Piloto do Montijo apresenta livro sobre aventuras

Elisabete Jacinto, a mulher solitária "num mundo de homens"

Elisabete Jacinto em conjunto como o fotógrafo Jorge Cunha apresentaram o livro ‘Cem Imagens. Algumas Histórias’, que retrata grandes aventuras como o Africa Eco Race. Na obra agora relevada na FNAC do Centro Comercial Colombo, a piloto do Montijo, que se impôs na categoria de camiões da edição deste ano da prova africana, e o fotógrafo que criou a agência AIFA espelham as vivências das provas africanas, como o evento que todos os anos liga Mónaco a Dakar, não faltando mesmo o troféu que Elisabete ganhou nessa prova. Trata-se de uma edição limitada que estará à venda nas livrarias FNAC e Bertrand e cuja receita das vendas reverterá a favor da Associação Humanidades, instituição Particular de Solidariedade Social que apoia jovens mães em situações de risco assim como os seus filhos. 
Elisabete Jacinta conta aventuras em livro 

Este livro resulta da vontade de Elisabete Jacinto contar as histórias por trás do projeto desportivo que vão muito para lá das competições. Através desta compilação de fotos de Jorge Cunha, um dos melhores fotógrafos de ação nacionais, a piloto transporta-nos para o ambiente vivido nas corridas e mostra-nos, com o auxílio das imagens, as experiências que estão por detrás de cada foto.
A piloto e o fotógrafo, que já a acompanha desde o início da sua carreira em África, apresentaram em 2012 a edição limitada do livro ‘Elisabete Jacinto: Dez anos em camião’ como forma de assinalar uma década de carreira ao volante de um camião de competição e lançam agora a sua sequela que junta imagens da equipa tiradas ao longo dos últimos cinco anos.
Para Elisabete Jacinto as fotografias são um elemento essencial na sua atividade desportiva: “As fotos marcaram desde sempre a minha participação nestes ralis em África onde a solidão é uma das principais características. Não só me permitem dar conta da beleza das paisagens por onde passo e que no momento não tenho condições de as ver, como também reviver momentos vividos nas etapas e partilhá-los com as pessoas. As fotos constituíram desde sempre a nossa forma de comunicar os nossos feitos… quaisquer que fossem eles”, referiu Elisabete Jacinto.

"A única coisa que me distingue é que lutei pelos meus sonhos"
A piloto portuguesa Elisabete Jacinto é uma mulher solitária "num mundo de homens", mas espera que a vitória na categoria de camiões da África Eco Race possa quebrar barreiras que as impedem de ganhar espaço" no desporto automóvel.
“Nós, mulheres, precisamos muito de exemplos. (...) Não nasci com dotes especiais, não sou uma supermulher, a única coisa que me distingue é que lutei pelos meus sonhos, pelos meus objetivos, para ultrapassar as minhas limitações”, disse Elisabete Jacinto em entrevista à Lusa.
Ao volante de um MAN, a piloto venceu a classe da prova que ocupou o lugar do Rali Dakar, após a transferência da prova rainha de todo o terreno para a América do Sul: “Não só consegui ser a primeira mulher a ganhar uma categoria do maior rali do mundo, como foi o primeiro português. Várias vezes estivemos à espera que alguns portugueses conseguissem ganhar e estiveram quase, mas eu consegui”.
“O desporto tem sido um mundo de homens ao longo destes anos todos. Uma mulher quando entra, entra num mundo que não é o dela, não foi construído para ela e às vezes não é aceite da melhor forma. Existem imensos obstáculos, imensas pequenas barreiras que as impedem de ganhar espaço”, observou.
No próximo ano, quando regressar às dunas do norte de África, talvez Elisabete Jacinto já não se depare com a mesma resistência por parte de alguns concorrentes que esperam encontrá-la em “última da classificação geral” e até possa desfrutar de mais companhia feminina.
“Ao longo dos anos, nada mudou. Neste rali era a única rapariga de camião. Se, em termos gerais, tem havido um pequeno aumento do número de mulheres a praticar desporto, em Portugal o número é baixíssimo, é um dos mais baixos da Europa e nestas modalidades que são ditas masculinas o número ainda é mais baixo. Poucos progressos fizemos ao longo destes anos e acho que há necessidade de tomar medidas”, lamentou.

Das motos ao camião até à vitória final

Aos 54 anos, a piloto natural do Montijo atingiu o ponto mais alto da carreira, ainda que “o nome África Race não tenha a notoriedade que tem o nome Dakar”, apesar de ser, “exatamente a mesma corrida, a mesma extensão, o mesmo percurso e o mesmo grau de dificuldade”.
“É aquilo que era o Dakar. (...) É a corrida em que participam mais equipas, em que a competitividade é maior e aquela em que temos de estar bem preparados e ter uma força enorme para vencer todos os limites. O facto de ter conseguido ganhar esta corrida, que é a maior de todas, que é a mais difícil, que é o maior desafio, constitui o maior de todos os troféus. Era aqui que queria chegar”, declarou.
Para o sucesso que falhou por pouco em 2011 e 2012, quando terminou no segundo lugar da categoria de camiões, contribuíram três fatores: a troca de amortecedores, o aumento de potência do motor, e, acima de tudo, a compra de jantes de alumínio, que lhe permitiu ficar menos vezes atolada. “O que fez a diferença deste ano para os outros foi o facto de não estar horas a escavar para tirar o camião dos sítios”.
Para Elisabete Jacinto, “a prova que hoje em dia se realiza na América latina é completamente diferente do Dakar”, pois “as condições de vida duras de África não existem na América latina”, o que faz com que a corrida sul-americana já não seja “a prova aventura” que caracterizou o Dakar durante décadas.
A recente vencedora da África Eco Race entrou tarde no mundo dos desportos motorizados e a primeira competição que disputou, na serra de Grândola, terminou com uma queda, mas com a certeza de ter encontrado o seu desporto de eleição: “Se fossem perguntar naquela prova quem era a pessoa mais feliz não era o rapaz que tinha ganhado, era eu que tinha desistido”.
“Nunca me senti reconhecida enquanto piloto de motos. (...) Deixei a competição com algum sentimento de frustração e a ideia do camião aparece como uma substituição, para tentar fazer com o camião o que não tinha conseguido fazer com a mota. A minha meta era ganhar corridas e acabar no pódio”, explicou.
A estreia no Dakar ao volante de um camião também não foi promissora. Elisabete Jacinto tirou a carta e três meses depois já percorria os trilhos africanos: 
“Tinha tudo, menos o conhecimento para fazer a prova. Correu muito mal, foi uma história incrível de princípio ao fim, mas vim de lá com a certeza de que com um bom camião e uma boa equipa era capaz de fazer bons resultados”. E fez.

Agência de Notícias

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