Criadores de Almada temem perder Ponto de Encontro

Câmara garante haver continuidade apesar do aparecimento da Casa da Dança  

Um espetáculo na Casa da Juventude de Almada - Ponto de Encontro, uma petição e uma intervenção de rua constam das ações a realizar por artistas que querem continuar a usar este espaço municipal, mas temem o protocolo com a Casa da Dança. O município, por seu lado, disse não haver motivo para os receios dos artistas, tendo já renovado todos os protocolos de cedência de continuidade, enquanto para a Casa da Dança está reservada uma sala, "que não está a ser utilizada", e a sala de ensaios, "quando houver espetáculos". Em causa, segundo declarações dos utilizadores do Ponto de Encontro, está a cedência deste espaço, no Ginjal, em Cacilhas, no âmbito do protocolo de colaboração para a criação da Casa da Dança de Almada , estabelecido entre a câmara e a Companhia Paulo Ribeiro - Associação Cultural.
Criação da Casa da Dança assusta criadores locais 

Criadores e companhias que utilizam as instalações da Casa da Juventude de Almada pretendem sensibilizar e chamar a atenção, com o espetáculo e a iniciativa de rua, ainda sem data marcada, e tencionam continuar a questionar Câmara e a Assembleia Municipal de Almada a fim de obterem "respostas claras" sobre se vão poder ou não utilizar aquele espaço.
Segundo estes utilizadores do Ponto de Encontro, a instalação da Casa da Dança irá impossibilitá-los do uso do espaço.
Para eles, como disseram à agência Lusa, o protocolo assinado em Fevereiro entre a autarquia local e a companhia de dança de Paulo Ribeiro cede todo o edifício para a instalação da Casa da Dança.
Opinião contrária tem a presidente da autarquia local e vereadora da Cultura, Inês de Medeiros, que, em declarações à Lusa, considerou "uma não polémica" os receios dos artistas.
Segundo a autarca, "dos 12 grupos" que estão de momento a utilizar o espaço, "nove são de cedência de continuidade e todos eles viram os seus protocolos e as suas cedências reafirmadas", enquanto três são pedidos de "utilização pontuais" cuja cedência foi igualmente reafirmada.
Ao referir que a apreciação dos pedidos passa pelos serviços camarários e não pelo executivo, Inês de Medeiros sustentou que todos "os grupos que se têm manifestado" publicamente "não apresentaram qualquer pedido de cedência aos serviços da autarquia".
A autarca acrescentou ainda que Paulo Ribeiro "vai utilizar uma sala [do Ponto de Encontro] que não está a ser utilizada e, quando houver espetáculos, poderá utilizar sala de ensaio" e sobretudo "durante o dia", pelo que se trata de uma cedência "parcial" e não impedirá que seja usado o espaço pelos artistas locais.
A cedência de espaço aos artistas locais não está posta em causa, já que ocorre, na maior parte dos casos, em horário pós-laboral, pelo que não haverá qualquer impedimento para a utilização do espaço por artistas locais, já que tudo "tem que se articular", frisou Inês de Medeiros.
Ressalvando não estarem a trabalhar, de momento, no Ponto de Encontro, a atriz e encenadora Luzia Paramés e o encenador José Vaz, do grupo O Grito, assim como uma responsável da Plateia d'Artes disseram à agência Lusa que o protocolo assinado com Paulo Ribeiro "não tem cláusula alguma" que mencione tratar-se de uma "cedência parcial" do espaço.
"Isso é um argumento que tem sido utilizado pelos responsáveis autárquicos", mas que é "uma falácia", sustentou Luzia Paramés, sublinhando que o protocolo assinado "cede toda a casa".
O protocolo de "Apoio financeiro e logístico para a criação, programação e atividades da Casa da Dança" - em vigor até ao final deste ano com possibilidade de renovação mediante vontade expressa dos dois outorgantes -, e ao qual a Lusa teve acesso, determina a atribuição de 120 mil euros a Paulo Ribeiro, repartidos por três tranches de igual montante (40 mil euros à data da assinatura do protocolo, outro tanto em Junho, e igual quantia em Setembro).
Entre as obrigações de Paulo Ribeiro contam-se "a apresentação de um plano estratégico para a criação da Casa da Dança, a instalação, dinamização e programação do organismo e duas atuações com produções próprias".
No que respeita ao apoio logístico, o documento contempla a "cedência da utilização, a título gratuito, pelo prazo de vigência" do documento, "do espaço denominado 'Ponto de Encontro', sito em Cacilhas".
O Ponto de Encontro está sob a alçada do pelouro da Juventude, a quem os artistas têm de endereçar e fundamentar os pedidos de cedência daquele espaço municipal.

Artistas convidam autarquia a explicar melhor o conceito 
Sem nada que os mova contra a Casa da Dança ou Paulo Ribeiro, os artistas argumentam que, apesar de o espaço funcionar em esquema rotativo, dispõe apenas de uma sala na cave vocacionada para artes plásticas, duas salas com condições mínimas para os criadores trabalharem e um espaço de bar que, por não estar a funcionar, também é utilizado.
Assim, se uma sala é para serviços administrativos e outra para ensaios, não resta espaço para os artistas locais, sublinhou Luzia Paramés, considerando que, no mínimo, a autarquia "está a empurrar com a barriga o problema para a frente".
Inês de Medeiros argumenta que o uso do espaço por parte dos criadores locais é feito, sobretudo, em horário pós-laboral.
Sublinhando estar de momento a trabalhar na outra casa da juventude existente em Almada, conhecida como Casa Amarela, Luzia Paramés considerou que a autarquia devia explicar muito bem o protocolo que assinou de modo a desvanecer os receios dos artistas, e que tal não tem acontecido "de todo".
Toda a situação é, no entanto, de caráter temporário, pois o edifício será demolido no âmbito do já aprovado Plano de Pormenor do Cais do Ginjal.
A presidente da Câmara assegurou, porém, estar já garantida a construção de uma nova casa da juventude um pouco acima do local onde se encontra o Ponto de Encontro, antes de este ser demolido.
Segundo os criadores, perto de 30 artistas utilizam anualmente o Ponto de Encontro de Almada, edifício inaugurado em 1989.

Agência de Notícias com Lusa 

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