Em Setúbal, o choco é aproveitado até ao osso

Projeto inédito valoriza osso do choco para a medicina dentária 

Em Setúbal, a terra do choco frito, professores e alunos do Instituto Politécnico local desenvolveram uma fórmula que aproveita o osso do choco, rico em carbonato de cálcio, para uso na medicina dentária. Material natural e biológico, o osso do choco pode ser transformado e aproveitado, por exemplo, na indústria biomédica, em próteses e na medicina dentária. O projeto HAchoco começou há mais de dois anos e envolve os alunos de engenharia biomédica do Instituto Politécnico de Setúbal. Foi apresentado nesta quarta-feira e "promete" mudar a qualidade de vida das pessoas.  
Investigadores dão nova vida ao osso do choco 

Uma investigação académica inédita apresentada, esta quarta-feira, na Casa da Baía, concluiu que o osso do choco, rico em fosfato de cálcio, pode ser transformado e aproveitado na indústria biomédica, em próteses e na medicina dentária.
E se o osso do choco em vez de deitado para o lixo fosse convertido em matéria-prima para o revestimento de implantes ortopédicos e implantes dentários? Material natural e biológico, o osso do choco pode ser transformado, por meio de um processo químico, em hidroxiapatite, o principal constituinte dos tecidos duros do corpo humano.
É esta a conclusão de um estudo científico aplicado, intitulado HAchoco e elaborado na Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Setúbal, sob a responsabilidade da investigadora e professora de Materiais para Aeronáutica, Biomateriais e Materiais de Reciclagem Mafalda Guedes.
“Conhecemos o choco de diversas formas. Não é só em cima da mesa. Pode ser utilizado como suplemento para pássaros, mas também na área da saúde”, referiu a vereadora das Atividades Económicas, Eugénia Silveira, na sessão Mar à Conversa, promovida pela autarquia no âmbito da marca Setúbal Terra de Peixe.
No trabalho, que contou com o envolvimento do docente do Instituto Superior Técnico Alberto Ferreira e de quatro alunas da licenciatura de Engenharia de Produção e Tecnologia Biomédica do Instituto Politécnico de Setúbal, aplica-se a moagem reativa, que promove reações químicas à temperatura ambiente através da energia fornecida pelo impacto de esferas.
“Este processo de moagem reativa, que pode demorar de trinta minutos a 12 horas, numa velocidade de 200 a 600 rotações por minuto, não é nada complexo e é realizado à temperatura ambiente, sendo, por isso, de baixo custo”, explicou Mafalda Guedes. “Esta transformação já foi realizada também com ovos de galinha e com conchas de ostra”.
Para estudar o poder do osso do choco, a equipa recolheu vários destes moluscos num vendedor do Mercado do Livramento. Concluiu-se também que um osso, que pesa cerca de dez gramas, é possível fabricar quatro gramas de hidroxiapatite, “com elevado valor acrescentado na indústria biomédica”.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, foram descarregadas nas lotas portuguesas, o ano passado, 1018 toneladas de choco, sendo que 172 toneladas pertencem a Setúbal.
A palestra, no âmbito do Mar à Conversa, foi dinamizada com os apoios da Docapesca e da Makro.

Agência de Notícias 
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