Mariscar sem Lixo sensibiliza mariscadores do Sado

Voluntários voltam ao estuário para limpar e sensibilizar mariscadores

Todos os anos, a propósito da sexta-feira santa, as famílias da comunidade piscatória do estuário do Sado reúnem-se para celebrar a ocasião em torno da actividade que as une e que sustenta muitas delas. Este ano, e à semelhança do que aconteceu nos últimos dois, vão contar com a companhia dos “voluntários pelo mar” da Ocean Alive, organização que luta pela eliminação do plástico nos oceanos a nível global. Junto dos mariscadores do Sado, em Setúbal e Alcácer do Sal, vão estar voluntários empenhados em provar que “Mariscar Sem Lixo” é possível. Ao abrigo desta campanha, os participantes propõem-se a sensibilizar directamente os pescadores e a dar continuidade à recolha de lixo existente nas margens do estuário do Sado, de forma a evitar que este chegue ao mar.
Ação de limpeza decorre na sexta-feira 

O estuário do Sado, recebe na sexta-feira a campanha "Mariscar Sem Lixo", destinada a sensibilizar os mariscadores lúdicos para o problema das embalagens de plástico utilizadas na captura do lingueirão. A campanha de sensibilização e de limpeza do rio Sado, a cargo da Ocean Alive, é realizada desde 2016 para "encontrar soluções para o problema das embalagens de sal" que são deixadas na maré pelos mariscadores, "eliminando um comportamento que se arrasta desde os anos 80" do século passado, explicou Raquel Gaspar, cofundadora da Ocean Alive.
A ação de sensibilização, que se realiza na sexta-feira Santa, dia em que é tradição as famílias da comunidade piscatória se reunirem no rio Sado, [em Setúbal e Alcácer do Sal] envolve mais de mil mariscadores lúdicos, oriundos de vários pontos do país, que são alertados para o impacto ambiental da atividade.
Um comportamento que a responsável pela campanha "Mariscar Sem Lixo" garante "estar a mudar", graças a um "trabalho de persistência" de centenas de voluntários, que, todos os anos, se envolvem numa das maiores ações de sensibilização da Ocean Alive.
"Este mar de embalagens de sal que entrava todas as sextas-feiras Santas mudou e notamos que na maior parte dos sítios de mariscagem há uma diminuição muito grande no número de embalagens que são deixadas na maré", referiu.
Outro dos indicadores da diminuição do lixo nas pradarias marinhas é "a redução dos locais na zona do estuário" para realizar as campanhas de sensibilização.
O desafio passa agora "por manter estes comportamentos nos dias chave", porque, "hoje em dia, as pessoas estão muito mais sensíveis à questão do plástico no oceano do que quando começámos esta ação", acrescentou.
"A Ocean Alive tenta, através das Guardiãs do Mar, uma rede de mulheres da comunidade piscatória que sensibiliza diretamente os mariscadores profissionais e lúdicos, estar presente ao longo do ano, sobretudo nas grandes marés, entre a primavera e o outono", sublinhou.
Segundo os promotores, na sexta-feira, a intenção é conseguir o maior número de voluntários para sensibilizar diretamente os mariscadores, entre as 8h30 e as 11h30, e participar na limpeza das margens do estuário, entre as 10h30 e as 13h30.
Na última ação de limpeza, realizada em Março do ano passado, participaram apenas 74 voluntários que sensibilizaram mais de 600 mariscadores e recolheram das margens do rio 3.681 embalagens de sal.
A campanha, que tem como parceiro o Comité Nacional para o Programa Internacional de Geociências da UNESCO, envolveu, ao longo de três anos, mais de 3.440 voluntários, tendo permitido retirar do estuário do Sado, desde 2016, 54 mil embalagens de sal e 48 toneladas de lixo, das quais apenas sete toneladas foram encaminhadas para reciclagem.
No decorrer das últimas iniciativas foram apanhadas 48 toneladas de lixo, um número que não surpreendeu Raquel Gaspar, bióloga e co-fundadora da Ocean Alive. “Nós tínhamos noção que haveria dezenas a centenas de milhares de resíduos deixados ao longo de mais de 30 anos. Encontrámos mesmo invólucros emblemáticos, como os de margarina Planta, da Sumol e de sal Vatel, dos anos 70 e 80”.
Desde 2017, a Ocean Alive é apoiada pela Fundação Oceano Azul e pelo Oceanário de Lisboa para a realização de ações de sensibilização e criação de uma rede de agentes de sensibilização.

Agência de Notícias com Lusa 

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