhos que abrange.
"O que eu espero sinceramente é que não aconteça nenhum caso grave pelo facto de a urgência [pediátrica] do Garcia de Orta estar fechada", referiu o autarca, que marcou presença na vigília, que se iniciou perto das 20 horas, esperançado de que os governantes resolvam a situação mais rápido do que o prazo previsto, de seis meses.
"Estamos aqui obviamente a pressionar, num bom sentido, usando o direito à manifestação e indignação para que os eleitos, os governantes, tomem as decisões necessárias para resolver os problemas. Acredito que o Governo terá de tomar medidas mais cedo do que aquelas que está a prever", considerou.
Inês de Medeiros também garantiu que continuará a intervir junto do Governo, liderado pelo socialista António Costa, para que uma solução seja encontrada, tendo ficado combinado "reuniões regulares" com o Ministério da Saúde para que estejam "a par da evolução", sendo que a próxima acontece no início de Dezembro.

Ministra garante que fecho da urgência é temporário
A ministra da Saúde assegurou que o encerramento à noite da urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta, em Almada, é temporário e que tentará que a situação "dure o menos tempo possível".
"A posição do Hospital Garcia de Orta, sendo um hospital de tampão para a península de Setúbal, é um hospital que tem de ter a urgência noturna aberta", afirmou Marta Temido no âmbito de uma visita ao centro de saúde Rainha Dona Leonor, em Almada, que está aberto até mais tarde para tentar suprir a falta da urgência pediátrica hospitalar.
À chegada ao centro de saúde, onde foi interpelada por utentes sobre a situação do Garcia de Orta, a ministra indicou que o encerramento no período noturno da urgência pediátrica é uma situação que se deseja que se mantenha pelo "menor tempo possível".
Esta situação deve-se à falta de pediatras, que já afeta o hospital há mais de um ano, quando saíram 13 profissionais, e, segundo o Sindicato dos Médicos da Zona Sul, nem o lançamento de concursos foi suficiente para colmatar a carência porque "ninguém concorreu".
Devido à falta de especialistas, a urgência pediátrica daquela unidade hospitalar de Almada começou por fechar todos os fins de semana em Outubro, entre o final de sexta-feira e a manhã de segunda-feira. A partir de hoje, este serviço passa a estar encerrado diariamente no período noturno.

Agência de Notícias com Lusa 
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